O mundo vasto mundo de CDA – VII –
Paschoal Carlos Magno (1906-1980), fundador do Teatro do Estudante
Pesquisa e acervo: Cristina Silveira
1951 – Silvia Orthof e Silvia Pereira apresentam, no Teatro do Estudante, peça com texto de vários escritores, entre eles Quadrilha, de CDA. Correio da Manhã (RJ), 28/8/51.
1951 – CDA estreia como prosador. Maestria de aprendiz. A novidade brasileira de maior repercussão no momento é o novo volume de CDA, Contos de Aprendiz. A coletânea contém uma novela O Gerente, e doze narrativas menores; o conjunto completa harmoniosamente a obra do poeta, um dos maiores e talvez o mais original que o Brasil já teve. Correio da Manhã (RJ), 13/5/51
1951 – O.M.C. anuncia 50 anos de CDA. Correio da Manhã (RJ), 1/9/51.
1951 – CDA responde a O.M.C. sobre o seu aniversário:
Meu caro O.M.C., suas palavras a respeito deste suposto poeta, no “Correio”, de hoje, trazem a marca da generosidade intelectual e do calor humano. Sou lhe muito grato pelo que escreveu, mas estimaria uma retificação.
Infelizmente, ainda não completei 50 anos, embora esteja próximo dessa idade egrégia. Digo infelizmente, por que um dos prazeres da vida é envelhecer, e a natureza, com parcimônia impõe o seu ritmo e esse prazer. Afetuoso abraço, CDA. Registramos com pesar o erro e com alegria o “furo” de ter antecipado uma notícia irrefutavelmente verdadeira. O.M.C. Correio da Manhã (RJ), 2/9/51.
1951 – CDA prestigiou o almoço em homenagem a Álvaro Lins, no restaurante do Correio da Manhã. Correio da Manhã (RJ), 15/12/51.
1952 – Segundo Thiago de Mello, CDA nunca foi a um campo de futebol e tornou-se vascaíno em solidariedade com o cabineiro do MEC, o conhecido Fortunato. Correio da Manhã (RJ), 2/2/52.
1952 – A lancha Petrópolis, da Frota Carioca encalhou nas pedras próximas ao Aeroporto Santos Dumond. Interrogado sobre o acidente, o mestre da lancha explicou parodiando o poeta Drummond de Andrade – Havia umas pedras no meio do caminho… Correio da Manhã (RJ), 28/3/52.
1952 – Poéticas: O itabirano Andrade. O itabirano CDA, quando quer, também sabe ser mau poeta. Vejamos essa composição do gênio de Itabira e das rodas do Vermelhinho.
Anedota Búlgara: Era uma vez um czar naturalista que caçava homens. /Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas /ficou muito espantado e achou uma barbaridade. Espantados, ficamos nós, ó Carlos Drummond. Espantadíssimos, aliás, com essa poesia… A Noite (RJ), 5/3/52.
1952 – Exposição de Goya no Museu de Arte Moderna do Rio estava presente a senhora Dolores Dutra Andrade, mãe de Maria Julieta. Correio da Manhã (RJ), 5/7/52.
1952 – Marita Pinheiro Machado recita poema de CDA no Copacabana Palace. Correio da Manhã (RJ), 10/7/52.
1952 – Os Cadernos de Cultura, edição do MEC, organizada por Simão Leal, publica a crítica, A Literatura em Clarice Lispector, CDA. A Noite (RJ), 29/7/52.
1952 – CDA participa da reunião de instalação da Sociedade Carioca de Escritores, destinada a retornar as atividades da antiga Associação Brasileira de Escritores, hoje convertida em instrumento de agitação comunista. A Noite (RJ), 30/7/52.
1952 – Costa Rego sobre o poema daquela Pedra: “CDA é poeta e notabilizou-se por haver encontrado em seu caminho uma pedra, quer dizer, um obstáculo, uma anormalidade, quem sabe se uma resistência. Tratava-se, vamos supor, do homem, o verdadeiro tropeço deste século”. Correio da Manhã (RJ), 13/8/52.
1952 – A cantora argentina, Berta Singerman inclui em seus programas a poesia de CDA. Correio da Manhã (RJ), 22/10/52.
1952 – No dia 27 de outubro a Câmara Municipal presta homenagem a Graciliano Ramos que completa 60 anos. O autor de Vidas Secas recebeu telegrama assinado pelos escritores, entre eles CDA. Correio da Manhã (RJ), 26/10/52.
1952 – A Faculdade Nacional de Filosofia comemora 150º aniversário de Victor Hugo, CDA fará palestra sobre a obra do francês. Correio da Manhã (RJ), 28/10/52.
1952 – No dia 28 de outubro CDA embarcou para Buenos Aires em visita a filha Maria Julieta. Correio da Manhã (RJ), 29/10/52.
1952 – Ao escrever o poema No Meio do Caminho, CDA estava longe de imaginar que iria provocar tanto barulho. Por causa daquela pedra no meio do caminho recebeu ele telefonemas, desaforos e até ameaças… Houve alguém que lhe sugerisse prender a tal pedra no pescoço e atirar-se ao mar. Correio da Manhã (RJ), 1/11/52.
