Louvação a Carlos Drummond de Andrade

Sá de João Pessoa, 1985

 

Um poeta é um poeta

É um poeta de fato

A poesia sem ele

Não passa de um desacato

Um insulto às culturas

É disso que aqui trato.

 

Poeta já nasce feito

O verso sempre na mira

Nasce poeta na China

Istambul e Itabira

Rússia, Pará, Palestina

Todos tocam sua lira.

 

Carlos Drummond de Andrade

Nasceu lá em Itabira

Terra do ferro e do ouro

Do diamante e da safira

Criado numa fazenda

A queijo serro e Palmyra.

 

Desde cedo abraçou

As letras e a poesia

Para o Rio viajou

Mas pra Minas voltaria

Nos jornais dessas cidades

Trabalhos publicaria.

 

Poeta é repórter

Que dá notícia rimada

Igualmente é artista

Que diz verso na calçada

Palhaço é o versista

Faz odes e versalhada…

 

A poesia nasceu

Com a História do Mundo

Foi poeta Prometeu

Vinícius e Pedro II

Bandeira e Shakespeare

Todos e a dos profundos.

 

Poesia não tem passado

Nem presente nem futuro

A poesia é eterna

Não tem barreira nem muro

O poeta canta a flor

O ouro, a fome, o monturo.

 

Mas falar desse poeta

Que há muito é consagrado

É dizer do conhecido

E chover no chão molhado

É um escritor que já

Conseguiu o almejado.

 

Tem muita força o poeta

Anjo D’Anunciação

Profeta da Paz e Amor

Vendedor de Ilusão

O poeta contra a guerra

O céu e a Revolução.

 

Neste ano vai cumprir

Mais outro aniversário

Mais uma pedra chutada

Do seu rico itinerário

O poeta firme e forte

Prossegue no seu fadário.

 

O poeta que se preza

Faz de tudo nesta vida

Compositor, romanceiro

Não dá viagem perdida

Esculpe, pinta e borda

A inspiração dá guarida.

 

O nosso Drummond de Andrade

Pra quem não sabe é artista

Se esta vida é um circo

Ele é malabarista

Mágico, clown, domador

Cospe-fogo e trapezista.

 

Só lendo seus lindos versos

Forjados com picardia

Percebe-se a presença

Da mais alta poesia

Cujo canto enfeitiça

Nos envolve de magia.

 

Vejo o Drummond na verdade

Tal um poeta popular

Capaz de vestir-se simples

E um chinelo de calçar

Partindo pra praça pública

Seus poemas discursar.

 

Parar num bar de esquina

Pedir um chope gelado

Puxar papo com a vizinha

Que está sentada ao lado

E deixar tudo fluir

Como algo maravilhoso.

 

Passando por várias fases

Da cultura brasileira

O poeta conservou

A poesia primeira

Que veste qualquer camisa

E agita qualquer bandeira.

 

Não sendo um antiquado

Nem tão pouco de vanguarda

Uma universalidade

Sua poesia guarda

É a força do cantar

Que logo chega – não tarda.

 

No momento brasileiro

Vestiu a roupa de quem

Humilhado e perseguido

Transformado em joão ninguém

Precisou da poesia

E do apoio também…

 

Tem poeta que prefere

Cantar a vida e a sorte

Fazer coro de louvação

De quem já levou a morte

Aqui eu canto o poeta

Enquanto vivo e forte.

 

Caro poeta Drummond

Fala aqui o primo-pobre

Aprendiz desajeitado

Desta arte que é nobre

Você é feito de ouro

E eu sou feito de cobre.

 

Faço aqui um pedido

Com todo desprendimento

Deem ao poeta em vida

As honras e monumentos

Gravado em sua alma

A força do sentimento.

 

Esta minha louvação

Pura e despretensiosa

Louva a flor da poesia

De cor viva e olorosa

É como o cravo cantando

Louvações para uma rosa.

 

Sou um mero cantador

De versos de pé quebrado

Canto o canto do sertão

Louvo o que é pra ser louvado

Meu verso nunca é triste

É como um forró ferrado.

 

Sou-lhe muito agradecido

Respeitoso e mui atento

Ouça aqui este louvar

Vibrante que nem o vento

E diga se não é vero

E forte meu argumento.

 

 

Capa e contracapa da publicação de cordel, do poeta Sá de João Pessoa, em homenagem ao poeta, com referência  ao jornal O Cometa Itabirano (acervo Cristina Silveira)

 

 

 

 

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