Não pude manifestar as minhas condolências à família do amigo Zé Cruz. Os Correios não entregaram o telegrama
Cristina Silveira
O ofício era de marceneiro, entalhador de madeira de lei. Havia nele o sentido da arte, por isso inquieto, rebelde. Tomado pela angústia que antecede a criação, sensível às 7 notas musicais e às suas variantes, na busca de harmonia para cantar a poesia: fez-se luthier, um de seus encantos.
Renato Andrade, também já falecido, quando esteve em Itabira levou dele uma pequena viola que assentou como uma luva nas mãos desse célebre violeiro. Tornaram-se amigos. Renato voltou várias vezes a Itabira para visitar Zé Cruz.
Não direi que ele era um ‘homem de bem’, um ‘homem honrado’. Não, ele não foi um ‘respeitável’, tinha caráter e foi um grande homem.

Vez por outra, falávamos ao telefone. Eu lia notícias antigas da Cidadezinha e ele esclarecia minhas curiosidades, como por exemplo, sobre a menina batizada Tito Lívio. E ele sabia tudo que eu precisava pra completar meu álbum de notícias velhas de jornais. Éramos camaradas.
No dia 7 de agosto a amiga A.S. me deu a notícia, esperada, que José Cruz nos deixara para sempre… Era sábado. Dediquei o meu pensamento a ele, e senti conforto por ele não estar enebriado das dores sem remédio de alívio. Como galho de jabuticabeira envergou, mas não quebrou. E caminhou com vida para o fim de tudo.
Na segunda-feira postei um telegrama às filhas e filhos do amigo, e, informaram que às 14h seria entregue aos destinatários na casa-redação. Mas não foi entregue. Voltei dos Correios com um documento de rastreamento, e nada e nada da agência da avenida João Pinheiro entregar o telegrama.
Indignação! Aos 10 anos fui para um colégio interno com a obrigação de enviar cartas para casa materna. Daí passei a usar os correios e nunca mais parei.
E como deve ser, nunca deixei de receber cartas, nem os destinatários ficaram a ver navios de cartas minhas. Agora, o desmoronamento dos correios me rouba o direito de comunicar.
De nada valeu! Voltei aos correios e reivindiquei o direito da entrega. Aventaram a possibilidade de alguma catástrofe ter ocorrido na cidade. E sugeriram telefonar pra agência ou que o destinatário fosse a agência recolher o documento, ou seja, uma clara inversão de função.
Tentei falar pelos três números de telefone dos Correios da avenida João Pinheiro, mas esses números sinalizam ocupados dia e noite, de segunda a segunda. Que bagunça!
Desrespeito! Por quê os Correios não entregam um telegrama pago para ser entregue? Alegaram que o destinatário não estava em casa. Entretanto não deixam de entregar mercadoria de lojas virtuais.
Na minha opinião sobre o caso é de que está sendo feito o desmantelamento dos negócios em nome da privatização ETC-Brasil.
Está fora de moda enviar telegramas, mas eu sou moderna e por isso fora de moda. E em tempos de pandemônios no poder, um telegrama impresso em papel faz a diferença: é um documento de arquivo familial, portanto pessoal e intransferível.
Peço desculpas à família pela falta de responsabilidade, pela insensibilidade dos Correios de Itabira. É triste para quem está no fim de linha da vida presenciar a derrota do Brasil no mais elementar de sua soberania, a comunicação cidadã.
Sinto muito que aqui e agora o telegrama que não foi entregue seja publicitado quando devia ser um documento íntimo, reservado.
Eis o texto do telegrama enviado que os correios jogaram na lata de lixo, por indolência:
Aos amigos: Eduardo, Carlos, Cássio, Gilmar, Mariângela e Anna Beatriz.
O que dizer?
Há pessoas que por aqui passam e deixam a marca indelével de sua presença. No caso do cidadão José Cruz, podemos dizer: por aqui viveu um grande homem, deixou o bom exemplo e agora cansado de tanto fazer, foi para bem longe onde o silêncio é música. A música que ele soube harmonizar a vibração dos sons no oco da madeira, e isso faz dele um raro exemplo de itabirano.
Abraço a todas e todos, que para sempre pertencem ao amigo Zé Cruz
Realmente total falta de responsabilidade dos Correios de Itabira,talvez se fosse a empresa privada isto não aconteceria.Correio deve ser privatizado??
Fernando Ou tu é predador da soberania nacional ou não têm samba no pé, sem o sentido de nação, que significa não cidadão.