O mundo vasto mundo de CDA – XII

CDA em 1982. Foto: Rogério Reis Tyba

Pesquisa e acervo:
Cristina Silveira

1957 – Entre as criações da maturidade de CDA, lembre-se o poema de sabor arcaico Os Bens e o Sangue, que é uma crônica no sentido mais lídimo deste termo, condicionada a um ritmo poético de extraordinário poder sugestivo e musical.

Em suma a arte de CDA, encarada por esse aspecto, é o mais incisivo testemunho de que o influxo do jornalismo sobre a poesia representa um poderoso fertilizador. A poesia e a crônica, de Eugenio Gomes. Correio da Manhã (RJ), 30/11/57.

Às duas horas da tarde deste nove de agosto de 1847

nesta fazenda do Tanque e em dez outras casas de rei, q não de valete,

em Itabira Ferros Guanhães Cocais Joanesia Capão

diante do estrume em q se movem nossos escravos, e da viração

perfumada dos cafezais q trança na palma dos coqueiros

fiéis servidores de nossa paisagem e de nossos fins primeiros,

deliberamos vender, como de fato vendemos, cedendo posse jus e domínio

e abrangendo desde os engenhos de secar areia até o ouro mais fino,

nossas lavras mto nossas por herança de nossos pais e sogros bem amados

q dormem na paz de Deus entre santas e santos martirizados.

Por isso neste papel azul Bath escrevemos com a nossa melhor letra

estes nomes c] em qualquer tempo desafiarão tramóia trapaça e treta:

ESMERIL PISSARRÃO

CANDONGA CONCEIÇÃO

E tudo damos por vendido ao compadre e nosso amigo

o snr Raimundo Procópio

e a d. Maria Narcisa sua mulher, e o q não for vendido, por alborque

de nossa mão passará, e trocaremos lavras por matas,

lavras por títulos, lavras por mulas, lavras por mulatas e arreatas,

que trocar é nosso fraco e lucrar é nosso forte. Mas fique esclarecido:

somos levados menos por gosto do sempre negócio q no sentido

de nossa remota descendência ainda mal debuxada no longe dos serros.

De nossa mente lavamos o ouro como de nossa alma um dia os erros

se lavarão na pia da penitência. E filhos netos bisnetos

tataranetos despojados dos bens mais sólidos e

[rutilantes, portanto os mais completos

irão tomando a pouco e pouco desapego de toda fortuna

e concentrando seu fervor numa riqueza só, abstrata e una.

LAVRA DA PACIÊNCIA

LAVRINHA DE CUBAS

ITABIRUÇU

1958 – Leituras e releitura. Versos de CDA para o começo do ano: Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Coluna Livros e Escritores de José Condé. Correio da Manhã (RJ), 8/1/58.

Biblioteca Nacional do Chile

1958 – Doze contistas brasileiros no Chile. Selecionados e traduzidos por Elena Sugg de Tangol, as edições Flor Nacional de Santiago do Chile, publicam Doce Cuentos Brasileños.

São os seguintes os autores que figuram no volume: CDA, Lia Correa Dutra, Oswaldo Alves, Eliezer Burlá, Milton Pedrosa, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Miécio Tati, Orígines Lessa, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Breno Accioly e, José Condé. Coluna Livros e Escritores de José Condé. Correio da Manhã (RJ), 14/1/58.

1958 – Notícias em Claro e Negrito. Sexta-feira próxima, o Circulo dos Amigos da Arte vai apresentar o grupo dos Desconhecidos que interpretará vários seguintes contos, entre eles Sociedade de CDA. Coluna Livros e Escritores de José Condé. Correio da Manhã (RJ), 15/1/58.

1958 – CDA colabora com a edição especial da revista Leitura, dedicada ao carnaval. Correio da Manhã (RJ), 14/2/58.

Francisco de Paula Brito (1809-1861)

1958 – Fala Amendoeira de CDA, ganha, na categoria de crônica, o Prêmio Paula Brito, instituído pela Biblioteca Municipal. Jornal do Brasil (RJ), 15/1/58.

1958 – Apresentação de Os Desconhecidos na Livraria São José. Os Desconhecidos são três rapazes e uma jovem (Edgar Ribeiro, Amauri Simas, Durval Barroso e a estudante de ballet Doris Alencar). O recital desta tarde durará 45 minutos e constará de vários contos, de CDA representarão Sociedade. Correio da Manhã (RJ), 30/1/58.

