Luís Camillo, um nacionalista autêntico

Daniel Azulay e Maria Luiza Penna Moreira, filha do itabirano Luís Camillo

 Foto: Marco Rodrigues

Por Joaquim Inojosa de Andrade*

Felizes os que morrem, e depois de terem prestado serviços à sua geração, possuem quem lhes cultive a memória, não permitindo que o anonimato encerre no silêncio demolidor a glória do que fizeram.

Isto é o que acaba de acontecer com Luís Camillo de Oliveira Netto, cuja filha, sra. Maria Luiza Penna Moreira, acaba de reunir em livro, – História, Cultura & Liberdade (Ed. José Olímpio), trabalhos esparsos, cada qual de maior importância, para mostrar, no dizer do prefaciador Francisco de Assis Barbosa, que se tratava de um escritor sem livros, erguido agora à categoria de escritor de livro autêntico, graças ao carinho daquele amor filial.

Pelo que afirma ainda esse acadêmico, Luís Camillo teria pertencido à geração modernista de Minas Gerais, que considera das mais importantes do Brasil, da qual se haveriam de destacar, na história pátria, não apenas escritores – Drummond, Pedro Nava, Afonso Arinos, Emílio Mouro, Cornélio Penna, João Alphonsus, Rodrigo, Murillo Mendes, Ciro dos Anjos, Abgar Renault, como como também políticos, de estofo de Virgílio de Mello Franco, Milton Campos, Capanema, ou juristas e advogados Gabriel Passos, Pedro Aleixo, Dário de Almeida Magalhães…

Entre todos eles circulou Luís Camillo, para transformar-se não apenas no homem de letras, mas igualmente no político, no conspirador, num vulto singular de ação… Comprovam tais características do seu temperamento, os numerosos trabalhos que a filha juntou ao livro, em comprovação da homenagem que prestava.

Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, ao manifestar em crônica as saudades do amigo desaparecido, apelava para que viesse à luz o homem Luís Camillo… “a que ele se furtava, porque não condizia com a sua natural simplicidade”.

Tratava-se, porém, de um homem que “tinha a paixão das ideias tanto literárias como econômicas”, liberal cristão capaz de revalorizar, diante dos extremismos da época, “velhas posições pela originalidade de sua inventiva”.

Fazia um apelo a que vinte e dois anos depois, a filha de Luís Camillo atende: – “Façamos um livro que o recorde e que o revele fora do circulo em que se movia, que reúna seus escritos dispersos e a relação dos serviços silenciosos que prestou ao país…”

Sabadoyle, Rio, 1985: Rosaura de Escobar, Rodolpho Del Guerra, Márcio José Lauria, Carlos Drummond de Andrade, Carmen Trovatto Maschietto e Joaquim Inojosa.

O livro aí está, revelando o escritor e o homem, o de ideias literárias e o político, o derrubador de ditadura e de pesquisador das “Cartas Chilenas”, o economista previdente do futuro industrial do país e o esvurmador das mazelas criadas pelo regime político da época…

Personalidade singular, movimentando-se como uma sombra, surgindo quando menos se esperasse, vibrando na hora certa o golpe de mestre, como no caso da entrevista de José Américo de Almeida, por ele conseguida a golpes de persuasão, documento histórico da vida politica nacional, por haver precipitado o caso da ditadura getuliana…

Divide-se o livro organizado por Maria Luiza Penna Moreira em quatro partes; as três primeiras de produções próprias, pelas quais se pode julgar o escritor, minucioso e seguro nos estudos e conclusões.

Homem de pesquisa, Luís Camillo surge, por esses trabalhos, como autoridade de incontestáveis qualidades no discutir assuntos de relevância histórica, como os da formação do Brasil, educação e ensino, aspectos da própria terra itabirana onde nasceu e se criou – que de Itabira partiu, com o companheiro Carlos Drummond de Andrade para a grande vida –, até chegar ao intrincado problema da autoria das Cartas Chilenas, que tem consumido a paciência de muita gente boa… como aquela Arte de Furtar do (?) padre Antonio Vieira.

Para comprovar que o julgamento do que fez e produziu Luís Camillo não era apenas seu, mas sobretudo de terceiros, dedica a organizadora toda a quinta parte do livro à citação de trabalhos de crítica ao homem que foi e ao escritor que é hoje o irrequieto mineiro de Itabira.

De Carlos Drummond de Andrade a Paulo Duarte e Afonso Arinos, Rubem Braga e Sobral Pinto, D. Marcos Barbosa e J. C. de Oliveira Torres; enfim, mais de 30 pronunciamentos, em que ficam esclarecidas as virtudes das várias facetas daquela vida de lutas e acidentes, em todos singular e por vezes tocada de verdadeiro heroísmo, em que apenas um objetivo o preocupava: – o bem da pátria; o Brasil.

Pois a melhor definição para Luís Camillo de Oliveira Netto é que ele foi um brasileiro autenticamente nacionalista.

[Jornal do Comércio (AM), 31/1/1976. BN-Rio -Pesquisa: Cristina Silveira]

*Joaquim Inojosa de Andrade (1901-1987)

 

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