O cinema perde Jean-Luc Godard, mestre da Nouvelle Vague
Foto: Reprodução/ Rede Brasil Atual
Cinéfilo contumaz em minha juventude assistia três, quatro filmes por final de semana e a Nouvelle Vague era minha paixão
Por Rafael Jasovich*
Jean-Luc Godard, morto aos 91 anos nessa terça-feira (13), deixa uma carreira repleta de obras-primas e mal-entendidos que o tornaram uma lenda durante sua vida.
Cineasta deixa o legado de uma obra tão prolífica quanto multiforme, tendo sido a encarnação das contradições de uma arte em constante busca.
Nascido em Paris em 3 de dezembro de 1930, o diretor franco-suíço teria escolhido morrer por suicídio assistido, o que é permitido na Suíça.
Godard foi o principal criador do revolucionário cinema do novo. Seu primeiro filme, Acossado (1960), inaugurou a era Godard. Foi assim que tudo o que veio a seguir na evolução do cinema passou a ser chamado de pós-Godard.
Ele dirigiu Viver a Vida (1962), Alphaville (1965), Pierrot Le Fou , Weekend (1967), Duas ou Três Coisas que eu Sei Dela, Elogio ao Amor (2000), Adeus à Linguagem (2014) e muitos outros clássicos do cinema.
Liberdade e fraternidade
Conforme acentua o crítico de cinema Eduardo Maretti, da RBA, com estilo fragmentado e não linear característico do cineasta, com o filme Socialismo Godard cria uma discussão sobre o velho continente, uma Europa forjada por sangue e guerras.
A história se passa entre os passageiros de um cruzeiro no Mediterrâneo, ou entre pessoas comuns que vão aparecendo como se já fizessem parte da história desde sempre. Traz para a telona a velha discussão francesa sobre liberdade, igualdade e fraternidade.
“A narrativa se dá em torno do preço que tantos povos pagaram pela liberdade. A Liberdade custa caro, mas não se pode comprá-la com ouro nem com sangue, mas com covardia, prostituição e traição”, ouve-se no filme.
Com o filme Socialismo, o cineasta passa em revista as mazelas e os sofrimentos que viveram Egito, Palestina, Odessa, Hellas (Grécia), Nápoles e Barcelona.
Tem como pano de fundo por trás das imagens que vão se sucedendo como livre-associações, poemas e versos em forma de imagens. “O dinheiro foi inventado para que os homens não se olhem nos olhos”, ouvimos também na narrativa.
A frase é emblemática. Filho de uma rica família de banqueiros suíços, Godard se afastou da vida de fausto que poderia ter tido. Com o salário de um emprego como operário, financiou seu primeiro filme completo, Operation Béton (1958), um documentário.
O que mais comove e fascina em Godard é o cinema como manifestação pura e espontânea, livre das amarras “clássicas” da narrativa, hollywoodiana ou não, despojado, visceral e revolucionário. Sua obra é um contraponto ao estilo mais clássico de François Truffaut na Nouvelle Vague.
Glauber Rocha, outro gênio inquieto do cinema, e contemporâneo de Godard, o brasileiro Glauber Rocha escreveu certa vez, entre os apontamentos que foram reunidos no livro O Século do Cinema: “Você gosta de Jean-Luc Godard? Se não gosta, está por fora.”
Eu adorava.
*Com informações da Rede Brasil Atual.