Jirau transborda represado pelo Tanque em Santa Maria. Santana tem volume alto passando pelo extravasor, diz morador
Fotos: Reprodução
A vizinha Santa Maria de Itabira, localizada em um vale cortado pelo rio Jirau e cercado por loteamentos e grandes areais à montante sem controle ambiental, está mais uma vez inundada pelas águas da chuva e pela lama arenítica que invadem as ruas da cidade.
Segundo o sargento Jeonides, coordenador dor da Defesa Civil de Santa Maria, caiu sobre a cidade um volume expressivo de chuvas ininterruptas. “Temos alagamentos em diversos pontos da cidade. O nível dos rios Jirau e Tanque subiu de forma significativa”, reporta em mensagem a este site.
De acordo com o Clima Tempo, choveu 65 milímetros (mm) nas últimas 24 horas, situação que pode se repetir neste domingo (9). Mas há a previsão de redução na segunda-feira, embora ainda com volume bastante significativo de 45 mm. Um milímetro representa um litro de chuva acumulado em um metro quadrado.
O coordenador da Defesa Civil disse que ainda não dispõe de informações sobre a situação na zona rurall do município. Entretanto, relatos de moradores dão conta de que a situação é bastante grave, com várias comunidades ilhadas no município.
“Ficamos toda a noite por conta de atender às demandas na cidade”, disse o sargento Jeonides. “Não recebemos ainda (neste domingo, pela manhã) relatos sobre a situação na zona rural. Estamos sem informações, que repassaremos assim que tivermos um balanço.”
As consequências das chuvas (e da incúria humana) na cidade não chegam a ser dramáticas como as ocorridas na madrugada do fatídico domingo de 21 de fevereiro do ano passado.
O triste saldo da “cabeça d’água”, naquela tragédia, foi de seis mortes, 2.476 pessoas atingidas, sendo que 1.085 foram desalojadas de suas casas, segundo informou a Defesa Civil do município.
Mas assim como antes, as chuvas voltam a assustar os moradores, pelos estragos já ocorridos. “As pontes da região central da cidade estão com as estruturas comprometidas”, informou o sargento. “Mas elas ainda não estão com isolamento total.” Deveriam ser imediatamente interditadas, já que há risco de colapso.
“Tivemos alguns desalojados e uma família desabrigada”, contabiliza o coordenador da Defesa Civil.
Máquinas trabalhando
“Estou ouvindo desde cedo o barulho de máquinas fazendo limpeza das ruas. É muita areia que desceu de um loteamento vizinho, como ocorre sempre que chove forte”, diz uma moradora em entrevista a este site.
“Isso virou rotina, vai ser assim durante todo o período chuvoso. A empresa terceirizada, contratada pela Prefeitura, é que está lucrando. Até quando vai ser assim, até março, enquanto houver chuvas? E isso vai se repetir todos os anos?”.
Essa mesma moradora relata que a rede pluvial também está entupida de entulhos e resíduos urbanos. “Não dá para culpar só as chuvas, dizer que é fenômeno natural. Os loteamentos não respeitam a legislação urbana, se é que existe. A cidade está toda enlameada e a população assustada.”
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Santana: volume de água que passa pelo extravasor é imenso
Um outro morador de Santa Maria postou vídeo na rede social narrando o que viu ao passar pela barragem de Santana, neste domingo (9), pela manhã. A estrutura armazena água para o processamento de minério na usina Cauê, da mineradora Vale.
“Estou largando o serviço agora, passando pela barragem de Santana. A descarga de água que está descendo pelo vertedouro nunca vi igual. A barragem está super cheia. É assustador.”
Ainda segundo ele, vários pontos da rodovia que liga Itabira a Santa Maria estão interditados, devido ao deslizamento de terra das encostas e taludes. “A estrada está interditada nos dois sentidos”, relatou. “É mais um domingo muito triste para nós que moramos em Santa Maria.”
Estrutura reforçada
A redação deste site enviou e-mail à assessoria de imprensa da Vale solicitando informações sobre a situação de segurança das barragens em Itabira. Eis a resposta:
“A Vale está acompanhando o cenário de fortes chuvas em Minas Gerais, com foco na segurança de suas barragens. A empresa informa que não houve alteração no nível de emergência em nenhuma de suas estruturas e o monitoramento segue sendo realizado 24h, sete dias por semana, em tempo real, por meio do Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG). As barragens são acompanhadas permanentemente por inspeções em campo, manutenções, radares, estações robóticas e câmeras de vídeo.”
Em encontro com a imprensa, em 16 de novembro, a informação foi que, desde o ano passado, a mineradora vem reforçando a estrutura da barragem de Santana.
“Fizemos a limpeza da parte externa da barragem e agora vamos subir um maciço para aumentar a segurança da estrutura”, informou o gerente de Geotecnia e Hidrogeologia do Complexo de Itabira, Quintiliano Guerra.
“Vamos concretar uma antiga galeria, uma torre de queda d’água que passa por um túnel abaixo da barragem”, acrescentou entre as medidas de reforço da estrutura que, segundo ele, é para suportar um volume maior de chuvas, como as que têm ocorrido nos últimos verões, resultado também das mudanças climáticas.
Que coisa, isto em Santa Maria é um sofrimento anual.