Obras públicas, sem manutenção, são riscos permanentes de acidentes em Itabira

Não são apenas passeios públicos esburacados, ou até mesmo inexistentes, que ameaçam machucar incautos pedestres em Itabira. Isso existe por toda a cidade, mas não é o que mais preocupa quando se pensa em acidentes de maior proporção.

O que mais deveria preocupar a população, e principalmente as autoridades municipais, são as obras de engenharia, construídas há décadas – e que não passam por vistorias. Em decorrência, ficam sem manutenção, com risco de sofrer colapsos diversos e desmoronar.

Como bem lembrou a aposentada Maria José Araújo, moradora da Vila Conceição do Meio, “toda obra envelhece e morre mais cedo se não tiver manutenção”, disse ela, referindo-se, no caso, aos trágicos e criminosos rompimentos de barragens em Minas Gerais, com centenas de mortes em Mariana e Brumadinho.

Viaduto do Alto Pereira: ferragem exposta e enferrujada (Fotos: Carlos Cruz)

Um exemplo de obra que está a exigir uma urgente vistoria é o viaduto do Alto Pereira, construído no segundo governo do prefeito Daniel Grisolia (1967/70).

Conforme conta o secretário de Obras, Ronaldo Pires Lott, o reboco e o cimento que cobre a armação do viaduto estão se soltando em decorrência de infiltrações da água de chuva.

Com isso, o ferro da armação está corroído pela ferrugem, o que é visível sem ser preciso um olhar técnico. “É uma estrutura que exige atenção, mas para este ano não temos verba de custeio para fazer um reparo definitivo”, afirma o secretário, que explica: “O cimento protege a ferragem. Inexistindo essa proteção, a estrutura se deteriora e pode acarretar um desmoronamento“.

De acordo com Lott, a Prefeitura não dispõe de verba no orçamento para o custeio dessas vistorias neste ano.  “Vou propor que (a verba de manutenção) seja incluída para o próximo ano, com a melhoria da arrecadação”, comprometeu-se o secretário, reconhecendo a urgência de se fazer essas vistorias – e as correções estruturais necessárias.

Vistorias 

Pedaço do balaústre se soltou e quebrou banco da praça Joaquim Pedro Rosa. Prefeitura fez reparo “meia colher” no local

Ronaldo Lott, porém, sustenta que não há risco iminente de queda do viaduto, mas reconhece que é preciso avaliar com precisão como estão as condições estruturais dessa obra urbana, assim como também de todas as outras obras antigas na cidade – e que nunca passaram por vistorias técnicas de suas estruturas.

No país não existe uma cultura de prevenção – torce-se para que o pior não aconteça, até que vire crime, homicídios coletivos como os que vitimaram trabalhadores, moradores e turistas nas cidades mineiras de Brumadinho e antes em Mariana. “Infelizmente a engenharia de diagnóstico, que é preventiva, não acontece no país. Em Itabira não é diferente.”

Consequentemente, não existe registro na Secretaria de Obras de vistoria cautelar dessas estruturas, sejam elas de pequeno, médio ou de maior impacto. “O que ocorre é uma correção pontual, quando acontece alguma ruptura”, afirma o secretário.

A vistoria preventiva é imprescindível até mesmo para evitar que pequenos acidentes aconteçam. É o que poderia ter ocorrido com o rompimento de parte de um “guarda-corpo” na praça Joaquim Pedro Rosa, que caiu sobre um banco, que se quebrou.

Na rua Coronel Linhares o guarda-corpo já se encontra inclinado. A Prefeitura fez uma “amarração” com cintas de aço, mas perigo persiste

Se o pedaço do balaústre que se soltou caísse sobre alguém que estivesse sentado no banco da praça, pelo seu peso e tamanho, poderia ser fatal.

Mais à frente, no entorno da Catedral, outros sinais de deterioração são evidentes, como na rua Coronel Linhares Guerra. Lá também o guarda-corpo está perdendo suporte.

