Itabira vai homenagear Margarida Silva Costa, ex-presidente do Combem, dando o seu nome à futura Casa da Cidadania
Foto: Acervo da família
Carlos Cruz
A Câmara Municipal de Itabira, por seus vereadores, aprovou nessa terça-feira (23), projeto de lei de autoria do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que cria e denomina Casa de Cidadania Margarida Silva Costa, o futuro centro de convivência e articulação das entidades da sociedade civil organizada de Itabira.
Segundo o prefeito, a Casa de Cidadania servirá de palco para que essas entidades discutam, avaliem e acompanhem as políticas públicas do município, inclusive as que estão sendo propostas para o transporte coletivo, que tem agora novas bases contratuais – e que precisam ser acompanhadas e fiscalizadas pelo usuário e pela sociedade civil organizada.
“Todas as mudanças (decorrentes das políticas públicas municipais) serão acompanhadas pelas associações da sociedade civil organizada permanentemente, seja monitorando o transporte coletivo, opinando o tempo todo sobre os serviços públicos. É para isso que vamos construir a Casa da Cidadania, que vai ser instalada no antigo Corpo de Bombeiros, entre a Prefeitura e a Câmara”, explicou o prefeito em entrevista a este site.
Para o vereador José Júlio “do Combem” Rodrigues (PP), que conviveu com dona Margarida por muitos anos, a homenagem é apropriada e merecida. “Dona Margarida é exemplo a ser seguido, pela sua história de dedicação aos menores que precisavam de apoio para conseguir uma profissão e seguir na vida com dignidade”, reconheceu o parlamentar itabirano, que é graduado em História, ex-assistido e ex-presidente do Conselho Municipal do Bem-Estar do Menor.
“Ela também atuou em várias instituições como voluntária e deixou um legado de dedicação ao próximo, sempre fazendo o bem a outras pessoas. Dar o nome de Margarida Silva Costa à Casa de Cidadania é sinal de que o seu legado permanecerá vivo entre nós”, endossou o vereador e admirador, a escolha do nome da homenageada para este espaço projetado para ser de convivência social, democrática e participativa.
Além do Combem, ela teve atuações marcantes à frente também da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), e atuou na Pastoral do Menor, da Diocese de Itabira.
A ativista social Margarida Silva Costa faleceu em 2 de agosto de 2022, aos 101 anos.
Centenário
Por meio da lei municipal 5.098, de 18 de março de 2019, a Câmara Municipal de Itabira decidiu que 2020 seria o Ano Municipal do Centenário de Margarida Silva Costa, nascida em Itabira, em 10 de junho de 1920 – um reconhecimento do município por toda a sua dedicação aos mais vulneráveis socialmente.
“Trata-se de uma justa homenagem pela sua ação em favor dos menos favorecidos”, acentuou o vereador Heraldo Noronha (PTB), presidente da Câmara, durante a sessão em sua homenagem, na ocasião da aprovação do projeto de lei de seu centenário.
Margarida Silva Costa foi também vanguardista no mundo do trabalho, tendo sido a primeira mulher a ingressar no quadro de empregados da então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD, aos 25 anos, no primeiro dia de setembro de 1945.
Em sua longa vida, ela sempre preferiu ensinar a pescar a dar o peixe. Foi assim a sua atuação à frente do Combem, entidade que ajudou a fundar em Itabira, em 1976. Para ela, o importante era capacitar o menor para que pudesse seguir em frente com as suas próprias pernas.
Dona Margarida sempre lutou pela inclusão social, tendo vários exemplos de jovens que por ela foram assistidos – e que ingressaram no mercado de trabalho com a profissão que aprendeu nas oficinas do Combem e com o estímulo para continuar estudando.
Entre esses alunos está o vereador José Júlio Rodrigues (PP), que fez moção de aplauso em sua homenagem, por ocasião de seu centenário, tendo produzido um vídeo com passagens de dona Margarida pelo Combem, exibido durante sessão na Câmara Municipal.
Datilografia
Em entrevista a este repórter, dona Margarida contou que para ingressar nos quadros de empregados da Vale foi fundamental ter aprendido datilografia, um diferencial importante naquela época. Por muitos anos ela foi a única mulher que sabia escrever à máquina na mineradora, uma técnica que até então só era dominada pelos homens.
Na entrevista ela contou que, naquela época em que lugar de mulher não era onde ela quisesse estar, mas em casa cuidando dos filhos, teria sido criticada por pretender “abandonar” o lar para ingressar no mercado de trabalho.
Pois ela cumpriu a dupla jornada com total dedicação. Casada com Tomaz da Costa Filho, dessa união nasceram os seus seis filhos.
Trabalhou por 30 anos na Vale, passando pela Estrada de Ferro Vitória a Minas, pela administração do Hospital Carlos Chagas e, por último, na antiga Superintendência das Minas, onde se aposentou, em 1975.