Marcelo Dolabela tem livro póstumo de poesias lançado neste sábado (10), no Mama/Cadela, em BH

Foto: Luciana Tonelli

O poeta dadamídia, como ele se autodefinia, Marcelo Dolabela, artista muldimidia, roteirista, jornalista, músico, compositor e professor, morto aos 62 anos, em 18 de janeiro na capital mineira, vítima de um AVC, tem agora 145 poemas de sua autoria lançados sob o título Jogo que Jogo.

No livro, os poemas foram distribuídos em nove séries, cobrindo décadas de produção do poeta mineiro, nascido na pequena cidade de Lajinha, mas que fez carreira poética, literária em Belo Horizonte, onde viveu a maior parte de sua vida agitada e criativa.

O livro Jogo que jogo foi organizado pelo professor Gustavo Cerqueira Guimarães, ele também poeta e editor que assina o texto de apresentação. O projeto gráfico é de Júlio Abreu.

O lançamento do livro vai acontecer neste sábado (10), a partir de 16h, no Mama/Cadela – @mama_cadela –, que fica na rua Pouso Alegre, 2048, Santa Tereza.

Como parte da programação, haverá leitura de poemas e muita música com letras de sua autoria, com participação de Duzão Mortimer, parceiro do poeta no Grande Ah!.

Os poetas da revista Cem Flores (Carlos Augusto Novais, Luciano Cortez e Carlos Barroso vão apresentar um centão dadalobela. Centão é uma montagem de um novo poema a partir de fragmentos de vários poemas, coisa que Marcelo Dolabela gostava muito de fazer.

Haverá também show da Divergência Socialista, grupo musical belorizontino do qual Dolabela participou como compositor e incentivador.

Convirte paa o lançamento do livro Jogo que jogo, de Marcelo Dolabela

Confira a programação

Apresentador: Carlos Augusto Novais

16h20 – Apresentação do livro pelo organizador, Gustavo Cerqueira

16h30 –Leitura de um poema

16h35 – Mini-peça Abismo & abismo, por Ana Gusmão (@anagus27)

17h – Duzão Mortimer (@Duzaomortimer) e Marcos Pimenta (@marcospimenta11)

17h50 – Divergência Socialista (@divergenciasocialista)

18h20 –Leitura de um poema e encerramento

O livro está disponível no site: www.impressoesdeminas.com.br

Saiba mais sobre a vida e obra de Marcelo Dolabela

Nascido em Laginha (MG), Dolabela foi um artista multimídia, roteirista, músico, pós-graduado em literatura brasileira pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em comunicação pela Universidade São Marcos.

Já teve trabalhos de arte postal expostos em salões nacionais e internacionais (Canadá, Estados Unidos, Peru, Uruguai, Bélgica, França, Portugal).

Painel com texto de Marcelo Dolabela na exposição dos 40 anos de O Cometa, no Centro Cultural de Itabira

Foi colaborador do jornal O Cometa Itabirano por muitos anos, tendo sido lembrado na exposição dos 40 anos do jornal, realizada pela Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, em janeiro de 2020.

Dolabela foi o autor do texto do curta-metragem Uakti-Oficina Instrumental, de Rafael Conde, prêmios de melhor filme e melhor montagem no Festival de Gramado de 1987, na categoria curta-metragem.

Atuou também como roteirista dos filmes Arnaldo Batista Maldito Popular Brasileiro e Adeus América, ambos de Patrícia Moran.

Capa do livro ABZ do Rock brasileiro, de sua autoria

Como músico, integrou diversas bandas, entre elas a Sexo Explícito, que teve entre seus integrantes John Ulhoa, hoje integrante do Pato Fu. E como escritor, publicou mais de 30 livros de poesia, entre eles Adeus AméricaViolênciaDrogaRadicais.

Auto intitula-se “dadamídia”, devido a característica de seus espetáculos,  liderando também o grupo poético-musical Caveira, My Friend.

É autor do ABZ do Rock Brasileiro, a principal referência enciclopédica para o rock brasileiro até a década de 2000, quando a internet se popularizou, sendo referência em muitos trabalhos acadêmicos sobre esse gênero musical. O livro tem vários prefácios, escritos por Arnaldo Antunes, Zé Rodrix e Tony Campelo.

Para conhecer um pouco da arte poética de Marcelo Dolabela

  BALANÇO DA DÉCADA

uma década tem mais de cem séculos

dez bilhões de vozes num único eco

mil e uma noites num mero segundo

poucos trilhões de silêncio num ponto

quanto se conta os átomos é ótimo

a hora fica interminável num átimo

não se chega nunca a nenhum lugar

e apenas se volta ao mesmo volume

um só dia tem bem mais de dez décadas

num rústico eco a maior biblioteca

da luz do segundo nenhum consenso

até quanto nos faltará silêncio

IN LE JUNGLE DE JUNG

eis a memória do mundo

o tempo morre

a cada segundo

eis a história da raça

o tempo nasce

quando passa

eis a glória da arte

o tempo vive

PRESUNTOS

Sim, há bueiros sobre nossas cabeças
e  cães ladram vadios no nosso intestino;
cometemos todo crime, somos heróis:
eis o que nos ensina a lei e o destino.

Aprendemos a matar desde menino,
no café da manhã, cortando o presunto:

seguimos, à tarde, seremos bons heróis,
que sabem saborear um bom defunto.

Saibamos manejar cifras, colt, palavras,
como um bom cidadão, sensato assassino;
assim, teremos bueiros sobre a cabeça
e vadios cães no nosso verde intestino.

Um bom herói se faz desde bem menino,
conhecendo suas leis e seu assunto,
passeando sobre a cidade, bom herói,
recebendo uma medalha por um defunto.

(Radicais, 1985)

            A DESEJADA

sim mais um dia sem as tuas tardes,
agora, sim, agora posso ver:
se sofro, se minha dor não tem cofre,
ao céu não serve a lágrima que choro.

talvez passarei antes de cessar
a sombra do sol, o ombro do sofrer;
se morro, se não sorvo mais os dias,
        as noites me servirão por prêmio.

quando o jamais chegar na madrugada,
serei o irmão que não está por vir;
rir talvez o jamais não poderá;

e, na ausência de transitória ausência,
tua mão reconduzirá o ausente,
        ao leito em que todos adormecemos.

(Amônia, 1997)

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