Meu nome é Itabira!

Por Cristina Silveira

 Diz a filosofa Marilena Chauí, “Cultura é uma ordem simbólica que exprime o modo pelo qual homens determinados estabelecem relações determinadas com a natureza e entre si e o modo pelo qual interpretam e representam essas relações”.

Paubrasilia Echinata, nome de árvore de lenho “vermelho brasas acesas” transformado em corante de nome brasilina; a madeira, peça rara, serve a confecção de arco para violinos…  Se o pau-brasil é um símbolo do país, faltou brasilina na bandeira nacional.

O vermelho do vestido de Santa Cecília, obra do pintor italiano Pietro de Cortana (1596-1669), foi pintado com tinta contendo o pigmento brasilina. O mesmo ‘se’ vale para a bandeira de Itabira, mas falta nela o vermelho haimatites (grego) que significa sangue porque, em pó, é avermelhada.

A história do registro civil no Brasil começa em 1874, mas a lei não “pegou”. Precisou chegar em 1931 para a obrigatoriedade de registros de nascimento, casamento e óbito ser assimilada. Mas parece que “pegava” publicar em jornal a simples mudança de nome, como neste anúncio:

“Declarações. Joaquim Belizário de Freitas Bicalho, declara a seus amigos e parentes que d’ora avante, passa só a assignar Joaquim Belizário Drummond. Rio Novo (ES), 13 de agosto de 1912. Joaquim Belizário Drummond”.

América Marinho, filha de um sírio.

Brasil Rathbone (1892-1967), ator sul africano. Representou Sherlock na série Sherlock Holmes, versão de 1945.

Argentina, de seo Dufin, senhora de Ipoema, perfumadora do ar com essência de goiabas vermelhas derretidas no fogo alto, variando em goiabada mole, de caixote ou em caldas.

Itália Grisolia, filha de Luiza e Daniel de Grisolia. Nomes de lugares, de pessoas, em cada prenome uma extensão territorial.

O nome Itabira, assim como o sol, ilumina o mundo!

Pico do Itabira em Itabirito (Fotos e recortes: acervo BN/Cristina Silveira)

Itabira, feminino-masculino

Em 1907, Jacintho M. de Figueiredo faz uma descrição da Serra lendária de olho no progresso: “O Pico de Itabira com 300 metros de altura, constituído quase exclusivamente de minério de ferro, cercado de densas florestas e abundantes quedas d’água, está só à espera do braço empreendedor que venha fazer dele uma fortuna”.

Pico do Itabira. 1.586 m de altitude. Aleijado!

Esta grande serra teve a sorte da defesa do povo de seu lugar, Itabirito. A mineradora Hanna perdeu o controle absoluto de como minerar. De modo que a metade, uma casca está protegida e outra, minerada até chegar à cava dolorida. O Pico do Itabira foi decretado patrimônio geológico em 1989. É o Marco Estrutural, Histórico e Geológico do Quadrilátero Ferrífero.

Pico do Itabira, 700 m de altitude. Intacto!

Pico do Itabira, em Cachoeira de Itapemirim (ES)

A Serra do Itabira ou Pico do Itabira, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), nos versos do poeta Newton Ramos, “é esguio pedaço de granito”. É rocha, não reluz à cobiça de mineradores, continua a ser pedra que brilha.

Em seu entorno viviam os indígenas Puris, para eles a Serra era o Deus da Fertilidade habitada pela Mãe de Ouro, Saci Pererê e Boitatá.

Ganhou popularidade nacional em 1947, quando foi escalado pela primeira vez. Foram 19 dias de esforço do Clube Excursionista do Rio de Janeiro para chegar no topo. O Pico do Itabira é tombado por Lei Municipal e tem o nome de Parque Municipal do Itabira. Louvado seja!

