Julia Deodora lança álbum Kadara celebrando a ancestralidade, com show gratuito no Cine Theatro Brasil, em BH

Foto: Denise dos Santos/
Divulgação

Refletindo a autodescoberta da identidade de Julia Deodora, Kadara é um convite para um destino cantado e uma conversa íntima 

A cantora e compositora Júlia Deodora lança seu primeiro álbum, Kadara, um projeto que transita entre a ancestralidade, identidade negra, memória e a força dos caminhos. O título do álbum vem da palavra “kadara”, que, no iorubá, significa destino.

O disco será apresentado ao público no dia 22 de março, às 19h, com um show de lançamento gratuito no Cine Theatro Brasil, no centro de Belo Horizonte, trazendo um momento de escuta íntima e partilha de afetos por meio das canções. Ouça abaixo, em Canções que contam histórias.

 Os ingressos serão distribuídos gratuitamente pelo Eventim e poderão ser retirados na bilheteria do local.

Mais do que um conjunto de canções, Kadara é um mergulho nas raízes da artista, uma viagem pelas histórias que moldaram sua identidade. “Esse álbum é a materialização de um processo de reencontro comigo mesma, com a história das mulheres da minha família e com a minha ancestralidade. Cada música carrega um pouco dessa caminhada”, afirma a artista.

(Foto: Denise dos Santos/Divulgação)

As músicas estarão disponíveis nas plataformas digitais a partir do dia 20 de março, mas é possível fazer o pré-save das canções.

Os ingressos podem ser retirados pela plataforma Eventim e na bilheteria do teatro na avenida Amazonas, 315 – Centro. Mais do que um evento musical, o show promete ser um encontro de histórias, sentimentos e resistência, em uma noite que celebra a potência da arte negra brasileira.

Raízes, sonho e descoberta musical

A artista conta como a música se tornou um lugar de conforto para ela desde criança. “A minha história com a música é aquele clichê de ‘desde sempre’, mas é muito real. As lembranças mais marcantes da minha infância são ouvindo música com minha mãe e meu irmão. Sempre fomos nós três. Minha mãe sempre colocava músicas para tocar em casa, e eu ficava fascinada pelo que ouvia. Era como se a música fosse um refúgio e, ao mesmo tempo, uma conexão com algo muito maior”, conta Júlia.

Foto: Denise dos Santos/Divulgação

A artista iniciou sua formação no violão aos 12 anos, tocando na igreja, mas foi no curso de teatro no Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias, Cicalt, que a arte entrou de vez para vida da artista, enquanto ainda dividia sua profissão como atendente de farmácia. Após migrar para o curso de música na mesma escola, Júlia foi se descobrindo cada vez uma cantora e compositora.

“Foi parte de um processo de cura entrar para a música, eu fui começando a compor e a fazer as pazes com uma parte antiga minha, lembrando de quando eu ainda era mais jovem e tinha inseguranças em relação ao cabelo, à cor da pele e às questões ligadas a autoimagem e beleza, isso tudo foi sendo curado na medida que as palavras e a música foi entrando na minha vida”, ela conta.

Entretanto, foi depois de um sonho com sua bisavó que Ana Júlia, nome de batismo da artista, teve um estalo e decidiu se entregar à composição e à música de forma definitiva. Ela conta: “Eu quase fui batizada como Julia Deodora, mas meu nome foi escolhido para homenagear minhas duas bisavós, Ana e Júlia Deodora”, conta e prossegue:

“Mas, certa vez, eu sonhei que estava procurando a Júlia Deodora, que é minha bisavó. Eu não a encontrava, mas cheguei a um lugar onde todas as pessoas eram descendentes dela. Tinha uma casa com fotografias, e nelas ela passava por escravizada liberta, lavadeira, doméstica, até se tornar artista e sonhadora. Esse sonho me impactou muito. Foi como se ela estivesse me mostrando que eu também tinha o direito de sonhar e trilhar meu caminho na arte”, relata.

A partir desse momento, sua relação com a arte se intensificou e resultou nas canções que compõem “KADARA”. Durante o período de formação no Cicalt, Júlia ingressou na Fundação de Educação Artística, onde atualmente estuda violoncelo. Além disso, Júlia é estudante de música da UFMG.

A construção de Kadara

Foto: Denise dos Santos/Divulgação)

Sem um plano inicial para um álbum, Júlia foi compondo conforme seus sentimentos e vivências se traduziam em música. “Eu não fazia ideia de que estava criando um álbum. Eu estava tão concentrada em mim, em colocar para fora tudo que eu sentia, que nem pensava nisso. Mas quando percebi, eu já tinha um conjunto de canções que se conectavam”, afirma a compositora.

Kadara transita entre samba, música popular brasileira e experimentações sonoras que reforçam a identidade e a autenticidade da artista. A seleção de arranjos e instrumentação foi conduzida de forma colaborativa com a banda, que é composta majoritariamente por músicos pretos. “Muita coisa foi construída junto. Eu sugeria algumas direções, mas o processo coletivo foi essencial para que cada música ganhasse vida da melhor forma”, explica.

