Ladainha
Fotos: Mauro Moura
Maria Julieta Drummond de Andrade
(Belo Horizonte, 4 de março de 1928 – Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1987)
Causa de nossa alegria –
eleison.
Rainha das flores,
das calêndulas e camélias,
das anêmonas e campanulas,
Verbenas, primuláceas,
Amapolas e gerânios –
audi nos, exaudi nos.
Rainha do jasmim
da-itália, da-Virgínia, de-veneza,
Jasmim-do-imperador,
Jasmim-verde, amarelo, azul,
azulíneo, azul-seda,
Azulão-de Ovalle-e-Bandeira –
ora pro nóbis.
Rainha dos marimbondos,
das formigas e joaninhas,
Rainha das abelhas,
dulcíflua,
dulcíloqua Dulcinéia,
Regina, puríssima,
amabilis admirabilis,
poderosa, benigna, fiel
Deusa das mariposas,
Libélulas, borboletas –
Tende piedade de nós.
Rosa-dos-ventos, rosa-dos-rumos,
Rosália,
Rosa-maravilha,
Coroa de margaridas
Do transval, anual, do campo.
Margaridinha-menor –
corai nossos cabelos.
Viço de vida,
Fulgor, seiva,
Resina, raiz,
Plâncton, plenitude –
apaziguai nossa pele.
Amor-do-campo, do-mato, da-china,
Amor-perfeito,
Estrela da manhã, estrela da tarde
binária, cadente,
circumpolar,
Estrela fixa, fugaz,
múltipla, fundamental, nuclear
variável,
Vênus, estrela Vésper,
de-ouro, do-norte, do-mar,
Estrela-de-Jerusalém,
consoladora dos aflitos –
estrelai a escuridão.
Lírio-d’água, do-brejo,
do-amazonas, do-mar,
Lírio-das-pedras, roxo,
lirial, liriforme,
Lira puríssima,
Flor-de-Lis –
serenai nossa aflição.
Diana selvagem, entre
“Elfos de lua,
Gnomos, rondas fluidas”,
“Ninfas, nereidas, dríades, oreadas,
Napéas coleantes,
Oceânides melodiosas” –
eleison.
Fênix, Daphne, Juno,
Musa dos centauros
e minotauros –
audi nos, exaudi nos.
Peixe-prata,
sereia de peixe-rei –
ouvi-nos e atendei
nossa livre fantasia.
Pomba-espelho, do sertão,
Pomba-rola,
Pombinha-das-almas,
Mocinha-branca,
Moça-bonita,
minha juventude,
Miosótis –
não-me-deixes, ai
não-me-esqueças.
Sabiá-da-praia,
da-restinga, da-campina,
Sabiá-laranjeira –
cantai por nós,
livrai-nos de todo o mal
e de todo bem acercai-nos.
Equinócio de setembro,
Solstício em dezembro,
Imperatriz primeira
prístina princesa,
Prímula –
primaverai.
[O Valor da Vida. Nova Fronteira, RJ, 1982]
Corujas residentes no pico do Amor (Fotos: Mauro Moura)