Miriam Leitão dedica Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano à memória da irmã Elizabeth Leitão, em cerimônia no Flitabira

Conceição Evaristo, homenageada no ano passado, entrega o trofeu à jornalista e escritora, no centro cultural de Itabira

Fotos:  @bleia/
Divulgação

O teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) ficou completamente cheio, nesse sábado (2), em um dos grandes momentos desta quarta edição do Festival Literário Internacional de Itabira (4º Flitabira): a entrega do Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano à jornalista e escritora Miriam Leitão.

O prêmio é uma homenagem da União Brasileira de Escritores (UBE) a personalidades que se destacam com obras publicadas em qualquer área do conhecimento. Foi entregue à jornalista por Conceição Evaristo, agraciada com a premiação no ano passado no 3º Flitabira – e pelo presidente da UBE, Ricardo Ramos Filho.

“É com alegria que estamos aqui mais uma vez com o Troféu Juca Pato Estamos mais uma vez reconhecendo um erro histórico: poucas mulheres foram premiadas. Viva a UBE, viva o Flitabira, viva a Conceição Evaristo. Viva a Miriam Leitão!”.

Na sequência da homenagem, o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), salientou a importância do reconhecimento à Miriam Leitão, lembrando que o Troféu Juca Pato aponta  caminhos para o Brasil na medida em que reconhece a ação dos intelectuais que transforma o mundo, tornando-o melhor.

“Miriam Leitão escreve uma trajetória, ao longo da sua biografia, grandiosa, brilhante em muitos sentidos. Em jovem, ela resistiu à ditadura de maneira dramática e venceu a ditadura. Por tudo o que fez e faz, representa a mim, e todos os jornalistas brasileiros com brilho total. Quem está recebendo esse prêmio sou eu, são todos os jornalistas do Brasil”.

Outra que salientou a importância do reconhecimento à Miriam Leitão foi a também jornalista Flavia Oliveira, comentarista da Globo News. “Eu vou dar o lide (jargão jornalístico, que significa dar a notícia mais importante primeiro): Miriam Leitão é a maior jornalista do Brasil”, disse ela, para quem o prêmio Juca Batos está em mãos precisas e corretas, disse ela, referindo-se também à premiação à escritora Conceição Evaristo no ano passado.

“Nós mulheres, brancas, negras, indígenas, temos muito a ensinar à intelectualidade brasileira. A capacidade dela (Miriam Leitão) me inspira”, disse ela, emocionada. “Miriam Leitão é minha amiga e uma imensa referência.”

Para a laureada com o troféu no ano passado, Conceição Evaristo disse que ao entregar o prêmio à Miriam Leitão veio à lembrança a luta contra a ditadura. Segundo a escritora, a história da homenageada é uma lição de liberdade, acentuando que a democracia é uma construção permanente. “Você foi a primeira a escrever um libro sobre a validade das cotas e isso não posso deixar de lembrar.”

O livro de Miriam Leitão que aborda a questão das cotas é A Revolução do Amor, defendendo a política de cotas racial, não só para as universidades, mas que também para outras áreas. Em sua defesa, a jornalista sustenta que elas são importantes  reduzir as desigualdades históricas, além de promover a inclusão social.

Agradecimentos

Miriam Leitão, em Itabira, com a escultura do poeta, no centro cultural da Fundação Carlos Drummond de Andrade

Emocionada, Miriam Leitão disse se sentir vivendo uma “chuva de honras”, encarregado ao irmão, o também jornalista Claudio Leitão, uma “missão importante”: “Conta lá em Caratinga [sua cidade natal]  que aquela menina que vivia agarrada aos livros realizou os seus sonhos”,, disse a homenageada que aproveitou para celebrar a vida e obra de Conceição Evaristo, dirigindo-se a ela.

“Você é uma escritora maravilhosa. É muita honra receber esse prêmio das suas mãos”, agradeceu.  “Eu fiquei, no dia de hoje, conversando comigo mesma, com a menina que eu fui. Pensando nas pessoas e em todos os livros que me trouxeram até aqui. Eu cheguei até aqui carregada por pessoas, livros e afetos. Foi isso me trouxe até aqui”.

Perseguida pela ditadura militar, em dezembro de 1972, Miriam Leitão foi presa e torturada. Capturada com o seu ex-marido Marcelo Netto, ela estava grávida de um mês. Nas sessões de tortura, sofreu várias outras ameaças, incluída a de estupro coletivo.

Sobre a lembrança desse triste período na história do país, Miriam recorda que na prisão ela não podia ler. “Essa era a segunda parte da tortura. Então eu fechava os olhos, pensava em Drummond, em Graciliano Ramos. Pensava em Diadorim e Riobaldo. Eu pensava em cada um dos livros que tinha lido. E isso me fazia mais forte”, ela contou.

E agradeceu a homenagem: “Hoje eu vivi um dia glorioso e estou muito feliz”, disse ela. “Dedico esse prêmio à minha amada irmã Beth”, disse a escritora jornalista, referindo-se a psicóloga e educadora Elizabeth Leitão (1945-2018), uma das fundadoras do programa Bolsa Escola em Belo Horizonte.

A irmã teve papel destacado na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e forte influência na vida, desde a infância, e na formação política e humanística da irmã jornalista homenageada.

Assista a entrega do Trofeu Juca Pato aqui:

Sobre o Flitabira

A 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita.

Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4.º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira.

Sobre o Instituto Cultural Vale

O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios.

Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do País.

Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com programação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale: http://institutoculturalvale.org

Serviço

4.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira

De 30 de outubro a 3 de novembro, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira

Entrada gratuita

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