Laços de sangue e crimes em Itabira do Matto Dentro – A mineração destrói e o povo ignora

Foto: Reprodução

Pesquisas: Cristina Silveira

1971 Itabira, cidade da maldição

Prêmio Esso de Jornalismo. Contribuição e regionais – Região 2 – Theodomiro Lopes Ferreira, do Diário de Minas, com o conjunto de fotos “ITABIRA, CIDADE DA MALDIÇÃO”.

[Diário de Pernambuco (PE), 24/12/1971. BN-Rio]

1973 A mineração destrói e o povo ignora

A velha casa de pau-a-pique, na Fazenda do Pontal, em Itabira, onde o menino Carlos Drummond de Andrade passava suas férias escolares, e que mais tarde herdou, com o falecimento dos pais, foi DEMOLIDA pela CIA VALE DO RIO DOCE, que no local vai executar obras dos seus planos de expansão.

A Cia decidiu tomar a medida, porque se esgotaram os prazos concedidos ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico que ficou de apresentar projeto para que a casa fosse transportada para a cidade ou para outro lugar do município.

Tão logo seja resolvido pela CVRD, ou mesmo pela Prefeitura de Itabira, qual será o sítio em que ficará a casa, o IEPHA terá todas as condições técnicas de auxiliar a Cia na recuperação da sede da antiga Fazenda do Pontal. Ou será apenas mais uma fotografia na parede?

[Diário de Pernambuco (PE), 31/5/1973. BN-Rio]

Arte na rua, Lapa, RJ (Foto: Cristina Silveira)

1974 A doce vida de Django

– Todos os donos de hotéis da Barra da Tijuca e da Baixada Fluminense conhecem as minhas atividades criminosas. Nos hotéis, onde gastava até 4 mil cruzeiros por dia em farras monumentais com muitas mulheres, uísque e cocaína, eu podia viver tranquilamente, certo de que a polícia não me encontraria.

Eis parte do depoimento de Paulo Roberto Sanches, o Django, solteiro 21 anos, preso na 26ª. DP.

Paulo Roberto confessou ter praticado 16 assaltos a supermercados, levantando uma fortuna em mais de um milhão de cruzeiros. Só no mês de janeiro gastou 85 mil em festas, hospedando no Hotel Nacional quando assistiu ao show de Lisa Minnelli.

Bem falante, simpático, boa aparência, Paulo Roberto Sanches contou que começou no crime ainda adolescente.

Aos 16 anos foi preso. Encaminhado para o Instituto Padre Severiano e dali levado para Itabira, MG, onde conseguiu aprender mecânica de automóveis.

– Mas Itabira é uma cidade fria e não tinha cocaína, quando fiz 18 anos voltei ao Rio. De volta, passei a controlar a rede de tóxico de Engenho de Dentro a Cascadura, a minha principal boca de venda de tóxico era em frente a Faculdade Gama Filho, que me dava de 2 mil e 500 cruzeiros diários. Ganhei fortuna e gastei rios de dinheiro.

– Gostei muito de ser preso – diz Django – pois eu estava muito viciadão em cocaina, chegando a cheirar 25 gramas por dia. Tenho ódio de ladrões que assaltam operários, motarista de táxi. Só gosto de assaltar empresas que tenham seguros.

[Luta Democrática (RJ), 25/3/1974. BN-Rio]

1974 Mulheres sem cabeça

Maníaco matou duas mulheres. Depois de localizar o corpo de uma mulher sem cabeça, pescoço e o braço esquerdo e, horas depois, encontrar a cabeça de outra pessoa, sem o pescoço, a 200 metros do local do primeiro encontro, a Polícia de Itabira, MG, ainda não sabe explicar se o autor de um dos crimes é o homem que matou a mulher e foi levado para o hospital local ou se existe algum louco a solta na região.

Essa suspeita parte do fato de que o corpo da primeira vítima encontrada estava com marcas de queimaduras, o que coincide com o inexplicável estado em que foi encontrado o operário Jerson Camilo do Carmo, de 26 anos, que havia matado a mulher Angelita Gonçalves do Carmo, por enforcamento.

Segundo o delegado de Itabira, Gilberto Monteiro, a segunda mulher foi encontrada nas matas de Acesita, às margens da Estrada da Jacutinga, nua e deitada de bruços.

Os autores do achado foram empregados da firma que de pronto comunicaram os dois crimes às autoridades policiais da área, baseados apenas em hipóteses. Todas as delegacias da área que compreende Itabira estão em alerta, acreditando que, algum maníaco está à solta na região.

[Luta Democrática, 8/7/1974. BN-Rio]

1974 Rapaz de 16 anos matou 3 crianças

A polícia de Itabira, MG, acredita que o menor APC, de 16 anos, tenha matado a golpe de socos e faca, três crianças de dez, oito e sete anos de idade, cujos corpos foram encontrados, o primeiro numa casa abandonada, o segundo dentro de uma manilha de esgoto e o terceiro, já em adiantado estado de decomposição, em um matagal.