1952 – CDA torna-se sócio e contribuinte do Museu de Arte Moderna do Rio. Correio da Manhã (RJ), 7/11/52.
1952 – Vende-se poesia no Rio? Altamiro Alves, gerente da Livraria JO, responde: Sim, vende-se poesia. Os mais procurados entre os modernos está CDA. Correio da Manhã (RJ), 7/11/52.
1952 – Qual o fato literário mais importante do ano? Responde Jorge de Lima: Considero o fato mais significativo de 1952 a comemoração do cinquentenário do grande poeta CDA. Correio da Manhã (RJ), 30/12/52.
1953 – Joias da Poesia Mineira, Edições Mantiqueira organizada por Da Costa Santos não inclui CDA, Murilo Mendes e Henriqueta Lisboa. Correio da Manhã (RJ), 23/1/53.
1953 – As Ediciones Cultura Hispanica, de Madri, publica Antologia de la Poesia Brasileña, CDA figura na antologia. Correio da Manhã (RJ), 1/2/53.
1953 – Anúncio: AMÉRICO FACÓ. CDA e outros convidam os parentes e amigos de Américo Facó para a missa que, em sufrágio da sua alma, mandam rezar na igreja Nossa Senhora Mãe dos Homes, à Rua da Alfandega. Correio da Manhã (RJ), 3/2/53.
1953 – Cipriano S. Vitureira, poeta e crítico literário do Uruguai, publicou livro sobre a poesia moderna brasileira analisou a obra de CDA, Cecília Meireles. A Noite (RJ), 15/4/53.
1953 – CDA escreveu poesia para o catálogo da Exposição de Portinari, no MAM-Rio. Correio da Manhã (RJ), 7/5/53.
1953 – Itabira, a do poeta. Foi divulgada uma curiosa confidencia do poeta CDA sobre a sua cidade natal Itabira. Tendo doado alguns livros à municipalidade, encontrou-o mais tarde, encostado num canto, informando-lhe um funcionário que em Itabira não havia leitores. Não podemos deixar de relacionar o fato com o que lemos no semanário A Bruxa, n. 3/7/1896. Descobrimos aí uma nota sobre o pintor Emilio Rouède, que na época da Revolta da Armada transferiu-se para Itabira e lá fundou um ginásio, mas o estabelecimento fracassou logo de inicio, porque “o povo de lá não gosta de ginásios”. Correio da Manhã (RJ), 7/5/53.
1953 – Falamos outro dia de uma conversa do poeta CDA com o jovem escritor Carlos David, na qual o autor de Passeios na Ilha teria afirmado que, oferecendo grande quantidade de livros para se fundar uma biblioteca em Itabira, ao cabo de alguns anos, ao visita a sua cidade natal, encontrara os referidos livros abandonados…o funcionário da Prefeitura acrescentara por sua vez: – Não há leitores em Itabira.
Ontem, num encontro casual com Drummond, ouvimos dele a declaração de que Carlos David não interpretara bem a sua opinião, dizendo-nos:
– Antes de mais nada, a biblioteca não foi iniciativa isolada minha, e sim também de meu primo e amigo Luís Camillo de Oliveira Netto. Eu apenas o secundei. Se a biblioteca hoje não funciona, a verdade é que nem por isso está abandonada num deposito da Prefeitura. Está há tempos numa sala digna, com os livros bem conservados e dentro de armários.
Perguntamos ao poeta por que motivo não funcionava a biblioteca. E ele:
– O problema será o de tantas outras cidades do interior do país, com orçamentos municipais escassos para custear um mínimo de despesa com a manutenção de uma biblioteca municipal. Quanto à inexistência de leitores em Itabira, basta-me lembrar que na casa de meus pais, que não era nenhuma academia, os livros eram encontrados fartamente no começo do século. Um homem do povo, santeiro e pintor de paredes Alfredo Duval, tinha em casa, por sua vez, uma verdadeira biblioteca de romances, que em menino eu ia pedir-lhe emprestado. E se me aprouvesse literatura mais fina, poderia encontra-la na excelente livraria do advogado João de Deus Sampaio [delegado de polícia], que franqueava generosamente suas estantes ao garoto de calças curtas.
Concluindo, disse-nos Drummond:
– Se isso acontecia há quarenta anos atrás, não há motivo para supor que a cidade tenha mudado. E se Emilio Rouède, como lembra a nota do suplemento do Correio, viu malograr-se a iniciativa de um ginásio ali, hoje em dia a cidade possui dois estabelecimentos desse tipo, um deles, de propriedade particular, e ambos de primeira categoria. Com ou sem biblioteca pública, Itabira é mesmo, entre as cidades do interior de Minas, uma das mais fieis à prática do estudo, e ao cultivo, discreto, mas fervoroso, das letras. Correio da Manhã (RJ), 20/5/53.