Itabira volta para a onda verde neste sábado, mas prefeito sinaliza com a possibilidade de decretar lockdown
Pelo programa Minas (in)Consciente, a partir deste sábado (27), Itabira retorna mais uma vez à onda verde. Não dá para entender o critério para esse retorno, já que os indicadores não são favoráveis ao relaxamento com o avanço da pandemia no município e na região. A mudança de onda pode levar a população à falsa sensação de que o pior já passou, quando é justamente o contrário.
Talvez a explicação esteja no que foi dito pelo governador Romeu Zema (Novo), em março do ano passado, no começo da pandemia, para quem era preferível deixar o vírus se espalhar para se criar a imunidade coletiva, para gáudio do público rebanho.
Medidas mais restritivas
“Os indicadores em Itabira não são favoráveis à flexibilização” disse o prefeito Marco Antônio Lage, nessa quinta-feira (25), no seu pronunciamento semanal pela rede social.
Ele acenou, inclusive, mesmo com Itabira retornando à onda verde, com a possibilidade de ser decretado lockdown, que é a versão mais rígida do distanciamento social e é quando a recomendação se torna obrigatória.
Trata-se de uma decisão do Estado (União, governos estaduais e municipais), que decreta o bloqueio total de um país, estado, ou município para conter o avanço pandêmico.
Com o lockdown, a circulação da população em lugares públicos fica restrita, sendo permitida apenas para necessidades essenciais, como ir à farmácias, supermercados ou hospitais. O descumprimento dessa regra pode acarretar multas e em toque de recolher.
É uma medida mais rigorosa, mas que tem-se revelado necessária, e adotada em muitos países, para desacelerar a propagação do novo coronavírus. Ocorre quando as medidas de isolamento social e de quarentena não são suficientes e novos casos surgem diariamente.
É o caso de Itabira, admitiu o prefeito. Ele também não entende a decisão do Minas (in) Consciente de retornar a microrregião de Itabira para a onda verde. Isso por estar em alta a taxa de ocupação das UTIs, com 15 leitos ocupados de um total de 48 disponíveis.
Desses internados, 12 são pacientes de outras cidades. “Já tivemos com até mais de 80% de ocupação de leitos de UTI em Itabira”, revelou o prefeito em sua live. Atualmente a taxa de ocupação de leitos de UTIS SUS nos dois hospitais está em 52%.
A tendência de aumento da taxa de ocupação tem sido observada nos últimos dias em todo o estado – e Itabira não foge à tendência de possível colapso do sistema de saúde. Segundo o prefeito, cidades mais distantes já vivem esse colapso. “Até cidades mais distantes, como Uberlândia, tem solicitado vagas para internação de pacientes em Itabira”, contou o prefeito em sua live semanal.
Indicadores
Portanto, para o prefeito Marco Antônio Lage, a mudança de onda não é motivo para celebração. “Não podemos ficar felizes diante dos indicadores, do crescente número de óbitos e de pacientes hospitalizados nas UTIs”, disse o primeiro mandatário da cidade, para quem o ingresso na onda verde cria a falsa sensação de tranquilidade que não condiz com a realidade.
No mês de fevereiro o número de novos casos em Itabira saltou de 7.706 para 8.865 novas pessoas contaminadas pelo vírus, com média 50 novos casos por dia no município. Além disso, “todo o Médio Piracicaba continua no vermelho e isso é extremamente preocupante.”, acentuou o prefeito.
Com esse cenário de extrema preocupação, o prefeito decidiu manter o decreto 301/2021, de 29 janeiro, com os mesmos protocolos restritivos da onda amarela, mesmo com Itabira ingressando na onda verde.
“Nosso índice de transmissão do novo coronavírus subiu de 0.84 para 1.11 no mês de fevereiro, com registro de 50 novos casos diários”, discorreu. Isso significa que para cada grupo de 100 pessoas contaminadas, outras 111 serão também contaminadas. Saiba mais no site Itabira no Monitoramento da Covid-19
“Se nada mudar, nossa rede de atendimento pode entrar em colapso a qualquer momento, inclusive com a crescente demanda regional. E se acontecer, pode ocorrer de deixar de atender pacientes de Itabira em estado grave, como tem ocorrido em várias partes do país”, advertiu o prefeito.
Fechamento regional
Ao acenar com a possibilidade de lockdown, Marco Antônio admite que isso teria de ocorrer regionalmente – e esse foi um tema de discussão da reunião ordinária da Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba (Amepi), nessa quinta-feira (25), em João Monlevade.
Na reunião, foi criado o Comitê Regional de Combate à Covid-19, formado pelos chefes de Executivo e secretários municipais de Saúde. A primeira reunião do comitê será nesta segunda-feira (1).
“Vamos definir protocolos comuns mais restritivos, inclusive com possibilidade de decretar lockdown. Mas Itabira não pode fechar tudo se as outras cidades vizinhas não fizerem o mesmo”, ponderou. “É fundamental termos medidas assertivas para salvar vidas.”
Lockdown nacional
Com o agravamento da pandemia, com o país registrando 1.582 novos casos em 24 horas nessa quinta-feira, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis alerta para o risco de ter um colapso nacional do sistema de saúde e defende a necessidade de se ter um lockdown nacional imediato de 21 dias.
De acordo com ele, após o feriado prolongado de Carnaval está tudo explodindo ao mesmo tempo por todo o país, com falta de leitos de UTI e também de medicamentos. “A consequência do colapso de saúde é o colapso funerário”, disse o neurocientista em entrevista ao jornal O Globo.
Cético, porém, Nicolelis não acredita que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) irá decretar lockdown nacional. “Não há um comando nacional para o enfrentamento à pandemia. A consequência é que o sistema de saúde em muitas cidades, inclusive nas capitais, irá entrar em colapso ao mesmo tempo.”
Sem medidas mais rigorosas, o país corre o risco de dobrar o número de mortos por Covid-19 e suas variantes que estão se espalhando pelo país e o mundo. “A consequência da perda de meio milhão de pessoas não dá para imaginar. Sem gente não se tem economia, ninguém consome”, afirma o neurocientista.
Pois é justamente para se fazer frente a esse prognostico sombrio que Nicolelis considera ser necessário o lockdown nacional de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas e fechamento dos aeroportos.
Segundo ele, é preciso também ampliar a cobertura vacinal, usando múltiplas vacinas. “Não tem jeitinho na pandemia, numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico”, ele classifica.