Lixo

Amanda Drumond*

O Estrangeiro,
Assim era chamado,
O homem que andava cabisbaixo,
Ele passava em ruas, festas
Sempre estava presente nas colunas sociais
O Estrangeiro que andava de cabeça baixa,
Dizem que possuía títulos e medalhas
Por andar de cabeça baixa,
ele sempre se deparava com o lixo humano,
Via os vícios
Vestígios da depravação,
Assim ele sempre refletia
Com seu coração,
Como o ser humano poderia se deixar cair tanto em tentação?
Dizem que o Estrangeiro,
Tinha amigos importantes
Todos falavam ao seu lado
Ele não respondia ninguém
Em silêncio,
somente se interessava em olhar para o chão.
Isso causava revolta e curiosidade,
Cochichavam os estúpidos,
Queriam ver os olhos do gringo,
Queriam saber o que procurava,
Os médicos e as fofoqueiras da cidade apostavam,
Diziam ser esquizofrênico,
Por conta de um amor mal resolvido, outros falavam de doenças e inflamações.
as línguas afiadas,
trucavam de quem era o lixo que estava no chão.
O que tanto faz ele somente mirar no que não tem valor na especulação?
O Estrangeiro se foi com o tempo,
buscando a luz na escuridão
ele deixou todos procurando,
O que tanto ele olhava,
Dizem que ele se afogou no lixo,
E assim, naturalmente,
Deixou de observar a vida,
Se perdendo na imensidão.

*Amanda Drumond é artista-plástica, escritora, poeta brasileira contemporânea, conhecida por sua escrita sensível e marcante. As suas poesias, crônicas e contos abordam temas como amor, feminilidade, empoderamento e autoconhecimento, muitas vezes explorando a dualidade entre força e vulnerabilidade.

Arte: Amanda Drumond

 

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