Aplicativo do ItabirAr, parceria Unifei/Prefeitura, vai monitorar também as queimadas na cidade

Fotos: Carlos Cruz

Com a poeira da Vale dentro dos “parâmetros normais”, conforme foi divulgado na reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), na sexta-feira, 11, mesmo considerando os padrões municipais mais restritivos, que a Vale quer derrubar para não ter de não pagar multas, a novidade foi a apresentação de mais um produto da parceria ItabirAr, firmada entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Instituto de Ciência Puras e Aplicadas da Unifei.

Trata-se da apresentação da primeira etapa do Inventário de Emissões Atmosféricas de Itabira, ainda incompleto por falta de participação de empreendedores itabiranos, que se recusaram a responder um simples questionário de gastos energéticos, cujo levantamento teve início no início de junho do ano passado.

“São previstas cinco áreas de atuação pela parceria”, disse a professora Ana Carolina Vasques Freitas, da Unifei, coordenadora da parceria ItabirAr, cujo primeiro produto foi viabilizar a divulgação em tempo real dos dados do monitoramento da qualidade do ar, que antes era só se tornava “público” pela Secretaria de Meio Ambiente apenas nas reuniões mensais do Codema.

Leia mais aqui sobre a resistência do governo passado em divulgar os índices da poeira em tempo real

Informações necessárias

A professora Ana Carolina sugere a utilização das informações do portal ItabirAr para debater nas escolas sobre a qualidade do ar em Itabira

No portal ItabirAr é possível ter acesso também às interpretações e explicações científicas sobre as condições ambientais no município. “São informações que podem ser utilizadas em salas de aula”, sugere a professora da Unifei, relacionando mais uma área de atuação do projeto, que é a educação ambiental.

Segunda ela, na segunda fase do projeto ItabirAr vai ser criado um aplicativo para se saber os pontos específicos de ocorrência de queimadas e de incêndios florestais na cidade.

“Por esse aplicativo, moradores vão poder informar onde está ocorrendo uma queimada, para que sejam mobilizadas em tempo ágil as brigadas anti-incêndios e o Corpo de Bombeiros”, adiantou Ana Carolina.

Sensores móveis vão monitorar a qualidade do ar em Itabira, um complemento ao monitoramento feito pela própria Vale nas estações fixas

Outra novidade será monitoramento móvel da qualidade do ar em Itabira, hoje restrito às quatro estações fixas da rede automática de monitoramento, operada por empresa contratada pela mineradora Vale.

“Serão empregados sensores móveis de baixo custo que possibilitarão ter um diagnóstico e prognóstico mais abrangentes da qualidade do ar na cidade de Itabira”, ela explicou.

Segundo a professora salientou, a principal fonte de poluição em Itabira é a mineração, mas existem outros agentes que precisam ser identificados e monitorados.

“Vamos conhecer essas fontes e os impactos à saúde da população, subsidiando ações de monitoramento e mitigação, além de instituir o núcleo de divulgação ItabirAr”, relacionou a professora.

Sem respostas I

Marcos Roberto de Abreu Alves, professor da Unifei e coordenador do Inventario de Emissões Atmosféricas de Itabira

O professor Marcos Roberto de Abreu Alves, coordenador do Inventario de Emissões Atmosféricas de Itabira lamentou o baixo retorno dos questionários encaminhados a 600 empresas itabiranas, para que informassem as fontes de emissões atmosféricas, ainda que de baixo impactos.

Carvoarias são também outras fontes de poluição atmosférica em Itabira

“Foi encaminhado um questionário bastante simples e fizemos contato, em nome da Unifei, com todas as empresas explicando o objetivo do inventário. Lamentavelmente, apenas seis empresas responderam”, contou o pesquisador da Unifei na reunião do Codema.

Mesmo incompleto, e tendo por base o ano de 2021, o inventário apresenta dados importantes para o conhecimento da qualidade do ar e das fontes emissora na cidade.

Excetuando a usina de ferro-gusa, no Distrito Industrial, mesmo não tendo sido citada na apresentação no Codema como a segunda fonte poluidora em Itabira, as demais atividades são de baixo impactos: panificadoras, oficinas mecânicas, usinagem mecânica, carvoarias.

Usina de ferro gusa é o segundo agente poluidor em Itabira, impactando inclusive outras atividades no Distrito Industrial

Além das fontes fixas, outra fonte poluidora de grande impacto são os veículos automotivos. Pelos dados cadastrais de veículos emplacados em 2021, a frota circulante em Itabira é (era) de 18.478 automóveis, 4.839 veículos comerciais leves, 1.202 caminhões, 948 ônibus, além de 4.207 motos.

Totalizam 29.674 veículos automotores, mas, estima-se em mais de 50 mil quando incluídos os que prestam serviços à Vale emplacados em outras cidades – e mais os que estão de passagem diariamente na cidade.

Segundo o professor Marcos Alves, os veículos pesados a diesel são os principais emissores. Responderam em 2021 por 93% das emissões de óxidos de nitrogênio e 87,3% das emissões de dióxido de enxofre.

Imagine-se o impacto das emissões dos equipamentos fora-de-estrada da mineradora Vale, que não participaram do inventário, mas que precisam ser divulgadas e conhecidas para complementar o inventário das emissões atmosféricas na cidade.

Já em relação às emissões de monóxido de carbono os automóveis menores são os principais responsáveis. Respondem por 42,5% das emissões, enquanto os caminhões por 28,8%, motocicletas 18,7%, veículos comerciais leves 10%.

Outras fontes poluidoras são os veículos com intenso movimento na cidade

Sem respostas II

Na reunião anterior do Codema, foi solicitado o envio de informações pela Secretaria Municipal de Saúde sobre a ocorrência de doenças respiratórias e a sua correlação com os episódios críticos, que sempre ocorrem nesta época do ano, com o aumento da poeira da Vale em suspensão.

A expectativa era de que esses dados seriam apresentados na reunião deste mês, mas isso não ocorreu. A justificativa é que os dados estão sendo apurados e devem ser apresentados na reunião de setembro.

São informações que precisam ser ampliadas, inclusive com a continuidade do estudo epidemiológico, não conclusivo, realizado em 2005 pelo Laboratório de Poluição Atmosférica, da Universidade de São Paulo (USP), liderado pelo professor Paulo Saldiva, contratado pela Vale, em cumprimento a uma das condicionantes da LOC.

Na ocasião, na apresentação pela equipe de Paulo Saldiva, foi apontada a necessidade de aprofundar os estudos, pois havia sido constatada uma grande incidência de doenças cardiorrespiratórias, que não foram objeto do estudo epidemiológico de 2005.

Mas nada disso aconteceu. A Vale não fez aditivo ao contrato com a USP e as autoridades políticas e de saúde de Itabira nada cobraram.

 

 

 

 

 

 

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