No Dia internacional dos Povos indígenas, celebrado nesta sexta-feira (9), poucos brasileiros conhecem a realidade dos povos originários
Foto: André Olmos/ Reprodução/ Creative Common
O Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado nesta sexta-feira (9), marca a primeira reunião, em 1982, do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Populações Indígenas. É importante reforçar que a sociedade ocidentalizada tem dívida histórica com as comunidades indígenas no Brasil.
Havia cerca de três milhões de autóctones no litoral quando as caravelas portuguesas aportaram na encosta da Bahia, mais precisamente em Porto Seguro.
Até o século XVIII, essa era a principal mão de obra escrava que foi pregada pelos colonos por quase trezentos anos. Depois, foi a vez dos povos afrodescendentes passarem por esse tipo de exploração.
Mesmo assim, as áreas reservadas aos nativos continuaram se estreitando cada vez mais devido a uma extorsão predatória que recrudesceu em tempos como o da ditadura.
Outro grupo pouco conhecido pela população é o composto por imigrantes que residem atualmente no Brasil. Em 2020, estima-se que o país tenha recebido em território nacional mais de 1 milhão de pessoas vindas do Haiti, Venezuela, Bolívia, Argentina, Colômbia, Peru, China, EUA, Paraguai, Senegal e Uruguai.
O estudo Oldiversity, desenvolvido pela Croma Consultoria, parte do Grupo Croma, apurou, em uma população de 2 mil pessoas, com margem de erro de 2 pontos percentuais, que 1/3 dos respondentes afirma saber razoavelmente sobre esse assunto. O dado revela que quase não há interesse pelo tema. 38% sabem pouco sobre as questões relacionadas aos povos indígenas; e 40% sobre imigrantes ou refugiados.
Para Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e idealizador do estudo, o cenário atual dos povos originários é triste e preocupante.
“Aumentou o número de invasões às terras indígenas nos últimos dez anos, fator que por si só deveria criar um movimento de empatia em relação a esses brasileiros. É inaceitável ver o sofrimento desse povo em busca de trabalho, saúde, alimentação digna e combate às doenças que o ‘homem branco’ levou às reservas. Precisamos de política social e reparadora aos indígenas em caráter de urgência”, ele cobra.
A Declaração das Nações Unidas reconheceu que os conhecimentos das culturas e das práticas tradicionais dos povos originários podem contribuir para o desenvolvimento sustentável e equitativo e para a gestão adequada do meio ambiente.
Estima-se que houvesse no Brasil, antes da chegada do homem branco, mais de mil etnias diferentes e 1300 línguas que foram apagadas da história. Quase uma ironia, é fato que os ameríndios ensinaram os próprios colonizadores a se embrenhar pelas matas; a escolher comida na vegetação fechada da floresta amazônica.
E, também, a se espalhar pelo território por sendas desconhecidas pelo estrangeiro. Se não fosse pela troca cultural, em meio a muito sangue derramado e à dizimação endêmica dos europeus, o contexto poderia ser diverso à narrativa dos vitoriosos.
Ainda conforme o levantamento, 71% acreditam que aumentou o número de invasões em terras indígenas na última década. Este dado pode representar uma reação da população ao avanço do garimpo e às queimadas no Cerrado, Pantanal e Amazônia, nos últimos 5 anos, que chegaram às regiões ocupadas pelos indígenas no país.
O discurso mudou com a chegada do novo governo à atual situação, que voltou a estabelecer critérios para coibir o avanço da prática ilegal em comunidades Yanomami, em Roraima (RR).
Outro dado preocupante é o da porção de 31% dos respondentes que creem que “os imigrantes e refugiados estão ocupando espaço dos brasileiros no mercado de trabalho”.
Apresenta-se por meio desta colocação um traço de xenofobia, que é um sintoma do fenômeno gerado pela falta de políticas de proteção social e das crises econômicas que têm se multiplicado ao redor do mundo.
Isto faz com que o imigrante, antes invisibilizado por trabalhar num setor que antes o nativo não ocupava, agora, seja identificado como ameaça por exercer uma atividade que passa a se tornar necessária com a falta de emprego.
Mesmo com o atual governo promovendo um discurso de maior igualdade social, apenas metade da população acredita que deve haver um combate ao preconceito contra essas pessoas. No Brasil. 54% acreditam que deve existir alguma melhora ao desprezo a comunidades indígenas; 52%, a refugiados e imigrantes.
“O Brasil é conhecido internacionalmente como um país acolhedor, um povo solidário e empático. Acolher pessoas em situações de vulnerabilidade mostra o quanto o país está preparado para conviver com essas diferenças. Ainda de acordo com o estudo, 49% dos brasileiros sabem conviver com os costumes e tradições de imigrantes ou refugiados. O Brasil possui grandes colônias de diversos povos, tribos e raças em toda a sua extensão continental, o que permite acolher sem discriminar”, conclui Bulla.