Laços de sangue e de crime em Itabira do Matto Dentro – Flagelos da vida

Obra de Gustavo e Otávio. Exposição Os Gêmeos, no CCBB, Rio. MCS, outubro de 2022

Pesquisa e fotos:
Cristina Silveira

1875 Gengiber de aguardente e tártaro emético

Envenenamento. Escrevem-nos da cidade da Itabira em 25 do corrente mês: Deu-se aqui há poucos dias o seguinte fato de envenenamento – O sr. Antônio Carlos R. Horta, tendo observado que os gambás comiam-lhe as uvas de uma parreira que tem em seu quintal, assentou de acabar com eles envenenando-os com tártaro emético, e para este fim mandou deitar em uma garrafa de aguardente uma forte doze desse sal e à noite distribuiu o liquido em vasilhas que colocou entre as folhas da videira.

Os gambás beberam, mas se morreram ou não, não se sabe; o que é certo é que a garrafa no fundo da qual ficou uma grande porção de emético, sendo colocada entre outras garrafas que havia em casa, deu lugar ao seguinte fato lamentável: uma escrava, tendo feito com ananás uma espécie de gengiber, tratou de engarrafa-la para fermentar, servindo-se das garrafas que havia em casa e que supunha limpas; dias depois abriu uma garrafa, bebeu um pouco e deu a beber a mais nove pessoas da casa.

Mom,entos depois manifestou-se em todos quantos beberam os sintomas de um envenenamento ativo: cólicas violentas, vômitos, evacuações abundantes, prostração. Verificando o envenenamento, prontos socorros foram administrados, mas não obstante sucumbir um escravo, escapando oito pessoas de uma morte certa, se não fosse a prontidão com que foram socorridas. Não consta que autoridade alguma tomasse conhecimento do fato”. [Diário de Minas, 1/2/1875. BN-Rio]

1875 Catástrofe climática em Sant’Anna dos Ferros

Fato lamentável. De um amigo nosso da cidade da Itabira recebemos a seguinte notícia, com data de 29 de mês p. passado.

As chuvas que incessantemente têm caído nestes últimos dois meses produziram estragos por toda parte. No arraial de Sant’Anna dos Ferros, município da Itabira, porém, os estragos têm sido devastadores; as chuvas têm aluído terrenos, destruído plantações, estradas, cavas.

No dia 25 do corrente, às 6 horas da tarde, um temporal desfeito caiu copiosamente até às 3 horas da manhã do dia seguinte; a esta hora foi a pacifica população despertada pelo mais triste e lamentável acontecimento. A casa do sr. Joaquim Jeronimo, que é próxima da povoação e na fralda de um morro foi literalmente coberta por um enorme banco de terra que, deslocando-se da montanha, abafou tudo!

Oito pessoas da família ficaram sepultadas debaixo do entulho, escapando o sr. Joaquim Jeronimo, 2 filhos e escravos todos contusos, que estando de pé tiveram tempo de se refugiarem em um engenho a pouca distância da casa.

Concorrendo logo ao amanhecer muitas pessoas, conseguiram remover a terra e retiraram 3 cadáveres, e uma moça que ainda respirava, mas que não dava esperanças de vida. Continuam na escavação, afim de descobrir os que faltam, e até a última hora pouco tinham conseguido, porque a chuva continuava dificultando o trabalho e ameaçando novas desgraças.

[Diário de Minas, 4/2/1875. BN-Rio]

O império acudiu Ferros

Parte Oficial. Tesouraria da Fazenda – “Em aviso do Ministério dos Negócios do Império, de 17 do corrente mês, me foi declarado que ficavam aprovados, pela verba, Socorros Públicos, do exercício de 1874-75, os dois créditos abertos sob a responsabilidade desta presidência, na importância de 700$, sendo um de 500$ para acudir os habitantes da freguesia de Sant’Anna dos Ferros, município de Itabira, vítimas da fome e mais estragos causados pelas chuvas torrenciais que ali caíram ultimamente.

[Diário de Minas, 9/4/1875. BN-Rio]

SOS para Ferros

Parte Oficial. A Tesouraria da Fazenda, recomendando, em aditamento ao ofício de 23/2 p. findo, que expeça as convenientes ordens para a importância do crédito aberto para socorrer aos indivíduos vítimas dos estragos causados em Sant’Anna dos ferros pelas chuvas torrenciais, seja entregue à Comissão de que trata aquele ofício, por intermédio da coletoria da Itabira. [Diário de Minas, 17/4/1875. BN-Rio]

Pichação na lata, R. da Assembleia, centro Rio fevereiro de 2017

1875 Aposta de morte

Da cidade de Itabira haviam comunicado, em data de 27 passado, ao Diário de Minas o seguinte: No dia 24 do corrente deu-se nesta cidade o seguinte fato: José Fecundo Velloso, moço robusto, de 20 anos de idade, porém muito amante da pinga, apostou com Joaquim Rodrigues Malta de beber de uma só vez uma garrafa de licor, ou perder 1$, se o não conseguisse.

Aceita a aposta, Malta forneceu o licor, que foi incontinente bebido; mais daí a pouco caiu Velloso embriagado e com os dentes cerrados. Levado para casa de seus parentes, sucumbiu poucas horas depois.

[Jornal de Recife (PE), 29/3/1875. BN-Rio]

1879 Um tiro e onze punhaladas. Sucumbiram, um depois do outro

Nos primeiros dias deste mês no lugar denominado – Quebra – deste município, foi assassinado o nosso prestimoso amigo e correligionário G. Modesto José Barbalho, importante negociante da cidade de Itabira, que tratando de fazer cobranças, dirigiu-se  àquele lugar, e exigindo de Antônio dos Santos uma pequena quantia que este lhe devia.