Rio Itabira – Em 1888, “a duas léguas de Ouro Preto, em estreita garganta onde nascem pequenos cursos d’água tributários do Rio Itabira, um dos afluentes do Rio das Velhas, acaba de descobrir o sr. H. Gorceix, uma gruta calcária, inteiramente inexplorada”.

Itabira do poeta Drummond

Serra do Itabira, em Itabira do Mato Dentro, 1386 m de altitude. Já era!

“Assinala-se com louvor, o gesto simpático do editor Carlos Ribeiro, cuja livraria, a São José, ali na rua de nome desse bom santo, é um dos raros pontos de reunião de tudo quanto é intelectual e poetas.

Outro dia, alargando o seu ramo, abria a simpática Lojinha Passargada, justa homenagem ao grande poeta Manuel Bandeira, autor do Itinerário de Passargada.

Agora, como justa homenagem a outro grande poeta – Carlos Drummond de Andrade – a Livraria São José, alargando-se ainda mais, terá outro “branch” ou filial, com o nome simpático de Lojinha Itabira.

Itabira, onde uma cordilheira de ferro enferruja-se há 457 anos, cidade tapetada de sombras e boas sombras, é a terra natal do poeta Drummond, e por isso mesmo famosa.

Conta Carlos Ribeiro que irá inaugurar a Lojinha Itabira dentro de quinze dias. E, é claro – diz ele mesmo –, que a data não passará em branco. Haverá, para regalo dos presentes, uísque em formula latina – isto é, “quantum satis” e acepipes também à vontade. Mais por uns do que por outros estarei lá, com convite ou não, que repórter eu sou das letras”. (Nota do escritor e ilustrador, Luis Jardim, 1957)

Itabira territórios

Santa Maria permanece de Itabira, porque itabiranos são essencialmente Garrucheiros.

Itabira, em 1922 era identificada como povoado de Nova Almeida (ES), hoje é nome de rua da cidade.

Itabira do Campo. Por decreto de 1923 “o povoado de Itabira do Campo foi elevado à vila de Itabirito, e dado à cidade de Itabira do Matto Dentro, a simples denominação de Itabira, para evitar extravios de correspondências e volumes, motivado pela confusão de nomes”.

Itabira, a 20 km de Altamira, cidade transamazônica, onde viveu 167 anos Doroteu de Sousa nascido em 4 de abril de 1809 e encantando no dia 6 de fevereiro de 1976.

O Dicionário Postal Brasileiro, de 1916 situa a Fazenda Itabira em Mar de Espanha. Em 1942, Entre-Rios Jornal (1935), de Três Rio (RJ) anuncia o vende-se uma ótima fazenda em Chiador (antigo povoado de S. Antonio dos Crioulos), faz divisa com Mar de Espanha, pode ser a mesma Fazenda Itabira.

Ruas itabiranas

“Vende-se um Piano Pleyel, magnifico armado em ferro e cordas cruzadas. Ver à Rua Itabira, no bairro Itatiaia, em Duque de Caxias, 1959”.

Era a Estrada de Itabira, agora é rua Itabira, no bairro Brás de Pina, a Princesinha da Leopoldina, no Rio. Na rua Itabira funciona o Centro Educacional Itabira.

Em 1945 o jornal A Noite anunciava a venda de terreno, grande área, à Rua Itabira, na Gávea, Rio. A rua Itabira saiu do mapa, mas guarda a lembrança do nome como Condomínio Itabira.

Rua Itabira, no bairro Lagoinha, em Belo Horizonte, por onde andou o compositor precioso, Norberto Martins.

Rua Itabira, no Bairro S. Antonio, na Vitória, do Espirito Santo. Perdeu a vaga no território em 1945 por justa homenagem ao filho da rua, soldado Manuel Furtado, combatente na Força Expedicionária Brasileira morto em combate na II Guerra da Europa.

Na rua Antonio Basílio, n. 128, lado da sombra… na Tijuca, no Condomínio Itabira, o apartamento é de um por andar.

