Matagal toma conta do cemitério do Cruzeiro, impacta vizinhança com animais peçonhentos, além do risco da Dengue
Fotos: Carlos Cruz
Moradora da rua Paulo Pereira, ao lado do cemitério do Cruzeiro, Sônia Mendonça, está assustada com o abandono e o matagal que tomou conta desse espaço público municipal, além existir vários pontos com água parada.
Isso mesmo depois de já ter encaminhado reclamação à Prefeitura reiteradas vezes, sem que fossem tomadas providências urgentes para mitigar essa situação que o caso está a exigir.
De fato, o mato toma conta de todo o cemitério, é impossível ingressar no local sem sair com a roupa carregada de carrapichos. “O cemitério nunca esteve tão abandonado como agora”, avalia a moradora, que reside há anos na vizinhança, dividindo parede-meia com esse espaço público municipal,
A reportagem testemunhou e fotografou o estado de abandono em que se encontra o histórico cemitério de Itabira, onde estão sepultados os mortos das “famílias tradicionais” da cidade. Ingressou no local sem ser abordado por servidor municipal. Não há vigilância no local.
Dengue
Recentemente, conta a moradora, uma agente de combate a endemias esteve vistoriando o local, onde encontrou vários focos do mosquito Aedes aegypti. E saiu assustada com o que viu.
“Ela (a agente) retirou 10 tubos com larvas do mosquito só na lâmina d’água que se formou no espaço onde estão os sepulcros das irmãs do Colégio Nossa Senhora das Dores.”
Se as larvas do mosquito Aedes aegypti, cuja picada pode causar doenças graves e até mortais (Dengue hemorrágica, Chikungunya, Zica, febre amarela), foram retiradas da lâmina d´água, e aplicada herbicida para impedir nova proliferação, é certo que a água continua parada no local.
Daí que o perigo continua morando ao lado de quem reside por perto – e mesmo para quem for ao cemitério sepultar um parente ou visitar o jazigo de um ente querido.
Com todo esse estado de abandono, considera a moradora, é improvável que os responsáveis pela zeladoria na cidade, no caso a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, não tenham ciência dessa situação.
Responsabilidades
“Cadê a tal zeladoria que o prefeito tanta propaga pela rede social? Será que ele não está ciente dessa situação?”
É certo que está ciente, tanto que Marco Antônio Lage decretou, em 20 de julho do ano passado, Estado de Emergência de Dengue em Itabira, por meio do decreto nº 4.242, motivado pelo alto índice de infestação provocado pelo Aedes aegypti em todos os bairros da cidade
“A Prefeitura de Itabira decreta situação de emergência contra a dengue no município. O documento publicado nesta semana leva em consideração o índice de infestação de 5,2 aferido pelo último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Lira), realizado em maio de 2023. Esse resultado indica possibilidade de surto de Dengue, Chikungunya e Zika na cidade.”
Pois essa mesma situação de emergência permanece em Itabira, certamente agravada com o fim da estiagem, com as primeiras chuvas. Tanto é assim que estado de emergência foi prorrogado em 8 de janeiro pelo prefeito.
Com isso, os 50 novos agentes de combate as endemias contratados com o estado de emergência permanecem mobilizados e em campo para dar combate às larvas do mosquito, além de eliminar focos encontrados do mosquito causador dessas arboviroses.
Além dessa ação, esses agentes são instruídos para esclarecer a população sobre como proceder para não ter larvas do mosquito por perto, eliminando a água parada.
É preciso que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano faça a sua parte não somente no cemitério do Cruzeiro, mas também em outros espaços públicos municipais onde o risco prolifera.
Animais peçonhentos e pessoas estranhas no cemitério
Sônia Mendonça relata que, além do risco da dengue, ela e os seus familiares sofrem há anos com outros impactos de vizinhança, com a proliferação de animais peçonhentos (escorpião, aracnídeo, barata e até cobra) que invadem a sua residência, vindos desse espaço municipal.
“Tenho que aplicar veneno constantemente para combater essas pragas e isso tem agravado a minha bronquite asmática”, reclama a moradora, coberta de razão.
Além desses transtornos provocados pela falta de zeladoria municipal, ela conta que vive amedrontada com a presença de pessoas estranhas no cemitério.
Isso, segundo ela, ocorre principalmente à noite, quando escondem objetos para depois buscar na manhã seguinte – e sem que sejam de alguma forma impedidas de ingressarem no local.
“O cemitério fica aberto dia e noite, não há vigilância e isso nos traz insegurança, provoca medo e apreensão”, diz ela. “Já liguei várias vezes para a Polícia, disseram para eu trancar bem as portas. E nada fizeram.”
Sônia Mendonça pede urgente providência da Prefeitura, que tem a obrigação de bem zelar por esse espaço público e histórico de Itabira.
Prefeitura responde
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Itabira enviou a seguinte nota à redação:
“O Cemitério do Cruzeiro apresenta mato em alguns pontos (sic), o que é normal nessa época do ano, em razão das chuvas.
A roçada do local está inclusa no planejamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e será executada nesta semana (15 a 19/1).
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, os Agentes de Combate a Endemias (ACE) têm rotina quinzenal no Cemitério do Cruzeiro, e, em caso de identificação de focos do mosquito transmissor da dengue, o procedimento de eliminação é imediato.
Informamos ainda que não há registros nos canais oficiais da Prefeitura de Itabira de solicitações para a limpeza do local.
Os relatos de pessoas estranhas frequentando a área devem ser direcionados à Policia Militar.
Vale ressaltar, também, que o Cemitério do Cruzeiro fica aberto todos os dias, das 7h30 às 16h30.”