Lições da Revolução Socialista Russa
Veladimir Romano*
Da condição mais difícil ou da alma recarregada pelas vibrações estagnadas da memória, nem sempre tomando devidos ensaios como coisa certa e, que ao longo da vida como ela nos vai demonstrando, nem tudo é definitivamente colorido. Exemplos não faltam e aspetos históricos não fogem desde que alguém no poder, mande limpar todos quantos cadernos existam apontando realidades punitivas.
A Rússia do século passado, vinda um pouco mais no tempo anterior, quando a situação intempestiva dos “czares” [tsar=imperador] lutavam com todas as armas violentas para assim manterem o vasto império; entretanto, igual nas tentações ou na desgraça, foi caindo somando miséria, atraso, fome, escravatura branca, analfabetismo, entre outras agruras acumulando, agredindo povos da vasta terra russa.
Império complexo, extenso, enquadrado no regime sucessivo de camadas frígidas provocadas pelo duro inverno; depois, o verão quente e úmido sofrendo cargas de insetos estranhos, impiedosos acamados em nuvens assustadoras, dão o panorama do que seria viver numa das regiões do planeta mais desafiantes ao gênio humano, resistência física, anímica e psicológica.
Não admira que sejam populações rijas, saudável, multiplicado pelas outras localidades onde o Ocidente entra no Oriente. Quem viaje pelo corredor central russo, vai descobrindo fenômenos sociais e ligações humanas desconhecidas entre estes povos embora bem diferentes na separação cultural, costumes e tradições; nunca deixam de sustentar valores implementados nas horas mais dolorosas quando a grande Revolução criou ondas de choque.
Lições da Revolução de Outubro, só não querendo ver que, depois da tempestade, se criou uma bonança vitoriosa aos humanos viventes das regiões quase inóspitas, porém, hoje, em franco progresso, estabilidade [das melhores conjunturas do planeta] com extremo diminuto na criminalidade urbana dando alta segurança aos seus cidadãos. Às crianças estudantes se facilitam todos os materiais, cuidando as escolas e prefeituras da cultura física, oferecendo piscinas. Todas as quartas-feiras logo pela manhã, crianças entre vários estágios etários praticam natação sem qualquer custo financeiro aos familiares e se enchem centros de lazer para convívio de prática esportiva/desportiva.
A mais popular de todas as revoluções acumulou milhares de discussões acadêmicas, teorias em torno da longa dinastia Romanov, críticas aos revolucionários soviéticos e aos bolcheviques, esquecendo tais teorias o período conflituoso do “Outubro Vermelho” e da sua coincidência com a Primeira Grande Guerra onde soldados russos são chamados da linha fronteira vindo apoiar o movimento reformista.
Outro pormenor relacionado no cair do “Império Branco”, é o levantamento das mulheres desde 1896 lutando nas reivindicações laborais. Determinante o papel do setor feminino, um dos mais produtivos, pois nesse finar do século XIX, já representava 26,6%, subindo em 1917 a 43,4% dessa força laboral. Assim, o movimento operário têxtil, levantando greves em 1914 em Viborgue a 130 quilómetros de Petrogrado, exigindo melhor salário, apoio médico, higiene e descanso relacionado com as 14 horas diárias de trabalho; acabaram como reforço revolucionário sendo delegadas na Assembleia Constituinte.
Ao contrário daquilo que as traduções nem sempre claras e da informação desvairada [ao jeito ocidental] relatando inspiração revolucionária das origens marxistas, juntou-se em pormenor analítico a Lenine, um artigo então publicado em 1906 pelo filósofo Karl Kautsky [checo de origem austríaca: 1854-1938], também jornalista, um dos maiores teóricos da social-democracia, fundador do hoje PSD, alemão. No tema “Forças Relativas em Perspectiva de uma Revolução Russa”, observação de enorme impacto na inteligência de Vladimir Ilitch Ulianov, Leão Trotsky e até em Karl Radeck [da liderança bolchevique], numa clássica abordagem revolucionária esclarecida pela lógica, exposta a um possível movimento futurista e popular como estratégia final depondo o poder imperial. O tema criou pensadores, estratégias e a realização do combate revolucionário mais tarde até ao culminar revolucionário contra a [krizis vlasti] crise de poder levada a efeito pelas diferentes camadas exploradoras do povo como os [pomeshchiki] proprietários, os [tsenzoviki] burgueses, trazendo atrás [dvorianstvo] pequenos burgueses.