Prenomes

Anúncio da morte do homem mais velho do Brasil, na cidade transamazônica de Itabira

Cá em meus arquivos, o nome Itabira aparece pela primeira vez em 1535. Em artigo de alunos do Colégio Comercial Monteiro Lobato, em Vila de São Vicente no Pernambuco, ao narrarem os feitos do donatário Duarte Coelho (1485-1554), e a peleja dura no genocídio dos povos indígenas Marim Kaeté: “Duarte Coelho, procurou captar a amizade dos mais influentes chefes indígenas, Itabira, Itagibe e o famoso Uiraubi, depois Arco Verde”.

Gomes Freire de Andrade (1790-1855), primeiro e único Barão de Itabira, nasceu em Vila Rica. Era filho de Francisco de Paula Freire, carioca e Inconfidente, livrou-se da forca por ser de família importante. O título de Barão foi concedido pelo decreto de 15/11/1846.

O Barão certamente tivera ligação com a Itabira de Matto-dentro, não somente pela proximidade territorial, mas também pelo casamento de duas de suas filhas enlaçadas ao sobrenome Penna, de Santa Barbara do Matto-dentro e Serra da Piedade –, componentes das “chuvas de relevo” que tenho saudades Gerais.

José Itabira. Em 1883 o José Itabira safou-se da morte numa encruzilhada de estrada na freguesia de Paulo Moreira (Alvinópolis). Militante do Partido Conservador acompanhava o chefe do partido, Innocencio de Abreu Lima, “ameaçado em minha existência por alguns desalmados da comandita do Partido Liberal.”

Deu sorte o José Itabira, o matador inseguro vazou mata a dentro deixando pra trás o chapéu e a espingarda carregada de uma bala e 45 bagos de chumbo, destinado a Abreu de Lima.

Gastão Itabirano, cronista do quinzenário A Evolução, revista editada em 1909 “com uma capa chic e artística, gravada habilmente por Cattaneo”.

Itabira Gonçalves, estudante da Faculdade de Ciências Econômicas de Niterói. Em 1958, foi eleito 1⁰. Secretário do Diretório Acadêmico. No mesmo ano hospedou-se no Hotel S. Luiz, em Juiz de Fora.

Itabira Morena. Em 1958 o Jockey Clube, no Hipódromo da Gávea, Rio promoveu grande festa para a entrega do troféu Cavalo de Ouro, uma homenagem ao treinador Ernani de Freitas, o Nhonhô, que foi o primeiro treinador da alazã Itabira. Na grande festa, dirigida por Carlos Machado, entre Norma Benguel, Lúcio Alves e Grande Otelo cantou Itabira Morena, da Rádio Sociedade da Bahia.

Itabira Corrêa, em 1960, na Semana da Asa subiu ao pódio pelo terceiro lugar na prova de aeromodelismo, do Clube de Planadores do Rio de Janeiro.

O professor Arp Procópio tinha uma amiga que se chamava Itabira, a quem ele tratava com reverencia de súdito, era do Mato Dentro e morava na Ilha de Paquetá.

Itabira divertida – Parque de Diversões Itabira. “Era um antro de jogatina na rua do Retiro”, em Bangu (RJ). Em 1958, a polícia deu uma batida “em várias barraquinhas, o que mais existia era material de jogo proibido”. O proprietário Agnelo Gonçalves conseguiu fugir pela mata, mas foi acusado pelos “batoteiros” presos.

Itabira impressa – O Itabira, Jornal Literário, Agrícola, Comercial e Noticioso (ES), 1866-1867, dirigido por Luiz Loyola e Silva, falecido em 1914.

Itabira na parede – Óleo sobre tela, recebeu menção honrosa na Exposição de 1940. Itabira é pintura assinada pelo cearense J. Carvalho (1900-1987), que passou por Cachoeiro de Itapemirim e viveu em Belo Horizonte até o último dia de sua vida.