Para conter a inclinação, no governo passado, a Prefeitura fez um serviço de contenção, com cintas de aço, um paliativo, quando deveria ter sido refeito os pilares de contenção.

Com infiltração da água de chuva, uma hora o guarda-corpo pode ceder e provocar acidente grave.

Rua Doutor Guerra já sofre afundamento em direção ao Clube Atlético Itabirano: muro de contenção está deteriorado

Tudo isso, além de ameaçar a integridade de um conjunto arquitetônico histórico, que remonta à década de 1950, quando foi construído pelo prefeito Luiz Brandão (1950/56). E se o deslizamento do guarda-corpo ocorrer, pode levar junto parte da rua Coronel Linhares.

Situação semelhante, mas por motivo diverso, ocorre na rua Doutor Guerra, onde se observa um ainda leve abatimento da via asfáltica em direção à encosta do clube Atlético Itabirano.

É preciso fazer uma urgente vistoria no muro de contenção, que parece frágil e antigo, construído na década de 1970, devendo estar com o prazo de validade vencido.

Se o muro romper, com certeza, leva junto a rua Doutor Guerra, podendo ameaçar até mesmo a integridade do talude que fica em frente ao cemitério do Cruzeiro.

Prevenir salva vidas e torna mais barata a correção de falhas estruturais

E assim sucessivamente, a partir de um descontraído flâneur pelas ruas e avenidas, como sugere Charles Baudelaire, andando pela cidade a fim de conhecê-la com as suas diferentes realidades, é possível enumerar várias outras obras que demandam urgentes vistorias – e os reparos necessários, desde já, antes que o pior aconteça.

Quem acha que Itabira não tem vegetação na área urbana, engana-se: matagal cresce no canal da Penha, em quase toda a sua extensão, inclusive em frente à Prefeitura

Ronaldo Lott explica que, da mesma forma que a exposição do aço da ferragem ao relento é ameaça à integridade das obras, assim também é o matagal que cresce desmesuradamente no canal da Penha (que os desinformados da história de Itabira chamam de canal da Praia) – e que ameaça deslocar com as suas raízes as pedras argamassadas que compõem as paredes laterais.

É importante ressaltar que o canal foi construído sobre rejeito de minério que descia da mina Cauê, assoreando o córrego numa faixa que se estende para além do bairro da Praia. Como hoje tragicamente e criminosamente se sabe, rejeito de minério se move, provocando mortes e destruição por onde passa.

Placa se solta no canal da Penha, perto da ponte do Aprígio – e por lá permanece desde o início do atual governo

Mais adiante, já quase na ponte do Aprígio, uma placa de cimento da parede do canal se deslocou, tombando-se ao chão – e desde o início da atual administração lá permanece sobre o córrego.

E é assim, com uma pedra de enrocamento que é deslocada, ou uma placa de muro que se solta, que ocorre de se levar toda a estrutura ao colapso. Daí que quanto mais cedo se corrige um problema, menor será o dano decorrente.

“Ficamos preocupados com as barragens da Vale e estamos nos esquecendo das estruturas antigas existentes na cidade”, volta a admitir o secretário de Obras, que é especializado em engenharia de diagnósticos, um ramo que se dedica basicamente à prevenção.

João Pinheiro

Galerias da avenida João Pinheiro nunca foram vistoriadas e não se sabe o que ocorre por debaixo, inclusive com a sujeira acumulada

Ciente da necessidade de vistoriar todas as obras na cidade (pontes, viadutos, canais, muros), Ronaldo Lott diz que pretende contratar uma vistoria técnica, assim que obter os recursos orçamentários, para fazer uma varredura no canal do córrego da Água Santa, que corre debaixo da avenida João Pinheiro.

Construída pelo prefeito Li Guerra (1993/96), com o modelo de canal fechado que já não é mais licenciado pelos órgãos ambientais, essa importante obra viária, com as suas galerias subterrâneas, nunca passou por uma vistoria técnica.