A longa briga revolucionária contra os [tverdaia] cabeças duras, exploradores do povo, iniciada em fevereiro de 1917 [1918], efetivamente, é em março. O calendário juliano então vigorando na época, representa não o outubro, mas novembro, respectivamente no calendário gregoriano, numa Rússia igualmente sofrendo conspirações germânicas conduzidas pela própria imperatriz, tempos violentos matando milhares de russos. Do tudo ou nada, dentro deste pleito dramático, insustentável, cruel e traiçoeiro; o remédio final passaria numa revolução influenciada pelas ideias contemporâneas deixadas por Karl Marx, influenciando pensamentos ou criando possíveis soluções contra o atraso e as injustiças.
Desde o colapso financeiro, insatisfação popular, desemprego massivo, inflação subindo, escravatura sobre mineiros, rurais sem terra vivendo em plena miséria, crianças exploradas em mão de obra; restava a solução revolucionária sobre a defesa da economia encontrando reformas urgentes contra a nobreza. Nascendo então em fevereiro [março], a famosa frase: [vsya vlast sovetam] “todo o poder aos sovietes”, acabando em outubro [novembro], apoiados pelos intelectuais socialistas, anarquistas, movimentos trabalhistas e soldados retirados das linhas avançadas da guerra, mantidos na fronteira polonesa/polaca-alemã.
Muitas são as lições retiradas da “Revolução de Outubro”, valendo pelo refletir visto que a lista é extensa, variada, de como engloba muitas virtudes junto a defeitos, naturalmente, sendo na época a maré das incertezas misturada numa teia de conflitos de vária ordem no [difícil] entendimento coletivo nem sempre possível e limpo. Mas, o sentido de missão, a lealdade, coragem, ou determinação de um povo e dos seus líderes acreditando numa revolução reformadora, retirando o povo das injustiças como escravidão imposta pelos imperadores, os clãs oportunistas ligados no poder; foi a luta em busca da legitimidade, habilidade estratégica, inteligência na eliminação dos inimigos numa sociedade viciada, super conservadora e, dessa clareza pensadora foi essencial no rápido formato criativo dos programas políticos em favor das soluções contra primeiros problemas e necessidades primárias das populações.
A conjugação do soviete [conselho operário] com o movimento bolchevique [os maioritários], nunca deixando de anunciar a determinação moralizadora, carregando energia suplementar certeira das mulheres operárias russas, acreditando que aquela revolução igualmente seria o momento ideal na sua maior emancipação social e profissional seguindo imediata organização política, logo administrar o aparelho estatal, comandar destinos. Aqui, poucos ainda hoje a Ocidente serão capazes de seriamente valorizar a maior de todas as lutas do povo unido contra o domínio escravocrata imposto pelo poder imperial na Rússia.
No entanto, do realismo e da resistência das ruas de Petrogrado a Moscovo, Samara ou Ialta até nas regiões mais profundas do mundo rural, levou a revolução mais quatro anos até poder eliminar restos imperialistas no mais oriental da imensa Rússia. Com o poder declarado: Nakhodka [Narrodca], Vladivostoque ou Khabarovsk [Rabarovesque]; pontos vitais na transformação social baseada na longa marcha iniciada em fevereiro de 1917 [ou março de 1918], pelo meio de turbulentos congressos entre junho a outubro [julho a novembro], a energia popular sobre a mediocridade burguesa, venceu o [dvoelastie] o poder duplo dos apelidados [tverdaia], seja, “cabeça dura”.
Tivessem os povos deste planeta do presente metade da coragem dos militantes vermelhos, certamente não teríamos agora nas ditas “democracias modernas”, as crises, a corrupção e as quadrilhas políticas monopolizando poderes, criando vergonhosos círculos oportunistas dominado economias nas mãos de elites, novamente dominando povos e desejando comandar escravos num Capitalismo carregado de contradições, crimes, frustrações, desequilíbrios, aprumando ao poder grupos verdadeiramente criminosos.
Falar do Socialismo, causa de tanta luta na defesa dos direitos humanos, ficará profundamente adulterado enquanto tanta loucura consumista dominar o vazio que hoje os povos estão consumindo. Lições determinadas pelo esforço conjunto dos povos, ficam na memória até que um dia novo venha nascer… repisar novamente o caminho que uma vez foi confrontado com a miséria social, humana e prática da ciência política.
* Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia
Fica a todos nós o legado do sentimento do Socialismo, que não deve ser perdido nem nessas épocas bicudas que o fascismo flue com tanta força.