Na Câmara, oposição e situação concordam: Itabira vira canteiro de obras. Eleitoreiras para os contra; necessárias para os governistas

Fotos: Carlos Cruz

É certo que indicações de vereadores não têm força de lei – e na maioria das vezes, historicamente, nem são consideradas por quem as recebe, o chefe do executivo municipal, que é quem governa essa urbe e manda executar as obras e serviços necessários à população.

Criticadas pelo Observatório Social do Brasil – Itabira (OSBI), as indicações são consideradas perda de tempo, além de desperdício de recursos municipais. Mas é certo que elas são parte das atividades legislativas e assim vão continuar.

Se não não têm serventia prática, as indicações servem ao menos para suscitar debates. Foi o que aconteceu com a indicação do vereador Reinaldo Lacerda (PSDB), apesentada na sessão de terça-feira (8), em que pede ao prefeito Marco Antônio Lage (PSB) o recapeamento asfáltico da rua D, no bairro João XXIII, seu reduto eleitoral.

Foi o bastante para o vereador Marcelino de Freitas Guedes (PSB), correligionário do prefeito, dizer que fez a mesma indicação, ele também por certo ciente do rol das ruas e avenidas já elencadas para receberem o “chão preto” novamente. Isso por terem o asfalto vencido sem suportar mais remendos em operações tapa-buraco que sangram o dinheiro público, com baixa qualidade e durabilidade.

“Quero na oportunidade, agradecer ao prefeito pelas demais ruas que foram recapeadas no João XXIII, como as ruas São Mateus, São Miguel, São Tarcísio e a Manuel Bandeira. Sabemos que o bairro tem outras demandas em outras ruas, que por certo serão atendidas”, adiantou o governista Lacerda.

Os situacionistas Carlos Henrique e Reinaldo Lacerda fizeram dobradinha ao anunciarem obras em execução e outras que estão com projetos prontos para serem licitadas

Redutos divididos

Depois de lembrar que ele também tem feito várias indicações de melhorias para o bairro João XXIII, onde divide reduto eleitoral com Lacerda, Guedes citou também várias obras que estão sendo executadas pela Prefeitura na zona rural.

“São melhorias que há anos são reclamadas pela população rural e que agora estão sendo atendidas”, acentuou, citando como exemplo a continuidade do programa de asfaltamento de morros em estradas vicinais, como devido sistema de drenagem.

Marcelino Guedes também informou que mais obras estão previstas para o bairro João XXIII, um dos mais populosos de Itabira. “Conversei com a Elaine, secretária de Obras, com Danilo Alvarenga, secretário de Governo. Eles me garantiram que essas outras ruas do bairro serão também recapeadas”, reportou.

Para sacramentar as indicações, e também como forma de responder às críticas do OSBI, os vereadores itabiranos adotaram a prática de, além de apresentarem as suas indicações, endereçam também ofícios com os mesmos pedidos e ou sugestões às respectivas secretarias municipais.

“Eu encaminhei ofício à Secretaria de Obras solicitando o recapeamento também dessas ruas no João XXIII. Itabira tem uma malha asfáltica muito antiga, o que justifica esse recapeamento que vem sendo realizado pela Prefeitura”, explicou o vereador situacionista.

Marcelino Guedes: obras estão sendo executadas também na zona rural

Sorrisos amarelos

Da bancada oposicionista, o vereador Robertinho “da Autoescola” Araújo (MDB), disse que também tem feito muitas indicações e ofícios, mas que não tem sido atendido como estão sendo os vereadores situacionistas.

Mas ele reconheceu e exaltou o fato de haver indicações semelhantes para pavimentação das mesmas ruas: “A união faz a força e a população é contemplada quando mais vereadores da base governista pedem”, ironizou.

Robertinho “da Autoescola” reconheceu que a “união faz a força”, referindo-se à duplicidade de indicações dos vereadores situacionistas

A questão é que esta onda de surfar nas obras da prefeitura não é privilégio dos vereadores situacionistas. A oposição também aproveita para ficar bem com o eleitorado, como admitiu o vereador Sidney “do Salão” Vitalino Guimarães (PTB), ironicamente, com sorriso nos lábios.

“Quero cumprimentar o vereador Reinaldo Lacerda pela indicação, mas quero deixar um pedido para que não se coloque apenas asfalto em cima de asfalto, mas que se faça o asfaltamento de ruas onde não tem, como as ruas W74 e W98, no bairro Gabiroba, que nem nomes têm ainda, como também de sete ruas no bairro Barreiro”, reivindicou o oposicionista.

Vitalino relacionou também demandas nos bairros São Pedro, Eldorado. “São diversas ruas de chão batido que estão aguardando essas melhorias já há dois anos e oito meses”, disse ele, referindo-se ao tempo em que Marco Antônio Lage está à frente da Prefeitura de Itabira.

Na verdade, esses bairros aguardam melhorias há décadas. São bairros que foram ocupados anteriormente à legislação urbanística que atualmente atribui ao empreendedor imobiliário a obrigação de instalar a infraestrutura urbanística antes de vender os seus lotes.

