Maria Alice, ex-presidente do Codema, critica vereadores que são contra projeto de empréstimo para o saneamento básico em Itabira
Fotos: Carlos Cruz
Para a professora Maria Alice de Oliveira Lage, a primeira presidente do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema), que foi por ela dirigido no período de 1985 a 1997, cuidar do meio ambiente não é só plantar árvores e jardins floridos, mas envolve também o saneamento básico, condição primária para a melhoria das condições de vida da população.
Daí que ela não entende como pode haver vereadores contrários ao projeto do prefeito Marco Antônio Lage, que pede autorização da Câmara para um empréstimo de R$ 99 milhões para, entre outras obras estruturantes e de saneamento básico, instalar redes coletoras de esgoto em várias ruas da cidade que ainda não dispõem dessa condição mínima para assegurar a saúde dos itabiranos.
“É claro que queremos uma cidade mais agradável para se viver, mas não podemos nos esquecer de aspectos importantes que passam pela saúde, como é o saneamento”, frisou a professora, que foi homenageada pelo Codema, por sugestão da Interassociação de Moradores, na reunião de sexta-feira (8).
“Eu fiquei muito triste ao ver um movimento querendo saneamento básico em Itabira e alguns vereadores se negando a aceitar esse saneamento”, acentuou. “Se na porta de minha casa eu tenho esgoto coletado, em vários bairros de Itabira isso ainda ocorre a céu aberto”, lamentou.
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“É preciso investir (no saneamento básico). Ao ver que têm vereadores que estão omissos e contra a iniciativa, isso nos deixa bastante chateada”, afirmou a professora e geógrafa aposentada, uma das primeiras ambientalistas de Itabira.
Memória
A professora recordou como foi o nascimento do Codema, primeiro órgão consultivo da Prefeitura com participação da sociedade civil organizada, instituído por decreto assinado pelo ex-prefeito José Maurício Silva em 3 de setembro de 1985, (lei municipal nº 2324), por entender que a responsabilidade da preservação do meio ambiente é dever de toda a comunidade.
A posse solene ocorreu no dia 7 de setembro, em prestigiado evento no Centro Cultural. Compareceram o juiz de Direito da Primeira Vara Civil da Comarca, Raimundo Antônio de Abreu, o então presidente da Associação do Ministério Público de Minas Gerais Castellar Modesto Guimarães Filho e o 1º promotor de Justiça da Comarca de Itabira José Adilson Bevilácqua, que abriu os primeiros inquéritos ambientais contra a Vale, com base na lei federal 7.347/85, e reportagens do jornal O Cometa.
Em eleição interna, democraticamente a professora Maria Alice de Oliveira Lage assumiu a presidência do órgão ambiental. A vice-presidência ficou com o dentista Álvaro Ferreira de Alvarenga e a secretaria foi assumida pela professora Maria do Rosário Guimarães de Souza.
Como se observa nessa primeira composição, na direção do órgão ambiental não teve representante da Prefeitura. Atualmente, o Codema é presidido pelo secretário municipal de Meio Ambiente, Denes Martins da Costa, o que ocorre deste que o órgão passou a ser também deliberativo – e não apenas consultivo, como era antes.
“A história do Codema começou de forma espontânea, depois do Encontro Nacional de Cidades Mineradoras. Desde então tem tido uma luta muito grande, embora muitos temas daquela época ainda continuam sem solução”, lamentou a ambientalista.
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Aquíferos e rio Tanque
Como exemplo de pautas ambientais recorrentes, ainda sem solução, Maria Alice citou a questão da água, que só agora, passados todos esses anos, enfim será feita a transposição desse recurso hídrico do rio Tanque para abastecer a cidade.
“A água do município foi adquirida pela Vale (outorgada) e a cidade ficou em segundo plano, apesar de muitas vezes ter sido divulgado (pela empresa) que teríamos água em abundância em Itabira.”
Maria Alice se refere às recorrentes declarações de representantes da Vale que diziam que Itabira teria água de sobra com a exaustão das Minas do Meio.
A empresa por várias vezes, no início deste século, sustentou que não seria preciso fazer a transposição do rio Tanque, pois com fim do rebaixamento dos aquíferos, não havendo mais o rebaixamento, sobraria água em Itabira para abastecer a população com sobra para atrair novas indústrias. “Não foi o que aconteceu e essa água continua quase toda com a Vale.”
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Poeira
Outra questão recorrente, ainda sem solução, se refere à poeira das minas que invade a cidade não só, mas principalmente, no período de estiagem. “É um problema sério que precisamos avançar”, disse ela.
A ambientalista criticou o baixo volume de recursos, da ordem de R$ 62 milhões, divulgado na mesma reunião do Codema, como sendo o montante que a mineradora pretende investir neste ano para diminuir a poeira de minério na cidade.
“É muito pouco se comparado com o que a Vale está investindo no porto de Tubarão para conter o pó preto de minério”, comparou.
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Apelo
Maria Alice fez um apelo aos conselheiros do Codema para que não abandonem essas questões relativas aos impactos da mineração, que são cruciais para se ter, ou não, qualidade de vida em Itabira, com repercussão, inclusive na saúde do itabirano.
“O Codema tem um papel importante e deve cobrar da empresa (as mitigações dos recorrentes impactos ambientais), junto também do poder público, e se for necessário, recorrendo ao Ministério Público, o que é fundamental”, recomendou.
Placa
Na homenagem, o presidente do Codema e secretário municipal de Meio Ambiente, Denes Lott, entregou a Maria Alice uma placa onde foi transcrito trecho de um poema atribuído a Mário Quintana, mas que outros dizem ser de Kátia Cruz – e que na verdade é uma adaptação de um outro pensamento de D. Elhers, de quem não se tem muitas referências.
“O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você.” É o que tem feito ao longo de sua vida a professora e geógrafa Maria Alice de Oliveira Lage.