Médicos Sem Fronteiras: Israel deve pôr fim à sua campanha de morte e destruição em Gaza
Hospital Nasser, em Gaza, foi atacado em fevereiro de 2024. Fotografia tirada dentro do hospital em 13 de março de 2024
Foto: © MSF
Para a organização, a estratégia militar de ataques em áreas densamente povoadas conduz inevitavelmente ao assassinato em massa de civis
Enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reúne nesta terça-feira (28), depois de Israel ter atacado acampamentos que abrigavam pessoas deslocadas em “zonas humanitárias” designadas no sul de Gaza, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) pede o fim imediato da ofensiva em Rafah e das atrocidades em curso na Faixa de Gaza.
A estratégia militar de Israel de lançar repetidamente ataques em áreas densamente povoadas conduz inevitavelmente ao assassinato em massa de civis.
“Civis estão sendo massacrados. Eles estão sendo empurrados para áreas que lhes disseram que seriam seguras, apenas para serem submetidos a ataques aéreos implacáveis e combates intensos”, diz Chris Lockyear, secretário-geral de MSF.
“Famílias inteiras, compostas por dezenas de pessoas, estão amontoadas em tendas e vivendo em condições extremamente difíceis. Mais de 900 mil pessoas foram novamente deslocadas à força, quando as forças israelenses intensificaram a sua ofensiva sobre Rafah no início de maio”.
Nesta mesma terça-feira, 21 palestinos foram mortos e 64 feridos, segundo as autoridades de saúde locais, depois que as forças israelenses bombardearam outro acampamento para pessoas deslocadas em Al-Mawasi, a oeste de Rafah, no sul de Gaza.
A equipe médica e os pacientes de um ponto de estabilização de traumas apoiado por MSF em Tal Al-Sultan, em Rafah, também foram forçados a fugir na noite de 27 de maio, à medida que as hostilidades na área se intensificavam, interrompendo efetivamente todas as atividades médicas.
A evacuação forçada de mais uma unidade de saúde ocorre 24 horas após as forças israelenses terem realizado um ataque aéreo onde definiram e designaram como “zona segura”. Pelo menos 49 pessoas foram mortas e mais de 250 feridas.
A equipe do ponto de estabilização de MSF registrou um fluxo em massa de 180 feridos e 31 mortos. Os pacientes sofreram queimaduras graves, ferimentos por estilhaços, fraturas e outras lesões por traumas.
Esses pacientes foram estabilizados e encaminhados para hospitais de campanha localizados em Al-Mawasi, mais a oeste, uma vez que não existem hospitais de trauma funcionando que sejam capazes de lidar com um evento tão grande de vítimas.
“Durante toda a noite passada ouvimos confrontos, bombardeios e lançamentos de foguetes. Ninguém sabe exatamente o que está acontecendo”, diz a médica Safa Jaber, ginecologista de MSF, que mora no acampamento de Tal Al-Sultan com sua família.
“Estamos com medo por nossos filhos, com medo por nós mesmos. Não esperávamos que isso acontecesse de repente. Para onde nós devemos ir? Estamos lutando para encontrar o básico que todo ser humano precisa para permanecer vivo”.
Na semana passada, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou a Israel que suspendesse “imediatamente” a sua ofensiva militar em Rafah e permitisse a entrada de ajuda humanitária desesperadamente necessária, garantindo que chegasse àqueles que necessitam. Mas a ofensiva de Israel no sul de Gaza intensificou-se desde então.
Nenhuma quantidade significativa de ajuda entrou no enclave desde 6 de maio e o padrão de ataques sistemáticos às instalações de saúde continuou. Todos os países que apoiam as operações militares de Israel nestas circunstâncias são moral e politicamente cúmplices.
A organização Médicos Sem Fronteiras apela aos países, especialmente aos Estados Unidos, ao Reino Unido e aos Estados-membros da União Europeia para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para influenciar Israel a pôr fim ao cerco em curso e aos ataques contínuos a civis e à infraestrutura civil em Gaza.
Quase oito meses após o início dessa guerra, já não existe uma única unidade de saúde em Gaza que tenha capacidade para lidar com um evento com vítimas em massa como o do dia 27 de maio.
No mesmo dia, logo após o fechamento do posto de trauma apoiado por MSF em Tal Al-Sultan, um ataque aéreo ao hospital kuwaitiano, em Rafah, matou dois funcionários e colocou o hospital fora de serviço.
Quase todos os hospitais em Rafah foram evacuados à força. Eles não estão oferecendo serviços de saúde ou estão funcionando muito precariamente, não deixando qualquer possibilidade de prestação ou acesso a cuidados médicos.
“Centenas de milhares de civis estão sendo submetidos a uma demonstração brutal e implacável de punição coletiva”, diz Karin Huster, referente médica do projeto de MSF em Gaza.
“Juntamente com os bombardeios, os graves bloqueios à ajuda humanitária estão nos impossibilitando de ajudar de uma forma significativa. As pessoas também estão morrendo, porque os trabalhadores humanitários estão sendo impedidos de realizar o seu trabalho”.
Os bombardeios israelenses e os combates intensos também continuam a devastar o norte do enclave, que é quase inacessível para os trabalhadores humanitários.
Os hospitais no norte estão sob fogo e foram sujeitos a extensa destruição, incluindo os hospitais Al-Awda e Kamal Adwan, o último foi bombardeado pelas forças israelenses, ainda hoje.
Outros hospitais, como o hospital Al-Aqsa em Deir al Balah e o hospital Nasser, em Khan Younis, relataram a escassez de combustível e poderão em breve não conseguir mais funcionar.
“Apelamos a todas as partes em conflito para que respeitem e protejam as instalações médicas, o seu pessoal e os pacientes.”
“Apelamos a Israel que pare imediatamente a sua ofensiva em Rafah e abra o ponto de passagem de Rafah para permitir a entrada de ajuda humanitária e médica em grande escala.”
“Apelamos por um cessar-fogo imediato e sustentado em toda a Faixa de Gaza.”