Jerusalém: quando a Direita gosta de ser simplesmente extrema!

Veladimir Romano*

A testemunhar, vamos assistindo ao desenrolar de ações crescentes de abusos, violência cadenciada, estratégias multiplicadoras provocando embaraços infinitos na mesa da Assembleia Geral das Nações Unidas; tudo nas custas inspiradoras do partido Likud, ou quando a Direita representada pelo partido do primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, torra balas em cima das populações da Palestina, ações que boa percentagem do povo israelita não agradece nem vai aceitando.

Muitas manifestações andam provocando acesa divisão no Estado de Abraão quando o povo se divide e considera o mal, desfazendo-se do bem, o incorreto subjugando a justiça, o oportunismo afrontando qualquer realidade menos humana. Só quem acredita numa ingenuidade passando de moda, não previu que tais coisas iriam acontecer com a Direita chegando ao poder, logo aplicando doses massivas de comportamentos extremistas.

Donald Trump no muro das Lamentações, em Jerusalém (Fotos: Reuters e El País)

Com a última visita do presidente Donald Trump, juntando ao panorama cênico dita falcatrua em mudar embaixada para recanto da cidade Jerusalém, atitude conquistadora de adeptos nos países dependentes dos dólares norte-americanos, acorrentados a sistemas democráticos viciados em punhos de ferro e corrupção como as Honduras, Paraguai e Guatemala; somente estes saíram atrás dos EUA num reconhecimento falacioso da capital de Israel ser Jerusalém, coisa que os próprios judeus não aceitam pela força. Com gente colocada no poder como Donald Trump, Benjamim Netanyahu, entre outros carregando a bandeira da ignorância, conflitos premeditados, estarão para durar alimentados pelo ódio e outras tentações.

Décadas e gerações em que populações apenas se preocupam em se aniquilar mutuamente, é antes a dose atrativa que numa discussão profundamente racional nos conduzirá sempre na direção do conflito mais religioso e menos político. É o possível pensamento numa análise fria; pois, a luta nos olhos vistos, pelo tempo fora, demonstra num lado hebreus acreditando nas profecias com dois mil anos e, do outro, adoradores do Islão aclamando al-Buraq [Muro das Lamentações]… pedras tentadoras para ambos os povos.

Sangrenta disputa esta que nos deixa incertezas em quanta importância realmente ao elemento “Deus”; se ele existe, como pode deixar correr tanta atmosfera embrutecida, embriagada nas sombras da disputa secular entre dois povos tendo tudo para serem irmãos da Humanidade, desviados do verdadeiro realismo espiritual, geográfico, social, cultural como histórico. Estão ambas populações jogando momentos significativos com seus ícones deitados ao lixo como desta tirania violenta e guerreira, onde a melhor lenda relicária não sonegue trazer paz, sossego ou altruísmo para que finalmente se imponha tão necessitado entendimento e esse reconstrua suas raízes.

Em Israel, enquanto forças ortodoxas acreditam um dia levantar o chão de Jerusalém para encontrar o Templo de Salomão, mais profundos esconderijos do Gênesis ao Êxodo; o sagrado considerando o árabe, esse empalidece face à sua impotente condição de dominado. Algo que o espírito rebelde dos nômades beduínos, primeiros passageiros dos tempos primitivos quando chamavam Jerusalém de «Yerusshalyim shel zahav» [tal como aqui em hebreu arcaico: “Jerusalém cidade dourada”]. Caso os povos tivessem a dignidade como força positiva e causa, certamente Jerusalém seria lugar de todos e não joguete das prédicas extremistas de Telavive. Depressa o sentido medieval das ruas estreitas e becos floridos das zonas mais antigas desta cidade fossem convite a tomar um bom chá de hortelã-pimenta ou fumando a pipa com aromas silvestres, transformariam numa dádiva na qual então qualquer “Deus” poderia compreender este fenômeno de se pensar na liberdade e existência de todos.

