Músicos da Orquestra de Câmara da FCCDA vivem incertezas diante do impasse contratual com o maestro Cláudio Lage

Fotos: Aguinaldo Ferreira/
FCCDA

A gestão anterior da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) obteve sucesso ao priorizar grandes eventos culturais, mas, sem uma política cultural claramente definida, acabou relegando os chamados “corpos estáveis” (orquestra, coral, Drummonzinhos, Tumbaitá e Escola Livre de Música) a um segundo plano.

Como consequência, desde agosto do ano passado, o maestro Cláudio Lage, regente da Orquestra de Câmara da Escola Livre de Música de Itabira (ELMI) – cargo que assumiu logo após a criação da orquestra, em 2010 –, aguarda a definição de um pedido de reequilíbrio financeiro em seu contrato de prestação de serviços.

Sua remuneração é considerada insuficiente, especialmente diante das despesas que ele precisa arcar, como transporte, alimentação e hospedagem. Além disso, o valor recebido pelo maestro permanece praticamente inalterado desde agosto de 2016, mesmo com a inflação acumulada até agosto de 2024 chegando a aproximadamente 61%. Nesse  período, o reajuste aplicado ao contrato foi inferior a 1%.

Sem a atualização do contrato, os músicos temem a saída de Cláudio Lage, cuja dedicação e trabalho de excelência são considerados indispensáveis para a continuidade da orquestra. O desânimo já atinge muitos integrantes, que cogitam abandonar a trupe orquestral.

Risco

O maestro Cláudio Lage tem sido o grande responsável pela permanência da Orquestra de Câmara da FCCDA

O saxofonista Odilon Bretas alerta para o risco do fechamento da orquestra caso o maestro deixe o cargo. “Esperamos que, com a nova superintendente, Vanessa, o reequilíbrio financeiro aconteça e o contrato com o Cláudio seja renovado”, diz ele, refletindo a preocupação dos demais músicos.

Bretas também reforça a importância de Lage para o grupo, exaltando sua competência, dedicação e versatilidade como maestro, compositor e multi-instrumentista.

“Onde vão encontrar outro maestro com essa bagagem pelo valor insignificante que ele recebe? Para encontrar alguém com a mesma experiência, teriam que pagar três ou quatro vezes mais. O que ele recebe é irrisório”, critica.

Apesar do ceticismo, Odilon Bretas acredita em uma resolução próxima, destacando o histórico de apoio do prefeito Marco Antônio Lage à cultura.

Mudanças

Questionado pela reportagem, o prefeito confirmou que mudanças estão sendo feitas na estrutura da FCCDA e que espera resolver o impasse em breve. Ele também reconhece a necessidade de mais atenção aos corpos estáveis. “Muitos reclamam desse abandono”, admite Marco Antônio Lage.

Segundo o prefeito, a nova gestão da FCCDA está alinhada com os objetivos da administração municipal, que incluem a redução de gastos desnecessários para concentrar recursos nas prioridades culturais.

Ele revelou, ainda, que a Prefeitura planeja reformar a antiga sede da extinta TV Cultura, na rua Água Santa, para transformá-la em um espaço destinado aos ensaios da orquestra. “Será um coworking artístico. Os corpos estáveis terão um espaço exclusivo para seus ensaios”, adianta.

Sobre a renovação do contrato com Cláudio Lage, o prefeito admite a defasagem financeira, mas ressalta que o ajuste depende da reestruturação em curso na FCCDA. “Espero que o Cláudio continue. Ele realmente é muito bom”, reconhece Marco Antônio Lage.

O que diz a FCCDA

Ao responder aos questionamentos enviados por este site, a FCCDA encaminhou alguns esclarecimentos, embora não todos. Publicamos, na íntegra, as informações recebidas:

“Em resposta às informações que foram compartilhadas, gostaríamos de esclarecer que não procede a alegação de que a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) tomará a decisão de descontinuar a Orquestra de Câmara da Escola Livre de Música de Itabira. 

A FCCDA reafirma o seu compromisso com a continuidade e fortalecimento de todos os corpos estáveis da instituição: a Orquestra de Câmara, o Coral, o grupo Tumbaitá e os Drummonzinhos. Portanto, a informação de que a Orquestra será descontinuada por questões financeiras ou de outra natureza não corresponde à realidade.

Sobre os custos envolvidos na manutenção da Orquestra de Câmara e dos outros projetos mencionados, é importante destacar que a FCCDA trabalha de maneira planejada para garantir a sustentabilidade das suas ações culturais.

 A Orquestra, assim como os demais corpos estáveis, é parte fundamental da missão da instituição em promover o acesso à cultura e à educação musical em nossa comunidade. Portanto, frisamos que não há previsão para o encerramento de quaisquer um desses projetos.

Em relação à  solicitação de reajuste salarial  da função de maestro, não se trata de uma questão orçamentária, mas legal, e a FCCDA tem buscado alternativas à situação num diálogo constante e aberto com os interessados.

 Por fim, é importante ressaltar que a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade mantém firme o seu compromisso com o fomento cultural de Itabira. No que diz respeito à Escola Livre de Música de Itabira (ELMI), a FCCDA está veementemente comprometida com sua melhoria.

Prova disso é  a aprovação do Projeto Político Pedagógico da Escola, que já começa a ser implementado neste primeiro semestre de 2025. A Fundação reconhece o potencial da ELMI em se tornar a base formadora dos corpos da Orquestra de Câmara e do Coral da FCCDA, garantindo sua qualidade e longevidade, bem como um polo formador de músicos.”

 

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *