Morre Marconi Ferreira, escritor, poeta e memorialista itabirano

Fotos: Carlos Cruz

Faleceu na madrugada desta segunda-feira (19), o aposentado da Vale Marconi Serafim de Assis Ferreira, aos 72 anos, vítima de uma parada cardíaca enquanto dormia.

O seu corpo está sendo velado na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) e o cortejo está previsto para sair às 16h30 rumo ao cemitério do Cruzeiro, onde o seu corpo será sepultado.

Autor de livros de poesia e crônicas, Marconi Ferreira foi também um memorialista itabirano. Em seu livro mais conhecido Viagem na história de Itabira com o Menino da Mina, ele registrou algumas de suas memórias de menino, como também da vida já adulta, trabalhando nas minas da Vale.

É neste livro que ele publicou a crônica Um castelinho no caminho da mina, no qual resgata lendas urbanas em torno do misterioso castelo da rua do Bonque, tendo virado um curta-metragem, gravado e dirigido pelo talentoso fotógrafo itabirano Fernando Barbosa e Silva, ex-colaborador do jornal O Cometa Itabirano.

Marconi foi também um carnavalesco, tendo sido um dos fundadores, na década de 1970, do bloco Apaches da Belinha, embrião de outra escola de samba que surgiu com força na avenida, já na década de 1980, vinda da parte da alta da cidade, o bairro Bela Vista.

“Cinquenta rapazes, não havia moças, fantasiados de índios desfilaram na avenida Daniel Jardim de Grisolia, ao som da bateria emprestada pelo grupo de escoteiros. Foi quando compus o meu primeiro samba-enredo (Descobrimento de Itabira) ”, recordou Marconi Ferreira, em entrevista a este site.

No século passado, homens valentes e ousados/avistaram uma pedra azul/vinham de terras distantes/em busca de riquezas nas Minas Gerais/viajaram muitos dias sem parar/entre vales e colinas/até perto da pedra chegar/Formaram um pequeno povoado/fizeram uma igrejinha para à noite rezar/Ôô Do tupi guarani, esta pedra se transformou em Itabira”, ele registrou na letra do primeiro samba-enredo de sua autoria.

Em 1975 o bloco virou a Escola de Samba Mocidade Independente da Belinha. Autor dos seus sambas-enredos, Marconi sempre faturava o primeiro lugar no quesito, embora a sua agremiação carnavalesca invariavelmente amargava a terceira colocação. “Nossos destaques eram a bateria e o samba-enredo”, relembrou o carnavalesco na mesma entrevista.

Menino da mina nascido no bairro Bela Vista, nos seus últimos anos, Marconi residiu no casarão histórico que pertenceu ao seu tio-avô Antônio Alves de Araújo, o célebre Tutu Caramujo, personagem drummondiano, ex-prefeito de Itabira (1869/72), sobre quem ele tinha muitas lendas para contar.

Segundo contou o memorialista e griô itabirano, além de ter sido prefeito e presidente da Câmara de Itabira por três anos no fim do século 19, Antônio Alves restaurava cartilhas, vendia livros e tudo o que produzia em seu quintal, na histórica venda da rua Tiradentes. Tutu Caramujo foi também por muitos anos chefe dos Correios.

Vizinho de outros célebres itabiranos, como do inventor Chico Zuzuna e do padre Olímpio, Tutu Caramujo também gostava de versejar, herança atávica bem assimilada pelo sobrinho-neto.

“Tutu era um poeta ‘cacareco’, assim como eu e tantos outros itabiranos”, disse o memorialista na mesma entrevista, ironizando com o rótulo que recebeu de um de seus críticos.

Marconi Ferreira e família com amigos: sarau memorialístico com lançamento do documentário Um Castelinho no Caminho da Mina

Nota de pesar

A Prefeitura de Itabira e a FCCDA emitiram nota de pesar pelo seu falecimento:

“A cidade perde um de seus grandes incentivadores culturais e uma memória de sua história. (…) Marconi foi uma das primeiras pessoas, por exemplo, a reivindicar a linguagem do Camaco como um patrimônio imaterial de Itabira. 

Na literatura, coordenou por 10 anos o projeto Janela da Poesia, onde imprimia poesias de itabiranos e as expunha na janela de seu casarão na rua Tiradentes.

Também promovia sarau de poesias na residência que um dia foi de Tutu Caramujo, personagem eternizado por Carlos Drummond de Andrade. Tinha olhos também para a música, sendo incentivador de serestas e idealizador do Festival da Canção Itabirana. 

Aos familiares, amigos e toda comunidade cultural de Itabira, nossos sentimentos de pesar e consternação.”

Saiba mais sobre o memorialista, escritor, poeta e carnavalesco Marconi Ferreira:

Tutu Caramujo, o profeta da derrota incomparável

Histórias extraordinárias do Castelinho da rua do Bongue

Os griôs de Itabira e as fantásticas histórias do Castelinho do Bongue 

 

 

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