No passado, essa infraestrutura urbana era executada pela Prefeitura, hoje é responsabilidade do empreendedor imobiliário. Mas ficaram ruas em bairros antigos sem essa infraestrutura, e a sua execução ainda é de responsabilidade da administração municipal.

Com sorriso irônico nos lábios, e sob o olhar atento de Marcelino Guedes, Sidney “do Salão” defendeu como prioridade o asfaltamento de ruas sem pavimentação

Chão preto

Sidney “do Salão” questionou também a qualidade do serviço asfáltico, o que para ele tem deixado a desejar. “Estão jogando asfalto em cima de asfalto e muitos serviços precisam ser refeitos, como ocorreu na rua Humberto Campos”, disse ele, que promete manter o olhar crítico oposicionista.

“São mais de R$ 19 milhões que a Prefeitura está gastando nesse serviço de recapeamento”, contabilizou. “Eu desafio os vereadores da situação a apresentarem as ruas que receberam asfalto e que não estavam pavimentadas”, provocou.

O desafio foi aceito pelo situacionista Reinaldo Lacerda. “No bairro Barreiro diversas ruas vão receber asfalto pela primeira vez ainda este ano, como a travessa Joaquim Costa, assim como será reconstruída a ponte em frente ao restaurante da Marlene”, relacionou.

Marcelino Guedes complementou dizendo que a Prefeitura já tem projetos prontos para execução no Barreiro,  com asfaltamento de ruas ainda sem pavimentação. “Já temos o sinal verde do executivo itabirano e as melhorias já estão sendo licitadas para execução ainda este ano”, disse ele, que relacionou também a construção de uma Unidade Básica de Saúde no mesmo bairro.

Outro situacionista, vereador Carlos Henrique de Oliveira (PDT) explicou a diferença entre asfaltamento e recapeamento. “O recapeamento está sendo feito em ruas com asfalto que tem mais de dez anos e onde não adianta ficar remendando. Já o asfaltamento será feito em ruas de chão batido, que nunca receberam pavimentação.”

Mais obras

Segundo Carlos Henrique, não é só serviços de asfalto e recapeamento que a Prefeitura está executando na cidade, com promessa de chegar também aos distritos de Senhora do Carmo e Ipoema.

“Itabira está em obras. O governo está atendendo demandas antigas da população. Podem ter certeza que ruas sem pavimentação vão receber o benefício que o asfalto traz”, assegurou o vice-líder do governo na Câmara, que acrescentou:

“Estamos tendo obras em escolas, creches, unidades de saúde, em praças, tudo parte de um pacote já em execução, além de outras que serão licitadas. Há muito ainda para ser feito”, propagandeou.

Para o vereador situacionista, o recapeamento asfáltico que tem ocorrido em Itabira não é invenção do prefeito. “Estive em Brasília recentemente e vi que estão fazendo o mesmo procedimento por lá, recapeando ruas e avenidas por não adiantar ficar tampando buracos. É dinheiro público jogado fora”, acentuou.

O bairro João XXIII foi um dos primeiros a receber o “chão preto” com recapeamento asfáltico de ruas e avenidas

Sem novidades

Mas para a oposição nada disso é novidade, principalmente quando se aproxima o período eleitoral, quando estará em jogo a sucessão, em outubro, do prefeito Marco Antônio Lage, que já se lançou à reeleição.

Luciano “Sobrinho” promete manter o olhar crítico sobre as obras da Prefeitura

“Governos passados já fizeram o mesmo. Mas ficamos felizes que o povo tem vários representantes nesta Casa com força com o prefeito. Cobrem mais deles”, disse o vereador Luciano “Sobrinho” Gonçalves dos Reis (MDB), dirigindo-se aos ouvintes das emissoras de rádio que transmitem as reuniões da Câmara de Itabira.

“Todos (os prefeitos anteriores) fizeram isso (recapeamento asfáltico), até porque sabemos que o asfalto tem prazo de validade e chega um ponto que não adianta ficar remendando”, reconheceu. “De novo nesse governo só o marketing que nunca se viu igual, com gastos de dinheiro público”, criticou.

“O prefeito fez um alarde enorme com a assinatura de contrato para o asfaltamento da estrada de Senhora do Carmo para Ipoema como se já fosse a inauguração da obra que ainda nem começou”, criticou o vice-presidente da Câmara.

Luciano “Sobrinho” lembrou que a atual administração tem à disposição um orçamento superior a R$ 1 bilhão, o maior na história de Itabira. “Que seja feito um serviço bem-feito, não como muitos casos que estamos vendo, com o asfalto já desmanchando”, disse ele, apontando casos em que o serviço de recapeamento teve de ser refeito, conforme é previsto em contrato no prazo de validade.

Resultados

A indicação do vereador Reinaldo Lacerda para fazer o recapeamento asfáltico da rua D, no bairro João XXIII, foi aprovada por unanimidade – e com certeza será executada nos próximos dias pela empresa contratada pela prefeitura por ata de adesão, “como meio de quebrar o cartel que dominava o segmento em Itabira”, conforme admitiu o prefeito Marco Antônio Lage, mesmo comprando asfalto de empresas itabiranas.

Só os serviços asfáltico e de recapeamento são executado pela empresa Duro na Queda, com equipamentos e muita gente trabalhando.

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