Medo à flor da pele
Rafael Jasovich*
“Afasta de mim esse cálice
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue”
Escrevo hoje sem a racionalidade de um jornalista analítico e sim com o medo à flor da pele.
A violência política desencadeada pelo discurso violento e raivoso se instalou no nosso País, (sim o país também é nosso). O candidato misógino, homofóbico, racista, antissemita e fascista penetrou nas mais diversas camadas da população.
Presenciamos atônitos assassinatos pela cor da pele, pela opção sexual ou mesmo porque escolheram outro candidato que não ele-não . Ontem à noite, aqui na minha cidade, um homem desceu de um carro arma em punho e atirou indiscriminadamente contra pessoas que estavam num bar frequentado por gays, ferindo um no peito.
“Homens” gravam com estilete uma suástica no corpo de uma mulher, horror sem fim. O assassinato de Marielle e seu motorista ainda sem solução. Exemplos de ataques têm diariamente – e a violência parece não ter fim.
Descobrimos que pessoas de nossa família, de nosso relacionamento eram fascistas e aproveitam este momento para externar o discurso de ódio.
Estou com medo sim, a coragem e o controle do medo. Estou com medo do caminho em que enveredou o Brasil. Estamos à beira do abismo, de um colapso socioeconômico sem precedentes. Tratam a eleição como um jogo de futebol em que uma das torcidas ataca violentamente o adversário.
Estou perdendo a esperança de viver num pais mais justo com emprego, moradia, educação e saúde.
Meu maior medo é acordar e perceber que estou em 1964.
*Rafael Jasovich é jornalista, advogado, membro da Anistia Internacional