O álbum reúne uma equipe talentosa e diversa sob a liderança de Júlia Deodora, que assume os papeis de cantora, compositora, violonista e produtora musical. A sonoridade do projeto ganha forma com a participação de Cissa do Cavaco no cavaquinho, Eduardo Souza no trombone, Joãozinho Percussa na percussão, Valéria Santos na bateria, Yuri D’Paula no baixo e Jayaram Márcio no violoncelo, além dos vocais de Ana Hilário e Luar. A engenharia de som ficou a cargo de Frederico Mucci, enquanto a gestão de projeto, produção e direção de arte foram conduzidas por Michelle Sá.

A identidade visual e a comunicação do projeto foram cuidadosamente trabalhadas por Denise dos Santos, responsável pela fotografia e filmagem, Josué Gomes, na assessoria de comunicação, e Letícia Bezamat, que assinou o design gráfico. O projeto ainda conta com parcerias da Kuenda, nos brincos, e da Hillaroye, nas tranças.

Canções que contam histórias

O álbum contém 11 faixas que trazem a mensagem do destino ancestral que inspira as composições de KADARA. Entre interlúdios e canções, o álbum faz a sua jornada entre os títulos:

  1. KADARA

  2. Baobá

  3. Caminho D’água (interlúdio)

  4. Nega Mina

  5. Alumiô

  6. Pele Preta

  7. Cheiro de Mar

  8. Amoras Pretas

  9. Voltou a Pé

  10. Futuro Ancestral (feat. Laura Lunda)

  11. Âmbar

Entre as faixas do álbum, algumas se destacam pelo peso emocional e pela força narrativa, como Baobá, que chega chutando a porta. É um afro-popl que fala sobre ancestralidade, resistência e identidade negra. “Ela é um chamado para essa jornada musical, porque é uma afirmação da nossa história e da força que carregamos”, explica Júlia.

Alumiô, é uma das músicas mais carregadas de referências. “Ela foi inspirada em muitas coisas que me atravessam. Tem muito de Vander Lee na forma como a melodia flui, aquele lirismo delicado que ele tinha. Além disso, eu estava lendo Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves, e aquilo me impactou de um jeito muito forte. Eu queria que essa canção trouxesse um pouco dessa sensação de resistência e poesia que o livro me passou”, conta a cantora.

Voltou a Pé foi uma das últimas a entrar no disco. Ela fala sobre a realidade de muitas mulheres pretas e mães solo, que sustentam suas casas, enfrentam desafios diários e, muitas vezes, escondem a dor para proteger os filhos. “Essa música foi inspirada na minha mãe e em tantas outras mulheres que carregam o mundo nas costas sem reclamar”.

Interlúdio – Caminho D’água, Poema Recitado pela Mãe antecede Nega Mina e é um dos momentos mais marcantes do álbum. “Eu pedi para minha mãe me contar uma memória relacionada à água, e juntas transformamos isso em um poema. Ela recita com muita emoção, trazendo uma conexão profunda com nossas raízes”, explica Júlia.

Show com participações especiais com Laura Luanda e Elisa de Sena

A apresentação conta com a participação especial de duas cantoras importantes para a trajetória de Júlia Deodora, Laura Luanda, com quem divide o feat na faixa Futuro Ancestral, e Elisa de Sena, artista por quem Júlia Deodora tem profunda admiração. Ambas se somam ao espetáculo trazendo ainda mais coletividade.

Laura Luanda (Foto: Divulgação)

“Eu conheci a Julia no Cicalt, quando a gente fazia o curso de violão juntas. Eu sou poetisa, então já tinha algumas coisas escritas e aí, em um belo dia, nós estávamos em um processo criativo e compusemos Futuro Ancestral”, ela conta e prossegue:

“Eu tinha um poema que chamava No Meu Axé, que escrevi depois da minha iniciação no candomblé e a Julia foi musicando, trazendo partes da letra pensadas por ela também e fomos dando vida a canção juntas.”

“Vamos fazer uma performance buscando trazer muitas energias boas, essa música traz nossas histórias, nossa ancestralidade começa muito antes da gente, tem o legado de todas que vieram antes de nós. Todo público vai se encantar”, afirma Laura Luanda.

Foto: Divulgação

Elisa de Sena

“Sempre me encantei muito pelo trabalho da Júlia, lembro de cada momento que eu vi ela tocando e cantando. Eu tenho uma admiração grande por ela e pelo seu trabalho. Vai ser muito bom a gente poder dividir o palco juntas cantando músicas do Kadara e composições minhas, vai ser uma troca muito rica. Deixo meu convite para que venham assistir ao show da Julia e presenciar o nosso encontro no palco que vai acontecer pela primeira vez”, afirma Elisa de Sena.

Júlia Deodora conta sua expectativa para o show e faz um convite aos ouvintes: “”Eu sinto que esse álbum é quase uma conversa, um sussurro de histórias e descobertas que quero dividir com quem me ouvir. Espero que as pessoas encontrem um pedaço de si em cada canção”.

KADARA tem o fomento da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura no Edital DESCENTRA 2023 (FUNDO) – Projeto nº  1648/2023.

Serviço

Lançamento do álbum Kadara – Júlia Deodora

Data: 22 de março de 2025 (sexta-feira)

Horário: 19h00

Local: Cine Theatro Brasil – Av. Amazonas, 315 – Centro, Belo Horizonte

Ingressos: Gratuitos, retirados na bilheteria do local ou pela plataforma Eventim

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