“Não existe mineração sustentável”, afirma Sérgio Abranches, palestrante na Conferência de Meio Ambiente e Clima, em Itabira
Fotos: Carlos Cruz
“Eu vou dizer o que todo mundo sabe (ou deveria saber): não existe mineração sustentável”, declarou Sérgio Abranches, escritor, sociólogo, cientista político e jornalista, durante a abertura da 2ª Conferência Municipal de Meio Ambiente e Clima, realizada nesta segunda-feira (9) no Parque Natural Municipal do Intelecto, em Itabira.
Abranches respondeu à professora Ana Gabriela Terena, ativista do Comitê dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, que ressaltou a insegurança hídrica na cidade, decorrente do monopólio das outorgas de água pela Vale.

A afirmação é contrária à propaganda da mineradora Vale, que alega praticar mineração sustentável, quando na realidade a atividade causa danos ambientais significativos, duradouros e muitas vezes irreversíveis. “A atividade minerária em Itabira ocorre a montante da cidade”, acentuou.
Causa impactos como geração de poeira, vibrações de detonações, degradação paisagística, escassez hídrica e risco permanente de rompimento de barragens, entre outros efeitos nocivos.
“A mineração precisa ter consciência e agir diretamente para reduzir os impactos, assim como a sociedade civil precisa exigir medidas mitigadoras e uma regulação mais rígida”, defendeu Abranches. “Não podemos ver repetir os crimes das mineradoras em Mariana e Brumadinho”, alertou.
A mineração não é sustentável também por não assegurar às gerações futuras os mesmos recursos disponíveis hoje, devido à natureza finita dos recursos minerários.
Isso porque a sustentabilidade exige que as atividades econômicas não comprometam a capacidade das gerações futuras de atenderem suas próprias necessidades. A mineração, pela extração de recursos finitos, não cumpre esse critério.
Responsabilidades

O professor Leonardo Reis, conselheiro do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) e ativista do Comitê dos Atingidos pela Mineração, afirmou que a mineração em Itabira detém 73% das outorgas de água, o que tem sido um gargalo histórico ao desenvolvimento diversificado do município.
“No Brasil subdesenvolvido e exportador, sofremos com o pau, ferro e sangue com o agronegócio provocando desmatamento, o ferro da mineração e o sangue do trabalhador, frisou o ativista, discordando que a crise climática seja decorrente do antropoceno, da ação humana, mas sim do que chama de “capitoloceno”, provocada pelas grandes empresas, a indústria e o agronegócio.
Sérgio Abranches destacou que a responsabilidade pelas mudanças climáticas vai além do capitalismo. “Não é antropoceno nem capitoloceno, porque são conceitos geológicos, situações que levam anos para acontecer. O que temos é a sociedade humana responsável enquanto consumimos produtos que impactam o meio ambiente”, afirmou.
“O capitalismo é um grande contribuidor para as mudanças climáticas, mas a sociedade de consumo também tem suas responsabilidades”, salientou, lembrando que consumidores conscientes podem pressionar as empresas a adotarem práticas mais sustentáveis.
Conferências e Emergência Climática

Abranches relembrou sua participação na Rio-92, a primeira grande conferência de meio ambiente, que marcou a mobilização ambientalista e a formação das primeiras ONGs no Brasil.
“Como sociólogo, nunca deixei de ver a interseção entre política e meio ambiente. Cobri várias conferências do clima pela CBN, incluindo a COP 15 em Copenhague e a COP de Paris”, contou.
Desde então, a crise climática se agravou, levando ao que agora é chamado de emergência climática. “No ano passado, registramos um aquecimento de 1,18°C, o que estava previsto no Acordo de Paris para ocorrer muito mais tarde. Esse fenômeno anômalo nos alerta para a necessidade de revermos todo o cenário das mudanças climáticas”, afirmou.
Abranches explicou que o aquecimento global em níveis recordes acelerou o degelo e elevou o nível do mar, tornando inviável a sobrevivência de algumas cidades e países insulares. “A menor salinidade dos oceanos afeta as correntes marítimas, que são essenciais para a distribuição de calor pelo planeta, exacerbando o aquecimento global”, disse.
“Estamos entrando em uma nova fase de emergência climática, onde as mudanças serão mais rápidas e intensas. É crucial entender que eventos extremos como furacões não são desastres por si só, mas se tornam desastres quando atingem áreas ocupadas de forma inadequada”, concluiu Abranches, enfatizando que a sustentabilidade e a preparação para desastres dependem de uma ação conjunta e consciente de todos os setores da sociedade.