“Itabira é a esposa velha que a Vale trocou pela esposa nova do Pará e aqui vai deixar buracos, barragens, poeira e doenças”, compara o presidente da Câmara, Carlinhos “Sacolão”

Foto: Carlos Cruz

Vereadores criticam investimentos da Vale em novas plantas de beneficiamento de rejeito no estado do Pará, enquanto Itabira continua sem alternativas à mineração

Na reunião ordinária da Câmara Municipal de Itabira, nessa terça-feira (25), vereadores voltaram a criticar duramente a mineradora Vale que tem feito investimentos em novas plantas de beneficiamento de rejeitos no estado do Pará.

Isso enquanto em Itabira investe migalhas, sem um investimento estrutural que possa mudar as condições históricas da monoindústria extrativista de minério de ferro, explorada em larga escala desde a fundação da Vale em 2042.

“A Vale trocou a esposa velha (Itabira), aqui onde o minério está acabando, pela esposa nova no Pará, deixando barragens, buracos e poeira. O resultado é que Itabira é uma cidade doente, é só ver o número (exagerado) de farmácias que existem na cidade”, comparou o presidente da Câmara, vereador Carlos “Sacolão” Henrique Silva Filho (Solidariedade).

Presente de grego

O vereador Bernardo Rosa deu início às críticas, acompanhado por outros edis itabiranos. Segundo ele, a mineradora tem dado apenas “presentes de grego” para Itabira, como foram as praças e áreas de lazer das condicionantes da Licença de Operação Corretiva (LOC), do Distrito Ferrífero de Itabira, LOC, enquanto para outras cidades do Pará investe na instalação de indústrias de beneficiamento de rejeito.

Agora, ele diz, vem a Vale propor a criação de mais parques com a eliminação de passagens de nível da ferrovia, mudando o seu trajeto, uma condicionante pela antecipação pela União da concessão da Ferrovia Vitória a Minas por mais 40 anos.

“A Vale quer fazer mais um parque em Itabira, que vai trazer mais ônus para o município”, critica o vereador, que é da base governista, esquecendo-se que a proposta de parques lineares a serem instalados no trecho da ferrovia que será desativado é do prefeito Marco Antônio Lage (PSB).

Esse trecho ferroviário a ser desativado começa na curva da antiga Vila 105, passa pela Vila Amélia, Alto Pereira, até o encontro com o ramal ferroviário que vem da mina Conceição.

“A Vale se tonrou o que é hoje graças a Itabira”

Diferentemente do que ocorreu na legislatura passada, quando havia uma aguerrida “bancada da Vale”, ao ponto de um vereador perguntar se havia prova científica de que a poeira que encobre a cidade é mesmo proveniente das minas da Vale, nesta o tom tem sido, até aqui, de críticas à mineradora.

E nessa crítica, o presidente da Câmara tem se revelado o mais contundente ao abordar a exaustão mineral e a falta de contrapartidas para o município. “A empresa se tornou o que é hoje graças a Itabira. As contrapartidas da Vale são irrelevantes se comparadas ao que ela daqui retirou, crescendo nas costas do município.”

Carlinhos “Sacolão” disse ainda que a Vale está se preparando para abandonar a cidade após anos de exploração mineral. Ele destacou que a empresa rebaixou o lençol freático (na verdade, o aquífero é que foi rebaixado, e que é muito mais profundo), deixando a cidade coberta de partículas de minério. “A população de Itabira está doente com tanta poeira”, ressaltou.

O presidente da Câmara garantiu que a Casa não se furtará a exigir da Vale o que é de direito do município. Ele pediu uma reflexão sobre a importância de eleger deputados locais, ao abordar os problemas enfrentados por Itabira, incluindo a barragem (de Itabiruçu), que é dez vezes maior que a estrutura que rompeu em Brumadinho, um crime ambiental e homicídio coletivo até hoje impune.

“Não adianta enviar a esta Casa representante que não conhece a nossa realidade, que fica em salas com ar condicionado. Eles passam por lavagem cerebral”, criticou. “Trabalhei na Vale por nove anos, sei do que estou falando”, afirmou o presidente da Câmara, ao se referir aos gerentes da mineradora que ficam defendendo o indefensável.

“Não tenham dúvida que esta Câmara não mais se furtará ao dever de exigir da Vale o que é de direito”, comprometeu-se o presidente, que espera ver a Vale mudar de posltura, sendo socialmente responsável, investindo em Itabira e prestando esclarecimentos à população.

 

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