Petter Kellemen, fundador do Banco de Crédito Itabira: escândalo da piramide

Banco ItabiraBrasil para principiante, livro de autoria do húngaro Peter Kellemen, “Trata-se de um apanhado minucioso, hilariante e quase sempre exato dos pequenos golpes e vigarices que os brasileiros – para ele uma massa de corruptos benignos – se aplicavam para ir levando a vida”.

Em 1964, o húngaro Peter Kellemen esquenta sua indústria de agiotagem no Rio. Para garantir a integridade da corrupção lá estava um general, um tal Saraiva, que fora chefe da Repressão ao Contrabando no governo João Goulart, exonerado por corrupção.

Banco de crédito de Itabira (Fonte: Diário Carioca/BN)

Um mês após a instalação da Ditadura de 1964, Kellemen criou a Cooperativa Banco de Crédito Itabira e nele a Rede Nacional da Fartura e o Carnet-Fartura, um sistema de pirâmide que no final de tudo, segundo memorial da Comissão de Inquérito, o “Húngaro-malandro” roubou 6 bilhões de cruzeiros dos correntistas, a maioria da classe média. Vigarista com engenho e arte, criou uma bem sucedida campanha publicitária com o elenco da novela O Direito de Nascer.

O estouro da boiada ocorreu em 13/7/1965 com um cabo e seis soldados na porta do banco interditado. Foi o maior bafafá em Copacabana. Enquanto o “Húngaro-sabido” se escondia em Copacabana, a PF distribuía nos países com escritório da Interpol o cartaz de busca do foragido:

“Queremos Peter, preferencialmente vivo! Só no Brasil, três mil policiais dizem: Morto – explicam – só se reagir.”  De instância em instância do judiciário o processo criminal deu em pizza e Peter, o “Húngaro-vivaldino” escafedeu-se como ladrão bem sucedido.

Itabira em bolhas de sabão – Fábrica de Marinho Pinto e Cia, criada em 1879, primeira fábrica de sabão de Niterói. Com óleo de coco babaçu, de copra, de uricurí e sebo de ucuúba, matérias primas – inteiramente nacionais – na composição do Sabão Itabira.

Arthur Itabirano, viveu e morreu em Niterói.

Itabiras Diversas

Cachoeiro de Itapemirim, é a cidade em que o nome Itabira brilha do alto ao res do chão:

Armazém Itabira, do grupo Pinheiro Machado & Cia, em 1912 anunciava o “comércio de fumo, mantimentos e molhados a varejo e em grosso”.

Bloco de Carta Itabira (O Cachoeirano)

Em 1922 a Casa G. Baldassari, fabricava o Bloco de Carta Itabira. Elegância!

Açúcar Itabira. Em 1946, João Brahim Dopes, importador e exportador, distribuía para todo o Espirito Santo os açúcares refinados Prata e Itabira.

Sapataria Itabira. Em 1945, anunciava a “especialidade em sapatos sob medida”.

Itabira Fábrica de Calçados e Malas. Em 1947 era uma grande indústria cachoeirense, da firma Coimbra, Tavares e Cia.

Itabira Transportes. Em 1948 a empresa, oferecia, serviço rápido de encomendas e cargas por auto-ônibus.

Itabiras negócios

Em 12 de junho de 1959, dia dos namorados, as Lojas Cássio Muniz, anunciava o Aquecedor Itabira.

Materiais de Construção Itabira Ltda, na antiga Estrada de Madureira, “vende a prazo até 36 meses. Nova Iguaçu, RJ, 1973”.

Itabira animal

Em 1957 a fazenda Cruzeiro, em Uberaba, de Pompilio e André Vieira, criadores da raça Nelore, levou para as pistas o touro Itabira III, filho de Japão, campeão da raça aos 55 meses.

