Marcus Vinicius Lage Moreira (1940–2025): morre o advogado que fez da justiça e da democracia sua causa de vida

Fotos: Carlos Cruz

Faleceu na madrugada desta segunda-feira (17), aos 85 anos, o advogado Marcus Vinicius Lage Moreira, em sua residência, cercado pelo carinho da família.

A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos, decorrente de uma encefalopatia hepática. Deixa a esposa, Maria do Carmo “Cacá” Senra Moreira, os filhos Vladimir e Dimitri (in memoriam), a nora Denise Lott e três netas.

Figura central da advocacia itabirana, Marcus Vinicius foi um dos fundadores da subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde exerceu papel de liderança e inspiração para gerações de juristas.

Sua atuação profissional foi marcada por coragem e pioneirismo. Na década de 1970, moveu as primeiras ações indenizatórias contra a então Companhia Vale do Rio Doce, responsabilizando-a pelo assoreamento dos rios Jirau e do Peixe, contaminados por rejeitos da usina Cauê.

“A Vale não respeitava os limites ambientais nem os direitos das comunidades ribeirinhas. Era preciso enfrentá-la com os instrumentos da lei”, afirmou em uma de suas entrevistas a este site Vila de Utopia. 

Além da atuação jurídica, Marcus Vinicius teve papel relevante na vida pública. Foi um dos fundadores do diretório municipal do PMDB em Itabira, em 1980, tendo participado ativamente das campanhas pela redemocratização do país.

Teve destaque como um dos articuladores locais da campanha pelas Diretas Já e pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte de 1986. “A Constituição de 1988 é uma conquista do povo brasileiro. Ela não pode ser relativizada por conveniências políticas”, dizia com firmeza.

Foi também procurador-geral da Prefeitura de Itabira durante o governo de Jackson Tavares. Manteve-se sempre atento à política local e nacional. Em entrevistas publicadas por este site em 2022, analisou o cenário nacional com lucidez e espírito crítico. Leia aqui e aqui.

Ao comentar a movimentação de lideranças locais, tendo à frente o prefeito Marco Antônio Lage (PSB), em apoio ao então candidato Lula, na eleição de 2022, ele endossou.

“Marco Antônio fez certo e sinaliza que pretende compor daqui em diante uma frente de centro-esquerda nas próximas disputas da Prefeitura de Itabira e com a habilidade de ter apoio de segmentos da direita. É um movimento necessário, mas que precisa ser sustentado por um projeto claro de cidade.”

E alertava: “A direita se organiza com pragmatismo e recursos. A esquerda precisa se unir com inteligência e propósito.”

Marcus Vinicius também demonstrava preocupação com o esvaziamento ideológico da política e a fragilidade das instituições democráticas.

“A democracia está sendo corroída por dentro, por forças que se aproveitam da desinformação e do medo. É preciso resistir com lucidez e coragem”, disse, em tom de alerta. Para ele, a omissão era uma forma de conivência. “Quem se cala diante da injustiça se torna cúmplice dela.”

Crítico severo do governo Bolsonaro, Marcus Vinicius denunciou o negacionismo científico e o desmonte das instituições democráticas promovidos durante aquele obscuro período da história brasileira.

“O bolsonarismo é um projeto autoritário, que despreza a ciência, a cultura e os direitos sociais. É um retrocesso civilizatório que precisa ser enfrentado com firmeza”, afirmou.

Para ele, a pandemia de Covid-19 escancarou a irresponsabilidade do então governo federal.  “Negar a vacina, sabotar o SUS, atacar a imprensa e as universidades, tudo isso faz parte de uma estratégia de destruição do Estado democrático de direito.”

Sua visão de mundo era moldada por uma ética humanista e por um profundo senso de responsabilidade cívica.

“Não há justiça sem participação popular. O cidadão precisa ocupar os espaços, cobrar, propor, resistir”, dizia com convicção. Para ele, a política não era um campo de vaidades, mas um instrumento de transformação social.

É assim que Marcus Vinicius Lage Moreira deixa um legado de coragem, ética e compromisso com a justiça — valores que seguirão inspirando a advocacia, a política e a cidadania itabirana. Sua voz, sempre firme e serena, seguirá ecoando nas lutas por um país mais justo, democrático e ambientalmente responsável.

Serviço

O velório será realizado a partir das 12h, na sede da OAB Itabira, localizada na Praça Mário de Carvalho Azevedo de Barros, nº 89, bairro Esplanada da Estação, Itabira – MG.

O sepultamento está previsto para às 16h30, no Cemitério do Cruzeiro, situado na Rua Paulo Pereira, Centro.