Meu nome é Itabira, sempre Itabira
Foto: Miguel Bréscia
“… Carlos Drummond de Andrade envereda a seguir por serenas rotas banhadas no calor gerado de velhos afetos, poesia circunstanciada que o itabirano, virtuosisticamente, eleva ao nível das suas autenticas possibilidades. Cativo de sua própria ascensão, senhor de todas as cores, luzes e sombras da poesia, já não importa ao autor desta Viola de Bolso qual seja o instrumento a ferir porque todos afinal não lhe hão de alterar a melodia desatada em sons puros que os ouvidos recolhem, ou em palavras que os olhos penetram em mergulhos cada vez mais fundos, mais fundos até que nelas se afoguem em compreensão e em total adesão. Editora J.O.”
Prima & contra-prima
Canção imobiliária
Carlos Drummond de Andrade
Meu edifício Itabira,
que eu vejo à Avenida Copacabana, e a saudade mira
de uma colina lontana;
nem és meu nem és daquela
vaga cidade no mapa-múndi, onde a pinta amarela
na cor do tempo se funde.
Também não és de teus donos
quaisquer, que por entre calmos
sonos de posse te fruem
tal o morto aos sete palmos.
Meu edifício Itabira,
todo em abstrato concreto,
vais cumprindo teu ofício
com seres o meu retrato.
Sou, em verdade, teu neto,
pelo tamanho. Oi, que estranho
avô me sais, desafeto
de uma chinesa crueldade.
Relembras o mundo morto,
vives em negro minério,
horto de mágoas, ourives
do ferro em que me desmembras.
Ai, Itabira, refrão
do não, que na alma se estira.
ouço, edifício, em teu vão
de sombra esquiva, o trovão.
que em mim são passos na escada
do terraço, rumo ao nada.
Boas-Festas
A Antonio Camilo de Oliveira
Vai, carteiro, sobre as serras,
rumo da velha Itabira,
terra saudosa entre as terras,
e em certo sobrado mira
aquele em quem tanta viagem
pelas partidas do mundo
não ressecou a miragem
e o sentimento profundo
que acompanha o itabirano
e o faz lembrar com carinho,
na Pérsia ou no Vaticano,
Tico, João Rosa, Todinho…
Conta-lhe que outro exilado
inveja essa romaria
que ora faz pelo passado
na claridade do dia.
Augura-lhe ao lar perfeitos
momentos, no ano feliz,
e apresenta meus respeitos
à senhora Embaixatriz.
[Fonte: Biblioteca Maria Julieta, Memorial Carlos Drummond de Andrade, Itabira – Pesquisa: Cristina Silveira]
Sempre Cristina, senhora de grandes dádivas!
A Biblioteca Maria Julieta é encantada, nela estão presentes livros raros , muita poesia e todo os tesouros importantes da nossa Literatura . A Cristina e o Pedro nos brindam sempre. São pessoas maravilhosas que sempre nos trazem boas novas para enriquecer este precioso acervo.