Touro Japão, pai do Itabira (Lavoura-e-Comercio)

Já Itabira, potra alazã filha de Fort Napoleón e Tonkynoise, nasceu em 21.10.1964 (malunga comigo, me fez lembrar Regina Pinto Coelho), no Haras São José & Expedictus SP. Em 1967 estreou na raia como favorita, depois de bem treinada e preparada por Ernane de Freitas, o Nhô Nhô, o melhor treinador do turfe do Brasil.

Itabira esportiva

Itabira Futebol Club. Time de Santa Thereza (ES), em 1929.

Veleiro Itabira ao mar em 1920. As embarcações que conseguiram maior número de vitórias: Itabira, yole a 4 remos, do Clube Regatas Flamengo.

Itabira Hotel – “Instalado em prédio de 3 andares, servido por elevador, água corrente filtrada em todos os quartos. Conforto e distinção, é um dos marcos do progresso de Cachoeiro, é dirigido por Resk Salim Carone”, anuncia o jornal A Noite Ilustrada, em 1947.

Notícia do naufrágio do paquete Itabira (O Malho, 1928)

Itabira, navegante dos mares – Paquete Itabira, em sua primeira viagem em 19/2/1917, “O Itabira, que é o mais moderno dos paquetes de costeira, iniciou a sua carreira conduzindo passageiros, pois a primeira viagem que faz, a não ser a que fez da Inglaterra ao Rio”. Viveu 10 anos.

“Bahia (12/12/1927). O cruzador sueco Fylgia, ao sair, esta noite deste porto, abalroou com o navio nacional Itabira, pondo-o a pique”. O Itabira foi removido do fundo mar, do porto da Bahia em 1934.

Itabira e a Pierrot de Paris

Pierrot e o Edifício Itabira (NI-1938)

“Yvone Marie Courtouget nasceu em Paris em uma família pobre, depois de completar as primeiras letras, teve que se empregar, foi ser florista. Em pouco tempo deixou-se estontear pelo luxo, pela boêmia parisiense e passou a viver esse terno romance das Mimis do Quartier Latin”, declarou à polícia Mm Jeannine Peltier, amiga de Yvonne.

“Em 1925, chegava ao Rio, como corista da companhia francesa do “Moulin Rouge”, de Paris, a galante francesinha Yvone Marie Courtouget. Depois de brilhante temporada rumou para SP.

Na capital bandeirante Yvonne terminou seu contrato e resolveu ficar no Brasil. No terceiro dia de um carnaval, Yvonne tomou parte num préstito carnavalesco, ocupando um lugar destacado em um carro alegórico. Vestia um lindo traje de “Pierrot”, que lhe valeu ficar com esta alcunha: Pierrot”.

“Instalara-se definitivamente em São Paulo, fazendo vida noturna nos clubs e cabarets, onde aparecia ostentando ricas toilettes e custosas joias. Depois de algum tempo veio para o Rio, continuando aqui a mesma vida, indo residir na pensão da rua Cândido Mendes, n. 51”. [a casa está preservada, há mais de 50 é casa de encontro só para homens, ‘mulher não come no 51” dizem as vozes prostitutas do Jardim Plantado à Beira-Mar da Glória (Pedro Nava)].

A “Borboleta graciosa” dos cassinos de Copacabana e da Urca, em 12 anos de Brasil acumulou 250:000$00 em joias, brilhantes e esmeraldas, no cofre de casa. Ganhou fama o seu diamante de 9 quilates e 40 pontos; comprou o edifício Itabira, n. 249, no Posto 2, Copacabana e o edifício São Paulo, n. 95 em Ipanema, ao mesmo tempo comprava imóveis em Paris.

A “falena do amor” era amada e presentada por milionários do Oiapoque ao Chuí. Com a agenda da bela nas mãos, a polícia identificou nomes de “gente respeitável que fica acima de qualquer suspeita”. Assim posto, as pessoas suspeitas interrogadas ou presas eram ‘de l’entourage d’Yvonne’, mulheres e homens da França, Espanha, Argentina, Bolívia.

