Morre a santa-mariense Beatriz Alvarenga, aos 100 anos, professora de Física da UFMG
Fotos: Foca Lisboa/ UFMG
Faleceu neste domingo (19), a professora aposentada de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Beatriz Alvarenga, aos 100 anos, um dia depois do falecimento de sua sobrinha Zilah Procópio, 95, ex-diretora do Grupo Escolar Trajano Procópio, em Santa Maria de Itabira – e três dias após a morte da irmã Dulcinha Procópio, 106 anos.
“Enquanto Beatriz ficava às voltas com experimentos e leis da física, Dulcinha cultivava rosas e cantava ópera. Zilah também cultivava rosas e fazia doces e biscoitos como os que eram feitos pela sua mãe na fazenda do Pau d’Alho, em Santa Maria”, conta a prima Fátima Drummond.
“As três, como se houvessem combinado, acharam por bem partirem juntas para o Plano Infinito. Uma, em seguida da outra, fechando um ciclo. O que fica são os exemplos de dignidade, retidão, trabalho, união e amor à família”, acrescenta.
O velório de Beatriz Alvarenga será nesta segunda-feira (20), no Memorial Parque da Colina (rua R. Santarém, 50 – Nova Cintra, Belo Horizonte), no horário de 15h30 às 17h30.
Uma professora de várias gerações
Notável professora Física da UFMG, Beatriz Alvarenga, ensinou várias gerações a decifrar as que antes eram tidas complicadas leis da física.
Os seus livros didáticos marcaram gerações, com os ensinamentos em linguagem simples da filha do farmacêutico Trajano Procópio de Alvarenga Silva Monteiro, fundador do histórico Gynásio Sul-Americano, de Itabira.
Engenheira civil, aos 17 anos prestou vestibular para o curso, ingressando na Escola Livre de Engenharia, que depois virou a UFMG. Beatriz foi a única mulher de sua turma.
Anos mais tarde, nos anos 1940, foi a primeira professora de Física do Colégio Estadual Central de Belo Horizonte.
Em 1968, fez parte do grupo de professores que criou o Departamento de Física, no Instituto de Ciências Exatas da UFMG. Até aquele momento, o curso funcionava na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
Foi quando o professor Antônio Máximo lhe sugeriu que escrevessem, em parceria, uma série de três livros didáticos de Física – contextos e aplicações, adotados a partir de 1970, por longos anos, pelas escolas públicas – e também particulares – para o ensino fundamental e médio.
Beatriz Alvarenga aposentou-se em 1987. Com os seus livros didáticos, ela e Antônio Máximo descomplicaram o ensino de Física
Prêmios e reconhecimentos
Após a publicação da série de livros didáticos de Física, Beatriz Alvarenga recebeu inúmeros prêmios. Em 1989 recebeu o título de Professora emérita do Departamento de Física da UFMG.
Em 21 de abril de 2006 foi condecorada com a Medalha da Inconfidência pelo então Governador do Estado de Minas Gerais Aécio Neves.
Em 24 de maio de 2014, recebeu a Medalha Conselheiro Christiano Ottoni, por ocasião das comemorações dos 103 anos da Escola de Engenharia da UFMG. Em 2014, foi homenageada pela UFMG por sua contribuição à divulgação da ciência.
Foi vencedora do prêmio Bom Exemplo em 2016, uma iniciativa da TV Globo Minas, da Fundação Dom Cabral, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e do Jornal O Tempo.
O último reconhecimento foi outorgado, em 30 de maio deste ano, pelo programa Bibliografia Viva – Ensino de Física na obra de Beatriz Alvarenga, uma homenagem conjunta da UFMG e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), pelo conjunto de sua obra.
Didatismo
O sucesso de seus livros se deu pelo seu caráter descomplicado e didático de ensinar Física, um contraponto à maneira como a disciplina era ensinada em sala de aula, “sem aplicação no dia a dia e experimentos – e com baixa qualidade dos livros até então existentes para ensinar essa importante disciplina”.
Sucesso entre estudantes e professores, as obras foram traduzidas para o espanhol pela Editora da Universidade de Oxford. E após avaliação da comissão editorial dessa universidade, os livros foram lançados e distribuídos para toda a América Latina.
O segredo do sucesso de seus livros, segundo Beatriz Alvarenga, era a aplicação da física no dia a dia, com exemplos práticos e experimentos em sala de aula.
“A maioria dos professores ainda ensina física de forma muito matemática, com fórmulas e pouca aplicação prática. Mas essa é uma disciplina que está presente em cada momento da nossa vida, que explica tudo que fazemos”, disse ela, em entrevista, em abril de 2013, à revista Diversa, da UFMG.
Na reportagem, ela conta que quando recebeu o pedido de casamento do marido, o professor aposentado de português Celso Álvares, ela tinha 39 anos.
Antes de dizer se aceitava ou não, a professora deixou bem claro que não teria tempo para filhos, pois queria se dedicar à profissão. Beatriz viveu “cercada de sobrinhos e diz que não se arrepende da escolha”, ela contou na referida entrevista.
Leia mais sobre Beatriz Alvarenga aqui:
E mais informações sobre essa notável santa-mariense também aqui:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatriz_Alvarenga
Carlos : Tive o privilégio de ter sido aluno da profa. Beatriz Alvarenga no Colégio Estadual Central e na Escola de Engenharia da UFMG. Fui também estagiário dela num grande inventário de todos equipamentos do Laboratório do Departamento de Física da UFMG.
Estudei nos livros dela ( com o Antônio Máximo). Ela ensinava Física sorrindo. É incrível como ela tornava o ensino da Física uma coisa interessante e nos motivava a aprender com leveza. Ela deixa um legado para várias gerações.
Obrigado profa.Beatriz
A professora Beatriz Alvarenga foi vanguardista ao se tornar uma das primeiras engenheiras em Minas Gerais, mas também como professora de Física, descomplicando o ensino dessa matéria imprescindível para entender o movimento dos corpos, a matéria e energia. O pouco que sei dessa disciplina, aprendi em seus livros didáticos que eram adotados no antigo Colégio Estadual Mestre Zeca Amâncio, em Itabira.