Manifestações lideradas pelo Hamas contra a instalação da embaixada norte-americana em-Jerusalém (Foto: Reuters)

Por onde andaria Donald Trump em 1967 quando a 28 de maio a Brigada Paraquedista 55, comandada pelo coronel Moshe Dayan, tomou de assalto a zona Leste de Jerusalém? Naturalmente teria entendido e procurado conhecer diferenças entre tomar pela força direitos “sagrados”, limitando atos destes sem qualquer solução pacífica acolhida como consciência coletiva. Sonhos e símbolos desta narrativa deveriam ser intocabilidade de um processo cercado por fragilidades demasiadas evidentes para nelas caberem arrogância política, adoção ideológica negativa ou terminologias santificadas em propósitos místicos.

Vê-se desse modo derrotado o caráter árabe, mas pelo centro da questão vai-se a cidade ajustando aos poucos na judaização. Na parte velha de Jerusalém, hábitos bem antigos não faltam; no entanto, deviam ser estratégia quotidiana sobrepondo-se nas decisões causadas pelo fanatismo religioso da qual tanto se aproveitam forças extremistas de face enrugada, mantendo ideias reacionárias como também se encharcam movimentos armados do lado árabe… a autêntica porta aberta à ” nakba” [catástrofe], de nada servindo o épico poema do genial Mahmoud Darwish. Ora, se o próprio Corão reconhece a “Terra Prometida”, Israel e o reino de David e Salomão; nada então caberia no fanatismo destruidor, odioso dos praticantes do Islamismo esquecendo-se dos conselhos do livro sagrado de Maomé.

Vasculhando nossa agenda preciosa de apontamentos, rebuscamos antigas alíneas até encontrar dados históricos e, estes dizendo que efetivamente os primeiros responsáveis judeus incluindo sionistas, eram laicos; tanto quanto ainda hoje, o professor universitário Amnon Raz-Krakotzkin, especialista em História, num artigo publicado recentemente, volta a escrever claro e objetivo quando afirma: «Deus não existe, mas Ele prometeu-nos esta terra».

Israel segue reprimindo e matando palestinos

Afinal, desta patologia desumana que somente provoca absurdos, ações estapafúrdias sobre o futuro destes dois povos, tudo montado em mal-estar como se fosse esta a última condição. De tão religiosos, ainda não decifraram o pecado no qual ambos caíram, criando oceanos secos mas fabricando rios de sangue onde poucos serão inocentes… é o estancamento da vida e a grande perda no sentido criativo. Mas, como compreender que todos estejam renunciando a realidade, aceitando geradores prontos a dificultar fundamentos da natureza histórica, social, cultural, comercial e econômica do Oriente Médio, local onde se resolvem diferenças na ponta do gatilho.

Dos assaltos, expulsões arbitrárias sobre a população árabe, arremesso cego do pensamento extremista ultrapassando princípios estabelecidos no modelo socialista dos “kibutz”, foram amostragem certeira de como se pode construir, vivendo em paz, em parceria com o povo árabe e dois Estados perfeitamente ajustados, surpreendendo o mundo… assim o bem estivesse anulando a omissão, recusando essa escravidão do querer violento alimentando rancores e a paz encontraria seu atalho.

Hebreus e árabes, não nasceram nem nascem obnubilados em dificuldades orientada ao devaneio e fantasia seja ela religiosa ou da interferência política; pelo que se fala, se há um Criador, ele andará faz tempo bastante distraído enquanto homens medíocres se julgando importantes, preferem no pormenor ambicioso das suas vaidades, esquecerem os povos visionando Hitler. Assim, na teomania de uma extrema-direita ir aproveitando carona nas costas da Direita contra a institucionalização fantasista e fanática dos extremistas árabes; a esses, não chega o sublime nem honrado, não se constrói paz ou harmonia de armas nas mãos ou de argumentos inúteis… antes melhor será a chegada do jumento carregando a bandeira da essência divina.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia

 

 

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1 Comentário

  1. É sempre um drama essa questão na Judeia, pois é quase uma total falta de diálogos que acaba provocando todo esse transtorno e parece incontornável.
    Uma pena…

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