Manuel Graña Stecheverry (1916-2015)

 1958 – Esteve no Rio durante alguns dias o escritor argentino Manuel Graña Stecheverry, figura muito conhecida nos meios intelectuais portenhos. É ele autor de uma sátira La Poesia Hede, tendo traduzido para o castelhano e publicado sob o titulo Dos Poemas, os poemas de CDA La Maquina del Mundo e La Mesa.

E pretende, sob os auspícios do Instituto Nacional do Livro, lançar na Argentina uma tradução de Várias Histórias, de Machado de Assis, na qual está trabalhando. Manuel Graña é casado com a escritora Maria Julieta, filha de CDA. Correio da Manhã (RJ), 31/1/58.

1958 – Carnaval e Literatura. Leitura está circulando com um numero dedicado ao carnaval – numero antológico, pois enfeixa velhas e novas páginas de escritores mortos e vivos, entre os vivos está CDA. Coluna Escritores e Livros, de José Condé. Correio da Manhã, 14/2/58.

1958 – O negócio é o seguinte. O poeta Van Jafa (autor de Menino ou Anjo) vai agora publicar um livro de crônicas que intitulou por conselho de CDA de O Negócio é o Seguinte: Crônicas Van Jafa. – Será o meu primeiro Sputnik de 1958, declarou o poeta a este colunista. Coluna Escritores e Livros, de José Condé. Correio da Manhã, 28/2/58.

Correio da Manhã (RJ) 1/3/1958.
Múcio Leão (1898-1969)

1958 – Múcio Leão sobre Fala Amendoeira de CDA: uma poesia não raro ácida, de um esgar triste, como é tantas vezes como a do sr. CDA. Estou a me lembrar, por exemplo, das páginas comovidas em que ele celebra ou evoca os netinhos, e especialmente o seu predileto Carlos Manuel. Jornal do Brasil (RJ), 20/3/58.

Lupe Cotrim Garaude (1933-1970)

1958 – CDA é o maior poeta brasileiro de todos os tempos, declara a poeta Lupe Cotrim Garaude (1933-1970). Coluna Escritores e Livros de José Condé. Correio da Manhã (RJ), 23/3/58.

1958 – CDA entre as páginas colhidas para a edição das Obras Primas da Novela Brasileira, edição da Livraria Martins. Seleção, introdução e notas de Raimundo Menezes e Fernando de Barros Martins. Coluna Escritores e Livros de José Condé. Correio da Manhã (RJ), 28/3/58.

Eugene O’Neill (1888-1953)

1958 – Teatro. Ronda. CDA escreveu domingo ultimo, sobre a peça de O’Neil, que o Teatro Cacilda Becker representará no Dulcina quando O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna o consentir. Isso quer dizer que tão cedo tal não acontecerá. Correio da Manhã (RJ), 16/4/58.

Candido Portinari. Painel de Portinari na Igreja de São Francisco de Assis, Pampulha, BH

1958 – Portinari no Museu de Arte Moderna. Ao mesmo tempo em que se inaugurava a mostra de desenhos e óleos, era lançado o álbum Israel, desenhos de Candido Portinari prefaciado pelo ministro de Israel no Brasil. Entre as pessoas que subiram a rampa do MAM estavam CDA e Manuel Bandeira. Correio da Manhã (RJ), 24/4/58.

Molière de Nicolas Mignard (1622-1673)

1958 – É de CDA a tradução da peça As trapaças de Scapino, de Molière, que o Teatro da Praça vai encenar. Correio da Manhã (RJ), 27/4/58.

Machado de Assis: o real (preto) e o imaginado pela ABL (branco)

1958 – CDA participa da criação da SAMA-Sociedade dos Amigos de Machado de Assis, iniciativa da Livraria São José (Carlos Ribeiro), para reverenciar a memória do Bruxo do Cosme Velho, célebre personagem literária criada por CDA. Jornal do Brasil (RJ), 4/5/58.

Affonso Ávila (1928 – 2012)

1958 – Affonso Ávila: Nenhum poeta mineiro terá sofrido em suas criações influencia telúrica tão profunda como a que se pode constatar na poesia de CDA. Correio da Manhã (RJ), 10/5/58.