Foi pago com uma bala, mas antes de sucumbir atirou-se sobre Santos e deu lhe 11 punhaladas. Sucumbiram ambos um depois do outro, poucas horas depois do conflito. Barbalho, depois do conflito, inda senhor de si, entregou uma patrona que trazia com dinheiro, ao honrado e probo cidadão Manoel Antônio, e pediu-lhe que a remetesse com seu pajem a entregar a sua senhora, que lá estava na Itabira, ignorando o que por cá se dava.

[O Conservador, 20/11/1879. BN-Rio]

1881 Um cubano na Cidadezinha

De uma carta de Itabira de 25 de julho extraímos o seguinte: Está aqui e segue para essa corte um Dom João Osório, que condenado à morte em Cuba por ter-se envolvido na insurreição daquela ilha, conseguiu, ainda moço e estudante de medicina em Havana, escapar aos espanhóis e veio por terra do Belém do Pará até aqui.

Diz ele que para conhecer o interior do Brasil, tendo percorrido sete províncias e dado muitas voltas; creio ter ele viajado mais de 600 léguas por esses desertos! Foi atacado de febre no Rio de S. Francisco e está muito magro. Como deve ter sofrido este homem atravessando lugares despovoados, dormindo ao relento, etc., etc., e, contudo, diz que não se arrepende de ter empreendido semelhante viagem.

[Diário de Pernambuco, 30/8/1881.BN-Rio]

Grafite de Wagner Trancoso na Rua das Laranjeiras, Rio. MCS, 2022

1882 Boi Bravo

Consta-nos ter aparecido pelos lados do município de Itabira um grande boi, que, com tremendas chifradas, aterrorizou os habitantes de todos os lugares por onde passava. Felizmente resolveu o feroz animal procurar seus pastos, que, segundo dizem, ficam nas margens de um ribeirão manso, em Sant’Anna dos Ferros. Seria um benefício feito a muita gente boa aparar-se as pontas deste perigoso animal. Um boiadeiro.

[Gazeta de Notícias (RJ), 15/5/1882. BN-Rio]

O grito, grafite numa garagem na R. Al. Alexandrino, Santa Teresa, Rio. MCS, dezembro de 2018

1884 Eva, uma tal Garrucheira

Uma tal Eva. Senhor Redator. Peço-lhe que insira em seu conceituado jornal o fato que passo a narrar, para chamar a atenção das autoridades competentes afim de pôr se cobro aos desmandos de uma tal Eva Messias, moradora de Santa Maria (município da cidade de Itabira), a qual embriaga-se continuamente para, como diz, vociferar em altos brados quantos insultos lhe sugere o cérebro alcoolizado, faltando ao decoro e respeito às famílias, com palavras obscenas e injuriosas que atira a todos indistintamente, tocando na vida íntima de cada um, na honra de senhoras casadas, que diz serem tão boas como ela.

Como se tolera isto, quase diariamente por atenções particulares, resta-me o recurso de vir à imprensa pedir providências a estes desacatos à moral pública, e a que constantemente estão expostas as famílias vizinhas, que são perturbadas em seu repouso até alta noite com o cinismo de tal mulher, que impunimente vai contaminando em seu viver insultuoso! Espera providências. Um dos que sofrem.

[Gazeta de Notícias, 26/2/1884. BN-Rio]

1886 Atentado contra o tenente-coronel

O presidente da província de Minas Gerais, em resposta a um telegrama do sr. ministro da Justiça, dirigiu-lhe o seguinte:

O tenente coronel Emereciano Santiago, em 7 do corrente, telegrafou da cidade de Itabira à redação da Província de Minas, nos seguintes termos:

Esta noite tentaram fazer saltar a casa de minha residência com uma bomba de dinamite junto à porta da entrada. As paredes ficaram abaladas, os vidros quebrados e muito estragos. Motivos políticos.

O dr. chefe de Polícia a quem remeti o dito telegrama, que me havia sido apresentado por um amigo, imediatamente pediu informações ao delegado. Este respondeu-lhe, no mesmo dia 7, haver tomado providências, feito auto e inquérito, não sendo conhecido os autores. Por meu turno também exigi informações do juiz de direito e promotor público, recomendando-lhes providências para o descobrimento e punições dos autores.

A resposta do primeiro foi que o delegado procede o inquérito, e a segunda que parecia não ter havido intenção criminosa no fato, visto a bomba ter sido posta e arrebentada na rua, produzindo insignificantes estragos. Nada mais houve; aguardo ulteriores informações que em ofício transmitirei a V.Exa.

[Jornal do Recife (PE), 23/11/1886. BN-Rio]

1887 A polícia de Santa Maria de Itabira

A esforços do subdelegado da Januária, termo de Itabira, o réu Manoel de Valladares e Silva, pronunciado no art. 193 do código criminal. Por ocasião de ser conduzido até aquela cidade, o dito subdelegado tomou o alvitre de acompanhar o réu, que conseguiu evadir-se em caminho, sendo de novo capturado com auxílio do subdelegado de Santa Maria, e recolhido à cadeia.

[A União (MG), 5/2/1887. BN-Rio]

 

 

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1 Comentário

  1. Naqueles idos entre 70 e 80 a coisa andou mesmo agitada nos prontuários policiais de Itabira e região.
    E a Eva, a manguaça, lembrei-me da “Geni” e o Zepelim.
    Fora o licor brabo da aposta, que triste.

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