O grande massacre que não houve
Quando as massas se levantam: e as pancadas de Lula em Moro
Marcelo Procopio*
Assista (mais uma vez, que seja) aos 21 minutos e 47 segundos finais da inquisição imposta a Lula pelo juiz de 1ª Instância, Sérgio Moro, no dia 10 de maio (link abaixo*). É a demonstração definitiva das diferenças abissais entre o Lula tranquilo, mas sempre aquele que já conhecemos, determinado, sem medo de ser. Apesar de toda a pressão tentada por Moro fugindo do script que ele armou ao dividir em duas as investigações sem provas do tríplex fuleiro e o sítio de terceiros.
Os jornais da grande velha mídia da Europa e dos Estados Unidos fizeram jornalismo. O conservador Le Monde, por exemplo, já no título da matéria sobre, fala em show de Lula sobre Moro. Vários outros, como o The Guardian, The Independent, Washington Post, El Pais publicaram fotos simbólicas, além de tudo: Lula chegando para depor com apoio de milhares, e juiz, os convocados do MP e da PF chegando cercado de policiais.
A velha mídia brasileira, destacando Folha, Globo, Estadão, Correio Braziliense, optou por não fazer a leitura correta das mais de quatro horas de inquisição. E tentou vender a ideia de que Lula culpou D. Mariza, quando disse, de passagem, que ela teve algum interesse sobre o imóvel. Como se isso fosse o mais importante.
Na verdade era o que mais poderia comover a turba do ódio e desinformada por indolência cultural.
Só o imóvel era o objeto da questão do dia 10. Mas o juiz, que faz vários papeis, de inquiridor, vazador, julgador, acusador e ainda dará a sentença, passeou pelo tempo, 2005, 2007 etc, com suas perguntas politizadas.
Mas quando concedeu, por direito legal, a palavra a Lula para seu comentário final, o ex-presidente dominou o jogo. Inclusive, impediu que Moro o cortasse, quando tentava dizer que estaria saindo do assunto para falar da parcialidade da mídia, entre outras tentativas de impedi-lo de expor sua fala na totalidade planejada.
Mas tudo muito bem. Ainda tem segundo tempo. Tem prorrogação. Tem 2ª Instância, se houver condenação. Tem STF. Tem o mundo de olho no furacão armado e na absoluta falta de provas contra Lula, futuro candidato.
Lula, como disse o jornalista Luis Nassif, com ajuda da Justiça, Ministério Público, jornais que mentem e direcionam seu apoio à causa Lula Nunca Mais, ganhou um segundo momento para se tornar mito novamente.
Não só para quem o apoia, ou acredita na sua inocência, mas também entre seus mais ferrenhos inimigos, mesmo os idiotas da objetividade descabida, cujo ódio a Lula importa mais que qualquer realidade.
Por exemplo, se temos mesmo uma democracia (hoje temos uma autocracia sob o descomando de Temer e seus comparsas), porque não entrar na política, discutir nos lares, nos bares, nas salas de estar, nas mesas de reuniões de negócios escusos ou não, e apoiar algum político. Ué, mas não sobraram nomes.
O PSDB era a ponta mais sólida para postular a condição de “sou democrata progressista” e liquidificou-se. Hoje até FHC fala em dois inaptos politicamente ordinários: Dória e Huck. É para rir?
E o que fará Moro? Como a mídia, estão todos os pré-julgadores, sem saídas. Difícil mesmo até para fazer gol de honra. Tipo 3×1, aquele famoso placar olímpico. Mas irão continuar condenando Lula. Têm um compromisso com seus leitores, no caso mídia, e com a direita raivosa e os metidos a democratas de visão curta, e Moro com estes mesmo – mais os políticos que esfregam as mãos torcendo, só que aqui chamados fãs.
Sim, não é o “Brasil contra Lula”, como se diz no jargão. É Moro (e a velha mídia) contra Lula. Um contrassenso.
Na noite de terça
Não havia o que comemorar. Havia. A inquisição não tinha argumentação eficiente. Não tinha provas e precisava ter as contundentes. Chegou-se ao ponto de o juiz mostrar um papel sobre o imóvel do Guarujá sem assinatura. E Lula responder, consiga primeiro a assinatura ou indique quem rasurou o documento. – Silêncio.
Sim, claro, os milhares que foram a Curitiba e paranaenses que já estavam lá, para apoiar Lula, comemoraram nas ruas. No discurso de candidato de Lula. Nada mais correto para encerrar feliz aquela jornada política.
O Brasil está de novo inserido no mundo. Viver em democracias burguesas é uma eterna e necessária luta de classes. De outro modo é ditadura, autocracia. Desfaçatez de quem detém o poder econômico.
O Brasil não está mais dormindo. As pessoas, trabalhadores de toda ordem, as que se informam em meios como Globo e afins, não acreditam mais nesses meios de comunicação. Já pensam por conta própria. Reverteram o que foram obrigados a acreditar no massacre midiático contra Lula, até derrubar Dilma.
Há uma coisa que sempre me lembro. De um texto que o psicólogo social da Fafich-UFMG, Romualdo Dâmaso, escreveu para mim, para uma reportagem que estava fazendo para o caderno Fim de Semana do Estado de Minas, sobre comunicação de massas.
Romú, como a gente o chamava, simplesmente extrapolou a encomenda, e emendou um texto espetacular. Basta escrever aqui o título que ele deu ao que escreveu:
A Comunicação de massas x a comunicação das massas.
(É esta última que cada vez mais ganha força no país, finalmente).
Como a mídia Itabirana trata fatos sobre o Brasil
Não trata. Ela se comunica pela internet em blogs, portais e tais e principalmente pelas redes sociais. Mas sempre se fechando em grupos e páginas locais. Municipais. Nem regionais, a maioria não se arrisca.
Não há, portanto, muito o que falar aqui. Neste texto já demasiadamente longo. Só extrapolam quando é algo que mexe muito com todos. Que mexe também dentro das fronteiras itabiranas. Mesmo assim, não se arriscam. Não opinam. Meramente terceirizam as informações. Com ou sem autorização.
Os ditos mais elaborados, diários ou mensais internéticos ou impressos, não fogem do roteiro. E quando há algo próprio, vem de alguém de fora. Geralmente com visão pequena, redutora da realidade.
Mas para que ser ombudsman de poucas linhas? Justo numa hora em que o mais importante é o país.
Ah, sim, é para dizer que Itabira, a ex-Itabira do Matto-Dentro, velha aldeia de Carlos, o Drummond de Andrade, faz parte do Brasil.
Os desavisados precisam saber dessa história. Se precisar, basta consultar a geografia.
*(você pode ouvir a fala final de Lula aqui: http://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-segundo-nascimento-do-mito-lula – no meio do texto tem o vídeo)
1 legenda: “Eu tenho um amigo metalúrgico, doutor Moro, que acho que se o conhecesse não iria gostar dele, que diz sempre: vamos ao principal, porque o secundário não interessa” (Lula)
*Marcelo Procopio é jornalista, editor de O Cometa
Excelente matéria do Marcelo. Infelizmente esta sociedade televisiva e “conduzida” como gado, em que vivemos não sabe pensar. É mais fácil se alienar e repetir. É como o alfabetizado que não sabe redigir, apenas desenha palavras e frases. Enfim, o Dr. Lula deu um banho no “Seu” Mouro.