O dia em que a Vale pediu esmola e implantou um cemitério clandestino
Foto: acervo Mauro Andrade
Aníbal Moura*
Corria o ano de 1966, quando ainda o rebaixamento do lençol freático de Itabira não havia chegado ao caos que aí está (seca)!
Estava eu acabando de fazer mingau de fubá, com mais água do que leite, para evitar desnutrição dos meus filhos, eternas vítimas da minha luta contra a máfia que os itabiranos veneram (CVRD).
Eram mais ou menos sete horas, quando bateu na porta do barraco em que eu morava, hoje onde está a rodoviária. Quem era? Nada menos que o Relações Públicas da Vale. Seu nome? Mauro Tererê!
Não pude mandá-lo entrar, porque sala de visita de barraco é na praça pública. Perguntei-lhe: o que houve, Tererê? “Com a ocorrência da chuva houve um deslizamento de terra e enterraram uns moradores no sopé do pico do Cauê”, foi o que ele me relatou.
São eles, DONA VITÓRIA E TRÊS FILHOS, JOSÉ DIMAS, MANOEL E FILHO, FILHOS DA DONA MARIA.
Então ele me disse: – estamos aqui com você pedindo ajuda de qualquer natureza para as vítimas.
E eu disse-lhe: – Mauro, até que enfim! A Vale veio à minha porta de chapéu nas mãos mendigar uma ajuda para o crime que ela cometeu, quem diria?
Sinceramente, eu acrescentei: Mauro, eu podia imaginar tudo, prisões, ameaça de morte, difamação, calúnias e perseguições de toda natureza, mas essa de a Vale pedir ajuda? Faz-me lembrar o corrido com o mendigo de Madri. E contei-lhe a história:
“Um certo dia, o tal mendigo ao deparar-se com a carruagem do Rei na praça, dela se aproximou. O Rei assustadíssimo, como é natural. Vejam! –Um mendigo aproximar-se da carruagem do Rei Senhor Dono Absoluto da metade do mundo!… Absurdo dos absurdos.
Então sua alteza, perguntou ao mendigo: – o que queres? Quem és tu? Tranquilamente e vagarosamente respondeu o tal mendigo: – de Vossa Majestade nada quero, sou aquele que lho deu o império tão grande e grandioso que Vossa Majestade jamais conhecerá todo ele”.
Igualzinho ao preso na cela nº 7 do DOPS – RJ, que por lá esteve 7 dias no corredor da morte em 1974, com 5 metralhadoras na porta por ordem de um Marechal (de opereta), 2 Generais e 2 Delegados.
Ao ser interrogado, respondeu: -está aqui o telegrama de sua Excelência, o Presidente da República, o General Médici, solicitando-me um relatório do que estava ocorrendo e como ocorre. No ato foi um corre-corre de marechal a furriel.
De lá só saí por causa do telegrama. Nesse furdunço, o Delegado Dr. Rodrigo Freire, disse aos berros: – vou mandar buscar o juiz de direito de Itabira,. E eu, também aos berros e entre as metralhadoras, disse-lhe: – o senhor não vai mandar buscar ninguém, eu roubei este processo (tratava-se de um processo do Fórum de Itabira).
Então são os fatos e atos, que os pressupostos senhores donos da verdade e da razão, prejulgam ser absolutos possuidores, esquecendo eles que há um Senhor superior, infalível julgador e sentenciador, ainda que por linhas tortas que as bestas humanas tentam ignorar.
Esta batata-quente eu mandei por A.R. para o GRUO DOS SETE e para o Vaticano, mandei também para o presidente Sarney, que mandou para o Romeu Tuma, que também mandou para o governador Newton Cardoso e esse a engavetou, segundo Dr. José Maurício Silva, atual vice-prefeito de Itabira.
*Aníbal Moura foi um contestador quase solitário dos desmandos da mineradora Vale em Itabira. Faleceu em 23 de março de 2010.
** Esse texto foi publicado em panfleto distribuído na cidade em maio de 1997, segundo Mauro Moura, filho de Aníbal, logo após Fernando Henrique Cardoso doar a então Companhia Vale do Rio Doce aos financistas globais, entregando de graça a mais preciosa joia do patrimônio público brasileiro.
Tem várias atrocidade que a Vale já fez.
Na década de 60 quando estourou a barragem da Conceição, inundou as fazendas abaixo da barragem corredor dos rejeitos.
Todos que entram contra a Vale para ressarcimento foram perseguido em ITABIRA, como também seus familiares.
Wilson Anatólio
Sim, Sr. Wilson, a comunidade itabirana perdeu o senso do que se pode ou não fazer, pelo simples fato de pensar ter um mero emprego em detrimento de todo o resto.
Alegria, um foto do valoroso companheiro Aníbal. Uma linda foto dele, um lutador resiliente até o fim. Aníbal Mouro não devia ser tratado com folclore – como já me falaram – não, não é; é um corajoso que ousou peitar a CVRD e por isso deixou um bom exemplo: não abaixar nunca a cabeça, sempre altivo e destemido. O “mapa poético da mina do cauê”, desenhado por ele, é exemplo de seu afeto guerreiro. Axé, Aníbal Mouro! Aníbal Moura, Presente Sempre!
No passado, meu saudoso pai, falava às pedras e tendo sido denominado “doido”.
Agora está aí, profecias que pareciam vãs tornaram-se em cruel realidade contra todos.
Passou o tempo, o folclórico transformado em referência histórica contra toda a perda que sofremos por mera exploração de nossos recursos minerais e da natureza perdida.
PRECIOSIDADE DE RELÍQUIA DOCUMENTÁRIA HISTÓRICA CULTURAL DE ITABIRA.
Prezado amigo Dr. José, sabe muito bem do problema causado pela denúncia desta matéria, pois viveu-a in loco.
Grato pela leitura,
Mauro