Itabira nas eleições de 2026: pesquisa revela cenário fragmentado e risco de mais uma vez não eleger representantes locais
Fotos: Carlos Cruz
Levantamento da DataMG aponta liderança de André Viana e Bernardo Mucida, respectivamente para deputados federal e estadual, mas também registra forte presença de candidatos de fora e alto índice de indecisos
O humor do eleitorado começa a se revelar a menos de um ano das eleições gerais de 2026, conforme indica uma pesquisa extemporânea realizada pela DataMG nos dias 9 e 10 de outubro com 303 moradores de Itabira.
Com margem de erro de 5,6% e intervalo de confiança de 95%, o levantamento foi feito presencialmente, seguindo parâmetros do IBGE e do TSE.
Embora ainda estejam distantes as convenções partidárias que definirão as candidaturas, os números já revelam tendências, indecisões e um alerta histórico: a pulverização de votos pode, mais uma vez, deixar Itabira sem representantes na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Intenções de voto para deputado federal

Na pesquisa espontânea, o sindicalista André Viana aparece com 4,6% das intenções de voto, seguido pelo deputado Nikolas Ferreira com 3%, à frente do prefeito Marco Antônio Lage com 2,%, do ex-vereador Neidson Freitas com 1,3% e do vice-prefeito Marco Antônio Gomes com 1,0% das intenções de voto.

Já na pesquisa estimulada, André Viana lidera com 20%. O dado que chama atenção, no entanto, é o desempenho de nomes de fora da cidade: o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira aparece com 17%, superando o vice-prefeito Marco Antônio Gomes, que registra 9%.
Esse fenômeno, o voto em candidatos sem vínculo direto com o município, como é o caso de Nikolas Ferreira, não é novo.
Nas eleições proporcionais anteriores, mais de 60% dos votos de Itabira foram destinados a nomes de fora, o que compromete a capacidade de articulação e aglutinação para a eleição de um político local que defenda os interesses do município em Brasília.

Intenções de voto para deputado estadual
No cenário estadual, a fragmentação também é evidente. O ex-vereador e ex-deputado Bernardo Mucida lidera com 14,1% na pesquisa estimulada.
Em seguida vêm a primeira-dama Raquell Guimarães (7,9%), o ex-secretário Gabriel Quintão (6,9%) e o empresário Pedro “Coma Bem” Fortunato (6,9%).
Os demais nomes aparecem com percentuais diluídos, reforçando o risco de dispersão do voto.
Outro dado preocupante é o alto número de indecisos, reflexo do fato de que as candidaturas ainda não foram oficialmente apresentadas – e também pelo baixo interesse do eleitorado pelas eleições proporcionais..
Na espontânea para deputado estadual, 78,9% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder. Para deputado federal, esse índice é de 77,2%.
Esses indicadores são relevantes, pois nas eleições proporcionais anteriores houve grande número de votos brancos e nulos, o que contribuiu para a ausência de representantes locais na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
O risco da pulverização e o exemplo histórico

Historicamente, Itabira tem enfrentado dificuldades para eleger seus próprios representantes. A última vez que o município conseguiu eleger dois nomes foi em 1998, quando, sob articulação do então bispo Dom Mário Gurgel, os ex-prefeitos Li Guerra e Luiz Menezes foram eleitos respectivamente deputado federal e estadual, cumprindo mandato entre 1999 e 2003.
Desde então, a cidade tem vivido um vácuo de representação, embora tenha elegido os suplentes que depois tomaram posse na na ALMG o ex-prefeito Ronaldo Magalhães e o ex-vereador Bernardo Mucida,
Esse vácuo é preocupante pela falta de representação de Itabira, mesmo sendo um município estratégico para Minas Gerais, que enfrenta inúmeros problemas estruturais, especialmente por sua dependência da mineração e pela urgência de discutir alternativas de desenvolvimento sustentável.
Mais do que nunca, Itabira precisa de uma liderança forte, com trânsito político, capacidade de diálogo e raízes locais.
Alguém que compreenda os desafios da cidade minerada, que transite entre diferentes segmentos sociais, no meio sindical, no campo religioso e junto aos movimentos sociais – e que tenha respaldo popular para representar os interesses do município.

