Lockdown à brasileira é meia boca e está longe de ser um verdadeiro tranca-rua
Rafael Jasovich*
No Brasil lockdown, que traduzido para o português em tempos de pandemia pode ser simplesmente chamado de tranca-rua, por impedir, por decisão do Estado, que as pessoas saiam às ruas e fiquem em casa para diminuir a velocidade da transmissão do novo coronavírus (Sars-CoV-2), tem regras totalmente diferentes em cada lugar. Isolamentos ficam abaixo do necessário.
E flexibilizações acontecem sem dados confiáveis. Em comparação com outros países e regiões, vários estados brasileiros começaram a adotar medidas de restrição relativamente cedo, em meados de março, quando o país registrou a primeira morte em São Paulo.
Ainda assim, as curvas de contágio e morte hoje parecem incontornáveis. Isso tem sido combustível para a ira bolsonarista em suas redes, onde tomou corpo o boato de que o isolamento não tem muita serventia.
Mas as restrições foram quase sempre insuficientes, e, conforme a situação piorava, elas demoraram a ser enrijecidas. E mesmo nos lugares onde se declarou o lockdown, o que seria o confinamento mais duro possível, não necessariamente as medidas são ou foram dignas desse nome, com raríssimas exceções, como Araraquara (SP).
O nosso isolamento social é muito meia-boca. E o que é pior, é como aquele paciente que toma metade do antibiótico, não cura da infecção, mas tem dor de cabeça, dor de estômago e todos os efeitos colaterais.
Como bem sabemos, não é o que acontece. Nem poderia: mesmo onde as curvas diminuem, não dá para saber direito se é por redução nas contaminações ou pela falta de testes e atraso nos registros. Simplesmente não há dados confiáveis para determinar reaberturas.
Passamos das quatro mil mortes diárias e mesmo assim as medidas são tímidas. E se a taxa de ocupação de leitos de UTI cai 2%, e fica abaixo de 100, já vem o prefeito ou o governador a flexibilizar o que já era flexible.
O capitão cloroquina continua fazendo propaganda do tratamento precoce. E tem vice prefeito em Itabira, que é médico, que o segue. Quer dizer, o capitão manda, o gado obedece.
O Centrão continua extraindo dos cofres o necessário e muito mais para manter o fisiologismo do toma lá dá cá. Enquanto isto for possível seguirá apoiando as loucuras e imbecilidades do executivo. E só cairão fora quando ver prejudicado o seu projeto eleitoral de 2022.
Enquanto se desenvolve uma política de morte por não combater devidamente o vírus e a miséria que assola os mais humildes, morrerão mais e mais brasileiros de Covid ou de fome.
Os ministros, ah os ministros, seguem “passando a boiada”.
Ou se decreta um lockdown sério por 21 dias, um verdadeiro tranca-rua, e se vacina em massa a população, dando condições econômicas para que as pessoas fiquem em casa com auxílio mínimo de R$ 600, ou em pouco tempo atingiremos a trágica marca de meio milhão de mortos por inépcia.
Tudo isso é resultado da negligência do governo, que continua desdenhando da pandemia e receitando remédios inócuos que não curam – e que alguns médicos seguem ministrando esses mesmos medicamentos, como se fossem a panaceia para curar incautos pacientes que acreditam em receitas milagrosas que beiram o curandeirismo.
Em outras palavras, isso é parte da política necrófila do governo federal. É genocídio sim, senhor editor. E a sua autoria tem nome, sobrenome e prenome: capitão cloroquina.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional
A palavra em inglês é colocada como recurso colonizador. Para os eua, quanto mais morrer menos boca gritando contra.
Em Itabira tem um médico, vice-prefeito da cidade, fazendo campanha pro Kit Cloroquina. Além da necropolítica, o que mais está por detrás desta infâmia ignorante? A saber…