Lula dá show em entrevista ao Jornal Nacional e começa campanha com o pé direito

Rafael Jasovich

“Bolsonaro parece um bobo da corte”. Para mim, foi nesse momento da entrevista de Lula ao Jornal Nacional, da Globo, nessa quinta-feira (25), que o candidato petista carimbou a sua vitória no dia mais importante da supersemana da contenda eleitoral.

Na entrevista, o petista apresentou  a faceta mais importante de sua aliança com Geraldo Alckmin (PSB), que é do candidato ponderado e conciliador.

Lula, aliás, tratou com muita delicadeza os entrevistadores da TV Globo – sem rancor, sem ódio, sem revanche, mesmo tendo sido vítima de uma campanha difamatória da emissora sem precedente na história.

É que o Brasil precisa de paz e tranquilidade para voltar a crescer e fazer justiça social, o que ocorrerá com a sua vitória, seja no primeiro ou no segundo turno, como mostram todas as sondagens de intenção de votos neste momento.

Ruim mesmo foi para Jair Bolsonaro, que há quatro dias virou tchutchuca, e vê agora o principal adversário sair-se bem em quase todos os temas levantados por William Bonner e Renata Vasconcellos. E isso não é pouco: segundo analistas políticos, historicamente os dias de entrevistas ao Jornal Nacional costumam gerar alterações nas pesquisas de intenção de voto.

Nesse aspecto, Lula pode comemorar por um lado – já que falou para fora de sua bolha que o mantém com cerca de 45% nas pesquisas há um ano. O petista provavelmente atingiu parte dos 22% de indecisos.

Mas ele falou também para a militância, embora a tenha comparado com torcida de futebol, o que muitos certamente não gostaram. Certamente agradou a militância petista e da esquerda  quando citou o educador Paulo Freire (1921/97), cujo método revolucionário de alfabetização ensina o educando a pensar, transformando a sua realidade.

E de quebra provocou os bolsonaristas que odeiam o autor da Pedagogia do Oprimido, da mesma forma que repudiam o ex-presidente. “De vez em quando a gente precisa estar com os divergentes para derrotar os antagônicos.” Lula só não “entrou com bola e tudo porque teve humildade. E gol”.

Com o início do horário eleitoral nas emissoras de rádio e televisão, a campanha de Lula vai dar a largada aceleradíssima. E não há mais como segurar o trem alegre da história, que atropela indiferente todos aqueles que a negam.

Os programas farão diferença? Sim.

Mas o que ficará mesmo na memória do eleitor comum é a forma como Lula, mesmo em um ambiente hostil como o da bancada formada por Bonner e Vasconcellos, se saiu bem ao tratar de temas como corrupção, mas também ao abordar com desenvoltura de questões relacionadas ao meio ambiente, política internacional e, principalmente, economia.

Foi quase um baile. E foi como mais um gol de placa que Lula criticou os partidos comunistas chinês e cubano, por não haver divergências e o contraditório, dizendo que nesses países não há democracia.

E não teve cerimônia ao falar bem de seu governo, que terminou com 80% de aprovação nacional em 2010, após gerar crescimento em quase todos os anos e aumentar o salário-mínimo sempre acima da inflação.

Lula não escorregou na principal casca de banana petista: os muitos erros cometidos na economia do governo que o sucedeu, com Dilma Rousseff, que teria levado o país a uma recessão histórica, segundo frisou Willian Bonner na agora histórica entrevista do candidato petista à Vênus Platinada.

O ex-presidente até brincou com Bonner dizendo que quando ele deixar a bancada do Jornal Nacional testemunhará um telejornal diferente, comparando com sua saída do Planalto e a chegada de sua sucessora no poder. “Se um dia entrar alguém no teu lugar para fazer o Jornal Nacional você vai perceber que rei morto é rei posto”.

Sobre o tema que mais preocupava a direção de sua campanha – a corrupção que fez parte dos governos petistas, como em todos os anteriores e que campeia da mesma forma no atual, e a operação Lava-Jato que o levou à prisão por meio de processos que cometeram abusos com Sérgio Moro – Lula foi bem.

Lembrou a independência da Polícia Federal em seu governo e a liberdade da Procuradoria-Geral da República para investigar casos de malversações com o dinheiro público. Bem diferente do que ocorre agora.

“Eu não quero que o procurador-geral da República seja leal a mim, quero que ele seja leal ao povo brasileiro e às instituições”, disse Lula, numa clara referência ao relacionamento entre o procurador-geral Augusto Aras e Bolsonaro.

Aliás, além de quando chamou o atual presidente de “bobo da corte”, Lula citou o nome de Bolsonaro outras três vezes, incluindo no tema política, no qual nadou de braçada. Ele acusou o orçamento secreto de ser pior do que o Mensalão do PT, fazendo, contudo, a mea-culpa.

Depois, didaticamente, falou como pretende governar o país a partir de 2023: “é preciso três coisas para governar – credibilidade, previsibilidade e estabilidade”.

Político habilidoso, que sempre soube compor com adversários, não com inimigos, citou o seu vice Geraldo Alckmin quatro vezes, um subterfúgio para dizer que governará também com o centro e não apenas com a esquerda.

Sinalizou aos conservadores não reacionários que eles governarão juntos. Foi o ápice da nova versão “Lulinha paz e amor” explicando a aliança com o antigo desafeto:

“Feliz era o Brasil e a democracia brasileira quando a polarização desse país era entre PT e PSDB. A gente era adversário político, trocava farpas, mas se a gente se encontrasse em um restaurante não tinha nenhum problema em tomar uma cerveja com o Fernando Henrique, Serra, Alckmin. A gente não se tratava como inimigo, mas como adversário”.

Ao ouvir a crítica de Bonner de que em seu governo, estimulados pela dicotomia “nós e eles”, muitos militantes petistas ficaram agressivos nas ruas, o candidato petista respondeu:

“A polarização é saudável no mundo inteiro: tem nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, na Finlândia. […] O importante é que não se confunda a polarização com o estímulo do ódio”. Foi outro gol de placa contra a meta do adversário com seu discurso de ódio.

Lula se mostrou preocupado com a composição do próximo Congresso brasileiro. Foi quando, olhando para a câmera, pediu aos eleitores, dirigindo-se principalmente aos indecisos: “Quero dizer uma coisa para o povo brasileiro: o Congresso é resultado da sua escolha, e da sua consciência, não ponha ódio no seu voto”.

A campana eleitoral está só começando e haverá uma longa batalha pela frente. A entrevista ao Jornal Nacional foi como começar a batalha com o pé direito. Sem medo de errar, afirmo que Lula já está com o pé no Palácio do Planalto, para assumir novamente a presidência da República Federativa do Brasil.

 

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