1958 – CDA prefaciou o livro, Literatura Dissipada, do poeta e tradutor Atillio Milano (1897-1955), fundador da Academia Carioca de Literatura. Correio da Manhã (RJ), 25/5/58.

Livraria S. José. Acervo Jornal Estado de Minas.

1958 – Cadeiras na Livraria. A Livraria São José está apresentando nova fisionomia, facultando maior espaço para a entrada de seus frequentadores. Carlos Ribeiro, “o velho mercador de livros” e grande incentivador de nossa vida literária, favorece também com algumas cadeiras o cavaco cotidiano de CDA, Augusto Meyer, Jayme Adour da Câmara e de tantos outros que ali aparecem habitualmente, José Condé. Correio da Manhã (RJ), 29/5/58.

1958 – Apontamento literário, de José Condé. Reflexão de CDA em Passeios na Ilha: No Brasil, a glória começa com a violação do sigilo epistolar. Lemos amanhã nos jornais a carta que mandamos hoje ao moço escritor. Correio da Manhã (RJ), 12/6/58.

Yara Sales (1912-1986), foto de 1958.

1958 – Yara Salles volta ao Teatro Dulcina como interprete da poesia de CDA. Correio da Manhã (RJ), 15/6/58.

Rachel de Queiroz (1910–2003), Estampada em um selo sérvio. O texto no topo diz Emissão conjunta Sérvia–Brasil Literatura

1958 – CDA faz parte da Comissão Organizadora, da Academia Brasileira de Letras   Escritores apoiam jantar a Raquel de Queiroz pelo Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. CDA é parte da Comissão Organizadora. Jornal do Brasil (RJ), 15/6/58.

1958 – CDA recebe o Prêmio de Poesia pela Comissão Julgadora dos Prêmios de Música e Literatura, instituído pela Prefeitura do Rio. Jornal do Brasil (RJ), 26/6/58.

Biblioteca Nacional do Uruguay

1958 – Literatura brasileira no Uruguai. O jornalista e editor Paulo Terdimann, dono da Livraria Monteiro Lobato, em Montevidéu, diz que entre os modernistas, CDA é o mais vendido em sua livraria especializada em livros de escritores brasileiros. Correio da Manhã (RJ), 28/6/58.

Adriano Reys (1933-2011) e Fernando Pessoa (1888-1935)

1958 – O ator Adriano Reis, sobre um instante em que pensou em abandonar a carreira – Houve um instante que pensei em abandonar a carreira, mas salvaram-me CDA e Fernando Pessoa. Correio da Manhã (RJ), 6/7/58.

Lygia Fagundes Telles e Manuel Bandeira, em 1955. Acervo IMS

1958 – Manuel Bandeira. Uma das mais belas edições já feitas neste país é, fora de dúvida, o volume com que o famoso editor espanhol José Aguilar dá inicio a suas atividades entre nós, apresentando a Biblioteca Luso-Brasileira (série brasileira): Manuel Bandeira: Poesia e Prosa – volume I -, contendo toda a obra poética do autor de Estrela da Manhã, poemas traduzidos e poemas musicados.

São mil e duzentas páginas impressas em papel bíblia, fartamente ilustradas. Características do livro: introdução – Sérgio Buarque de Holanda e Francisco de Assis Barbosa, Paulo Mendes Campos, Sousa Rocha, Onestaldo de Pennafort; Notas preliminares:  CDA, João Ribeiro, Alceu Amoroso Lima, Antonio Olinto, Mário de Andrade, Múcio Leão, Wilson Castelo Branco, Sérgio Milliet, Fernando Góis e Lêdo Ivo.

A Biblioteca Luso-Brasileira está sendo editada sob a direção literária do crítico Afrânio Coutinho, com colaboração, em Portugal, do crítico João Gaspar Simões.

Os próximos volumes programados: Cornélio Penna, Romances Completos, em um volume com sessenta e três ilustrações e uma gravura fora do texto. Correio da Manhã (RJ), 13/7/58.

1958 – Volta o Estúdio 53. Fundado em 1953, o grupo encenou, entre outros autores brasileiros, originais de CDA (Caso do Vestido), Francisco Pereira da Silva, Silveira Sampaio, revelando atores, atrizes e um diretor. Correio da Manhã (RJ), 16/7/58.

 

 

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