Sem xenofobia
A escolha por um candidato local não é xenofobia, é estratégia. É garantir que os recursos, projetos e decisões que passam por Brasília e Belo Horizonte tenham um olhar voltado para Itabira.
Sem uma articulação ampla e estratégica, reduzindo o número de candidaturas locais e concentrando apoios em nomes com reais chances de vitória, o município corre o risco de repetir a ausência de representantes nas esferas legislativas.
Em uma conjuntura em que questões como a exaustão mineral, o ressarcimento histórico das dívidas da mineração, além da busca por alternativas econômicas, sociais e ambientais de sustentabilidade exigem força política e recursos federais e estaduais, com isso acontecendo, mais uma vez, será um erro difícil de reparar.
Avaliação da gestão municipal: desgaste marca segundo mandato
Além de medir as intenções de voto para os cargos legislativos, a pesquisa DataMG também aferiu o humor do eleitorado itabirano em relação ao segundo mandato do prefeito Marco Antônio Lage (PSB).
Reeleito em 2024 com mais de 70% dos votos válidos, o melhor desempenho da história política de Itabira, Lage enfrenta agora um cenário de desgaste, refletido nos números da pesquisa.
A queda na popularidade é atribuída a medidas impopulares adotadas desde o início do novo mandato, como cortes de despesas, corte de ganhos indiretos dos servidores municipais e a suspensão de parte dos subsídios ao transporte coletivo.
Somam-se a isso problemas urbanos recorrentes, como buracos nas ruas, falta de limpeza pública e ausência de investimentos em infraestrutura – e a crônica e histórica crise hídrica, o que não é responsabilidade dessa administração, mas que também reflete aumentando a insatisfação popular.
Dados da pesquisa
Questionados sobre os principais problemas da cidade, 25% dos entrevistados apontaram a falta de água como o maior desafio.
Em seguida, aparecem saúde (12%), gestão pública (4%), buracos nas vias (4%), falta de limpeza (3%), segurança (3%) e desemprego (3%).
Na avaliação da administração municipal, 38% consideram o governo ótimo ou bom, enquanto 30% classificam como regular.
Já a avaliação negativa, que vem a ser a soma de ruim e péssimo, chega a 37%.
A curva de aprovação mostra queda ao longo dos últimos meses: em abril, a gestão era aprovada por 60% dos entrevistados, enquanto em outubro, esse índice caiu para 53%, registra a pesquisa DataMG.
Apesar da tendência de desgaste, o prefeito ainda mantém maioria de aprovação: 57% dos entrevistados disseram aprovar sua forma de governar, contra 43% que desaprovam.
Os dados indicam que, apesar das críticas crescentes, Marco Antônio Lage ainda conserva um capital político relevante, o que pode ser decisivo na articulação para as eleições de 2026.
Embora já tenha declarado que não será candidato a nenhum cargo e que pretende concluir seu segundo mandato até 2028, Lage pode assumir um papel estratégico como articulador político.
A exemplo do que fez o ex-bispo Dom Mário Gurgel nas eleições proporcionais de 1998, o prefeito tem potencial para unir e aglutinar forças em torno de candidaturas com maior recall e viabilidade eleitoral, contribuindo para o fortalecimento da representação política local nas urnas em 4 de outubro de 2026.
Raio X
A pesquisa DataMG revela um raio-x do momento político e administrativo de Itabira. O prefeito tem pouco mais de três anos para reverter esse quadro.
Mas, mas para isso, será necessário cumprir as promessas de campanha e retomar a eficiência da máquina pública, especialmente nos serviços essenciais como coleta de resíduos urbanos, zeladoria com operações tapa-buracos e outras demandas que afetam diretamente o cotidiano da população.
Também seguem pendentes compromissos assumidos desde o primeiro mandato, como a revitalização do centro histórico, incluindo o projeto de retirada da rede elétrica exposta para instalação subterrânea, além da restauração do casarão do antigo Hospital Nossa Senhora das Dores.
São iniciativas que, além de valorizar o patrimônio cultural e histórico da cidade, podem contribuir para a retomada da confiança popular e fortalecer a imagem da gestão municipal.
Da mesma forma, ainda há tempo para que os possíveis candidatos por Itabira articulem alianças e construam apoios. Mas é preciso ter maturidade política e autocrítica para avaliar com realismo suas chances.
Caso não haja viabilidade eleitoral, que tenham a humildade e a estratégia de retirar candidaturas, apoiando nomes com maior potencial de vitória.
Essa deverua ser uma medida essencial, pautada pelo interesse coletivo e não por projetos pessoais, para evitar que Itabira volte a ficar sem representantes na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
No entanto, diante das divisões partidárias e ideológicas, a multiplicidade de candidaturas locais parece inevitável – o que reforça o risco de dispersão dos votos.
Calendário eleitoral 2026
Segundo o TSE, o calendário preliminar para as eleições de 2026 inclui as seguintes etapas: o prazo final para filiação partidária é 6 de abril. A propaganda partidária começa em 6 de julho.
Já as convenções partidárias ocorrem entre 20 de julho e 5 de agosto. O registro de candidaturas deve ser feito até 15 de agosto.
A propaganda eleitoral inicia em 16 de agosto, com o primeiro turno sendo realizado em 4 de outubro e o segundo turno, no caso para os cargos majoritários, em 25 de outubro de 2026.
Legalidade da divulgação da pesquisa
A pesquisa DataMG, realizada fora do período oficial de campanha, está em conformidade com a legislação eleitoral.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o registro de pesquisas só é obrigatório a partir de 1º de janeiro do ano da eleição – e apenas quando houver intenção de divulgação pública.
Portanto, a publicação desse levantamento é legal e transparente.
Confira a íntegra da pesquisa aqui: https://viladeutopia.com.br/wp-content/uploads/2025/10/Pesquisa-Itabira-Data-MG.pdf










Cenário ruim. O mais palatável é o da direita, André Viana.