O que o filme Ainda Estou Aqui ensina sobre comunicação e oratória
Foto: Divulgação
A obra de Walter Salles, que concorre ao Oscar, transcende a temática histórica e pode ser comparada a um estudo sobre o poder da comunicação
O filme brasileiro Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e indicado ao Oscar de Melhor Filme, a maior categoria da premiação, apresenta uma narrativa intensa sobre memória, resistência e justiça.
A história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, consiste na luta para esclarecer o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar. Ao longo dessa trajetória, a obra evidencia aspectos fundamentais da comunicação e da oratória e reforça como o poder da palavra também é uma ferramenta de mobilização, resistência e enfrentamento.
A construção da protagonista revela a importância da articulação direta e precisa na fala. Eunice precisa se expressar com clareza para ser ouvida em meio a um cenário de censura e incerteza e é justamente sua capacidade de argumentar de forma coerente que deixa clara a necessidade de uma comunicação eficiente, especialmente quando as verdades são incômodas.
De acordo com Giovanni Begossi, especialista em comunicação e oratória com 15 anos de estudos dedicados ao assunto, cada diálogo do filme carrega um peso estratégico que reforça o quanto uma mensagem bem estruturada pode ultrapassar barreiras e alcançar diferentes interlocutores ou resultados.
“A Eunice atuava como uma espécie de advogada em busca de Justiça e reparação por tudo o que seu marido e sua família sofreram. E sabemos que um advogado, além dos conhecimentos técnicos, precisa ter habilidades de comunicação para convencer o magistrado, construir raciocínios sólidos, persuasivos e bem fundamentados, isso é indispensável quando se prepara uma defesa”, pontua Giovanni, que também é advogado.
Outro elemento central do filme é a escuta ativa, habilidade essencial para compreender contextos e interpretar informações além do que é explicitamente dito. A protagonista se depara com verdades fragmentadas e silêncios que falam tanto quanto palavras e se vê obrigada a captar nuances e ler nas entrelinhas, demonstrando como a escuta atenta pode ser tão decisiva quanto a fala na construção de diálogos efetivos.
Outro papel importante na narrativa e na maneira como a protagonista se comunica está relacionado à emoção. O longa mostra que o impacto de um discurso não depende apenas da racionalidade, mas também da forma como os sentimentos são transmitidos.
A dor, a indignação e a determinação de Eunice dão força às suas palavras, tornando sua busca ainda mais contundente. “Esse aspecto reforça a importância de equilibrar emoção e objetividade na criação de discursos mais persuasivos”, explica Giovanni.
O especialista que possui o maior perfil de oratória da América Latina no Instagram, com 2 milhões de seguidores, encerra destacando a persistência como um elemento essencial da comunicação.
“O filme retrata como a repetição de uma mensagem, aliada à convicção de quem a transmite, pode quebrar barreiras e provocar mudanças. Essa lição vale tanto para o cinema quanto para a realidade e mostra que a oratória não se resume a técnicas, mas também à força de quem sustenta a palavra”, afirma.