Morre aos 96 anos o ex-ministro Delfim Netto, o arquiteto do “Milagre Econômico” na ditadura militar
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Por Hugo Garbe*
Antônio Delfim Netto, que nasceu em 1º de maio de 1928, em São Paulo, e faleceu hoje, 12 de agosto, aos 96 anos, deixou uma marca profunda na história econômica do Brasil. Sua vida foi uma montanha-russa de grandes conquistas e desafios e seu nome será sempre lembrado, tanto por aqueles que o admiraram quanto por aqueles que o criticaram.
De professor a ministro
Delfim Netto começou sua carreira como professor na Universidade de São Paulo (USP), onde se destacou por sua habilidade em simplificar conceitos econômicos complexos e torná-los aplicáveis na vida real. Foi esse talento que o levou ao Ministério da Fazenda em 1967, durante o regime militar. Lá, ele se tornou uma peça-chave nas decisões que moldaram a economia brasileira por muitos anos.
O “Milagre econômico”
Durante o período de 1968 a 1973, o Brasil viveu o que ficou conhecido como o “Milagre Econômico”. Sob a liderança de Delfim, o país experimentou um crescimento econômico acelerado, com taxas que chegaram a mais de 10% ao ano.
Isso significou mais empregos, aumento do consumo e uma classe média em expansão. O Brasil, sob a batuta do economista, parecia estar no caminho para se tornar uma potência mundial.
Ele foi o arquiteto de políticas que incentivaram a indústria, aumentaram os investimentos em infraestrutura e mantiveram a inflação sob controle. As grandes obras de infraestrutura que surgiram nessa época, como estradas e hidrelétricas, são, em grande parte, frutos das decisões de Delfim Netto.
O outro lado da moeda
No entanto, como em qualquer história de sucesso, havia um preço a pagar. O crescimento econômico também trouxe consigo problemas.
As políticas que Delfim implementou resultaram em um aumento na desigualdade social e em uma crescente dívida externa.
Muitas pessoas começaram a sentir que os benefícios do “milagre” não estavam sendo distribuídos de forma justa. A concentração de renda e o endividamento se tornaram fardos que o Brasil carregaria por muitos anos.
Nos anos 1980, quando o Brasil enfrentou uma série de crises econômicas, as críticas às políticas de Delfim se intensificaram.
Muitos apontaram que o rápido crescimento havia sido construído a partir de bases frágeis, que não suportaram as turbulências econômicas que se seguiram.
Um pensador ativo até o fim
Mesmo após deixar o cargo de ministro, Delfim Netto continuou a ser uma voz influente na economia brasileira.
Ele foi deputado federal por São Paulo e, mesmo após deixar a política ativa, continuou a escrever artigos, dar palestras e participar de debates sobre os rumos do Brasil.
A sua opinião era respeitada e frequentemente buscada por políticos, empresários e economistas.
Delfim era conhecido por seu pragmatismo – ele preferia soluções práticas e possíveis, ao invés de ideais difíceis de alcançar.
Até o fim de sua vida, permaneceu ativo no debate público, sempre oferecendo sua visão clara e direta sobre os desafios econômicos do país.
O legado de Delfim Netto
O legado de Delfim Netto é, sem dúvida, um misto de grandes realizações e lições importantes.
Ele foi o responsável por conduzir o Brasil em um período de crescimento econômico que trouxe muitas oportunidades, mas que também deixou cicatrizes que o país levaria décadas para curar.
Delfim Netto será lembrado como um homem que, com suas decisões, ajudou a moldar o Brasil moderno.
A sua história nos ensina que o caminho para o progresso é cheio de desafios e que as escolhas que fazemos hoje podem ter impactos que durarão por muito tempo.
Seja para o bem ou para o mal, ele deixou uma marca que dificilmente será esquecida.
* Hugo Garbe é professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)