Edifício Itabira, Rio (JB, 1970)

Era o chapeleiro a modista, franceses radicados; donas de pensões chiques ou “duvidosas” no Catete e Glória; o croupies de baccarat e carteador do “tapete verde”; especialistas em roubo de joias e senhores de escravas-brancas e, até mesmo Cheque, a “cachorrinha de luxo” da “francesinha” participou das buscas.

O enredo deste crime misterioso é longo, ocupou a polícia e a crônica policial dos jornais, de outubro de 1937 até agosto de 1939, quando a polícia considerou o caso “morto”, sem diligências. Em dezembro do mesmo ano a juíza da 2⁰. Vara de Ausentes considerou a sua morte civil de Yvonne e entregou os seus bens no Brasil a família.

Em 12/8/1953, o repórter Berliet Junior entrevista, no leito de morte, o prisioneiro Ladislau Karcinvitch, contrabandista de mulheres. A primeira pergunta: Porque razão domiciliara no Brasil? – Vim para o Brasil porque meu médico em Berlim aconselhou-me.

A doença abalou profundamente o meu moral. Não era o mesmo homem e a organização certificou-se de que eu era um soldado fora de linha de combate. Cheguei aqui como refugiado de guerra, pois tudo que eu ganhara com facilidade, desapareceu num sopro na configuração europeia.

Dediquei-me ao comércio de joias, mas mesmo dentro da profissão honesta que abraçara, quando sentia sobre a minha cabeça, a sentença de morte que gritava nas dores de minha carne não deixei de usar o meu olho clínico para ter uma ideia aproximada do fenômeno da perdição no Brasil.

Pierrot, a linda francesa desaparecida (O-Imparcial)

Esse flagelo social está limitado nesse deplorável triangulo – ausência de educação social; condições econômicas precárias; o baixo coeficiente de alfabetização das massas.”

Segunda pergunta: Sobre o famoso caso da francesa Pierrot, o senhor sabe de alguma coisa? – O marroquino. Alto, magro e com uma cicatriz na altura do queixo”. Poucas horas depois Ladislau morre.

Em 1962 o repórter Timbaúba, do Diário Carioca pesquisa no Arquivo Cientifico da Policia Civil do Rio e fez o seguinte relato: “Aqui Pierrot não foi morta, como pensaram algumas pessoas. Seus restos mortais apareceriam, mais cedo ou mais tarde denunciando o crime e ensejando a descoberta de seus autores. Marie Yvone Courtouget foi, sem dúvida, raptada pelos interessados em seus bens valiosos ou em uma vingança cruel. A Midigal, associação internacional que dirigia o lenocínio em todo o mundo, sabe-se, vingava-se cruelmente dos que a traiam ou prejudicavam. Quando não podia eliminar a tratadora arranjavam meios e modos de desfigurá-la, enfeiando-a por meio de desastres e acidentes adrede preparados. As infelizes não podiam lutar, reclamar, reagir. Eram sempre vencidas. E Pierrot foi uma delas!”

Não houve um tiro surdo para encerrar o caso, restou “a Pierrot desaparecida no mistério, deixando atrás de si um nome de carnaval e um perfume de pensão Chic”.

Em 1954 a construtora H. C. Cordeiro Guerra demoliu o edifício Itabira e construiu um novo Edifício Itabira no 249. Ainda em 1970 vendia apartamentos no mesmo endereço. É possível ver a fachada no mapa google..

[Consulta BN-Rio. mcs/1375]

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2 Comentários

  1. Interessante notar que o Pico ou Serra do Itabira, em Itabira, posteriormente foi chamado de Pico do Cauê, ainda não sei quando mudaram a denominação do mesmo.
    E as minas de ouro que ali laboravam chamavam-se Minas do Campestre, remontando ao córrego do Campestre, hoje praticamente desaparecido pela força exploratória nas minas de ferro.

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