Mortes – No dia 28 de setembro último a primeira morta foi encontrada numa casa abandonada. O menor APC foi apontado como suspeito número um, mas foi libertado pela Polícia por total falta de provas.

No domingo a segunda criança foi encontrada dentro de uma manilha. Ao ser interrogado, APC confessou a autoria do crime, porém negou ter sido o autor do primeiro. O terceiro corpo, já em total estado de decomposição, foi encontrado pela Polícia na terça feira última, num matagal.

Desde que ocorreu o primeiro assassinato o delegado Gilberto Monteiro vem encontrando sérias dificuldades para localizar o criminoso.

Segundo o escrivão da Polícia local as ruas de Itabira estão cheias de menores desocupados, a maioria favelados e abandonados.

O menor APC era sempre visto em companhia das três vítimas, mas ao ser preso e interrogado, negou ter assassinado todos os três meninos. Depois afirmou que só matou um no dia 22 deste mês, batendo sua cabeça contra a manilha. Disse ainda, que depois de morto quis esconder o corpo, e enfiou-o dentro do esgoto onde foi encontrado.

Quase que ao mesmo instante em que APC era preso, a Polícia localizava num matagal, o terceiro corpo semidevorado por urubus. Levado para o legista, foi identificado como antigo companheiro de APC.

Apenas em um dos meninos foram encontradas marcas de sevicia. Nos outros dois, devido ao estado de conservação dos corpos, o legista não pode identifica-los, porém, a Polícia acredita que os três foram seviciados.

A polícia de Itabira continuará interrogando APC e depois o encaminhará ao juizado de Menores, que decidirá o seu destino.

[Luta Democrática (RJ), 28/11/1974. BN-Rio]

Arte na rua, Lapa, Rio (Foto: Cristina Silveira)

1977 Noivo morre na igreja

Tudo estava preparado para o casamento na igreja do Rosário, no centro de Itabira. No começo da cerimônia, o noivo Oliveira Félix (19 anos), sentiu-se mal e, antes de ser socorrido, acabou morrendo. A polícia suspeita de envenenamento.

Esse fato aconteceu domingo, e até ontem a polícia ainda não tinha explicação para o caso, pedindo o comparecimento de médicos legistas, que fizeram a autopsia, mas ainda não dispõem dos resultados.

[Diário de Pernambuco, 6/7/1977. BN-Rio]

1984 Frango Pimenta e Sangue

O lavrador Eugênio Zacarias, de 39 anos, teve sua prisão preventiva decretada ontem, no município de Itabira, no Vale do Aço, acusado de matar seu próprio irmão Francisco de Assis Zacarias, de 37 anos, com várias facadas no peito e na barriga. Tudo aconteceu por causa, de um frango que os familiares preparavam na noite de Natal.

Eugênio chegou em casa disposto a temperar sua própria ceia e ao ver o irmão preparando um frango no fogão, não teve dúvidas; jogou meio litro de pimenta no assado. Os familiares ficaram revoltados e ordenaram a Eugenio que comesse o frango puro com pimenta, sem adicionar nada que pudesse melhorar o tempero.

Eugênio não conseguiu saborear a ave e enfurecido armou-se de uma faca e investiu contra o seu irmão, que assistia à cena, matando-o com vários golpes. Eugênio está foragido, mas a polícia local já conseguiu da justiça a decretação de sua prisão preventiva.

[Luta Democrática (RJ), 20/1/1984. BN-Rio]

 

 

 

 

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2 Comentários

  1. Quanto à Fazenda do Pontal, a mesma, juntamente com a do Pereira, foi passada por Carlos de Paula ainda em vida aos filhos.
    O que era a fazenda “dos doze”, hoje foi transformado em um lamaçal de rejeito da mineração de ferro e bem próximo ao centro urbano de Itabira.
    A sede da fazenda está remontada bem acima do lama;cal, grande vista lunar aquela.
    Coisas das torpezas do funcionamento desta mineradora na cidade sem voz.
    E às demais notícias, foi época muito difícil na terra da poeira por conta da grande migração que ocorreu com a expansão da exploração das minas.
    E o noivo, bem a noiva deve ter sofrido demais com a perda ocorrida pouco antes de subir ao altar da igreja.

  2. Poisé caro Mauro… construíram aquela aberração arquitetônica no esgoto sanitário da mineração. quem projetou esta merde ofendeu a memória do poeta, da cidade, do povo da cidade.
    Jamais visitarei o campo da derrota incomparável, símbolo do Poder de fato da mineradora em Itabira.
    E fico besta, que em Itabira “batem palma de contentamento” (prefeito Luís Menezes) por este símbolo claro da destruição, do arrasamento do espírito Itabirano.
    Depois de comer as mentes “es roba até os bode da gente”.
    Os Respeitáveis….

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