Movimento dos caminhoneiros é locaute de grandes empresários bolsonaristas do transporte descontentes com a derrota nas urnas

 

Rafael Jasovich*

O resultado do segundo turno deu alegria aos democratas e apoiadores das liberdades públicas, mas principalmente aos petistas que amargaram perseguição, atentados e assassinatos de militantes do partido.

Mas ao que parece, começou um terceiro turno com os caminhoneiros e fretistas interrompendo estradas em vários estados e pedindo golpe militar.

Fica a dúvida: serão realmente caminhoneiros autônomos ou se trata de um movimento de grandes empresários do transporte a provocar todo esse movimento de “resistência” bolsonarista, um locaute organizado para tumultuar o processo democrático no país e a sucessão presidencial?

Um dos líderes dos caminhoneiros Wallace Landim, popularmente conhecido como Chorão, por exemplo, disse que o movimento nada tem a ver com a categoria que representa. E condena os bloqueios em estradas por parte dos que protestam contra a vitória do ex-presidente Lula (PT) no segundo turno.

Em entrevista à Carta Capital, Chorão atribuiu a manifestação a bolsonaristas que não aceitam o resultado das urnas. “O boicote parte do pessoal da extrema-direita que já vinha ameaçando a democracia, de gente que apoia Bolsonaro”, afirma.

Mas é preocupante, até por contar com o apoio implícito e até explícito da Polícia Rodoviária Federal (PRF), como se viu em vídeo com o policial dizendo que a ordem era apenas não perturbar os manifestantes. É a mesma PRF que, no domingo da eleição, tentou barrar os eleitores de Lula no Nordeste.

Além disso, não se pode esquecer que o início do golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende, em 1973, no Chile, começou com um locoute semelhante a esse. Por sorte, os golpistas de agora não têm o imprescindível apoio dos Estados Unidos para levar à frente esse ato antidemocrático.

Ao contrário, o presidente norte-americano, Joe Biden, parabenizou Lula pela vitória, em comunicado divulgado pela Casa Branca, ainda no domingo.

“Envio meus parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória em uma eleição livre, justa e digna de confiança. Espero que possamos trabalhar juntos e manter a cooperação entre nossos dois países nos próximos meses e nos anos que virão”, disse Biden.

Mas a preocupação existe até mesmo com o silêncio do derrotado na eleição, o que favorece todo tipo de especulações. Até o momento que escrevo essas linhas, Bolsonaro não tinha reconhecido a derrota.

Ainda como antídoto ao golpe, Lula recebe apoios internacionais, como o de Biden de maneira enfática, e de muitos primeiros-ministros e presidentes.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, chegou ao Brasil nessa segunda-feira (31) para se encontrar com Lula. Os registros mostram a alegria e a empatia de ambos no encontro.

É inconcebível a continuidade dessas ações disparadas contra o resultado das eleições por parte de seguidores fanáticos do ex-capitão, já bastante alterados em clima de velório.

Com firme atuação das autoridades, o mínimo que se espera em uma democracia é que cessem esse movimento paradistas dos empresários, como também os ataques verbais de bolsonaristas contra reconhecidos petistas nas redes sociais.

Os próximos dias serão cruciais para saber se os democratas devem sair às ruas para defender o resultado das urnas. Golpistas não passarão, mas não se deve descuidar do “ovo da serpente”.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.

 

 

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