“É um monitoramento que tem de ser feito com acesso ao canal, utilizando-se de equipamentos especiais de proteção e também para fazer o diagnóstico”, explica o secretário de Obras, que cita casos de afundamento de canais em diversas partes do país, com mortes e sérios danos urbanos. “É uma possibilidade que ninguém deseja, mas que pode ocorrer em Itabira.”

Outras obras

Existem no município outros canais, muros e viadutos que precisam ser urgentemente vistoriados. Inclusive aqueles que são de responsabilidade da Vale. São viadutos sobre a linha férrea e muros atirantados, como o existente abaixo da ferrovia, na avenida João Soares da Silva, que liga o centro da cidade ao bairro Campestre.

Muro atirantado no beco do Caixão é outra obra que nunca foi tecnicamente vistoriada

Esses muros, teoricamente, são mais seguros, mas devem ser vistoriados permanentemente, conforme recomenda norma do CREA. Se a Vale faz o monitoramento de suas estruturas existentes no perímetro urbano, não se sabe. O que se sabe é que a Prefeitura não faz a necessária vistoria das obras que são de sua responsabilidade.

É o caso, por exemplo, do muro que segura o beco do Caixão – e que liga a Tiradentes à rua Irmãos de Caux. Na década de 1980, uma forte erosão corroeu o beco, ameaçando levar junto parte da rua Tiradentes com seu casario histórico.

Foi quando a Prefeitura construiu o muro para conter a encosta, na administração do prefeito Jairo de Magalhães Alves (1978-82). “Por lei, um muro atirantado deve ser vistoriado a cada cinco anos. Mas isso não ocorre em Itabira, infelizmente”, lamenta o secretário de Obras.

Esses muros atirantados aparentemente estão seguros – e nada, visualmente, indica que apresentam alguma deterioração. Mas também, visualmente, as barragens que se romperam em Mariana e Brumadinho eram seguras.  Só que elas nada tinham de seguras, como as duas últimas tragédias tristemente demonstraram.

Portanto, a prevenção salva vidas e torna mais barata à recuperação do que está sendo deteriorado. Que Itabira faça as vistorias necessárias, em todas as suas obras, enquanto ainda dispõe dos recursos da mineração que acabam, pelo menos no montante atual, em 2028 com a exaustão de suas minas.

 

 

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4 Comentários

  1. Aqui no Rio a desordem – segundo Alceu Amoroso Lima, quando se fala em ordem é porque a desordem já está implantada -, buracos nas calçadas, catinga de urina, lixo e toda sorte obra pública estão uma espelunca. O que significa que o brasileiro vota na destruição. LULA LIVRE! LULA INOCENTE!

  2. Certa vez atendente um chamado para vistoriar o Banco do Brasil que reclamaram de um afundamento na rua Tiradentes, centro da cidade, verifiquei que realmente que era verdadeiro. Havia no entorno da região um recalque e que de certa forma mostrava sinal de que algo não estava bem. Ao lado Fototica Hollywood padecia da mesma patologia. Trincas e o muro divisório com a Caixa Econômica Federal apresentava vários problemas estruturais. No prédio onde funciona um horto Fruti, também apresentava rachaduras e afundamento do piso. Fiz o levantamento e encaminhei o laudo a Caixa Econômica Federal, ao Banco do Brasil. Parecia que o muro de contenção feito para contenção e divisório da Caixa com os referidos limites é que estava causando a fissura no terreno. Infiltrações eram visíveis. Resultado de tudo isso foi a reforma que fizeram na Caixa Econômica Federal visando corrigir todos os problemas oriundos. Um detalhe: muro atirantado divisório entre Caixa, BB e Fototica Hollywood era o causador de todos os problemas que atingiram a rua Tiradentes. Sebastião Ayres, então secretário de obras da PMI fez a comunicação.

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