Irresponsabilidade de empresário, e falta de fiscalização de desaterro, levam ao fechamento preventivo da CEF em Itabira

Fotos: Carlos Cruz

A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) de Itabira recomendou à agência local da Caixa Econômica Federal (CEF), a exemplo do que fez em relação ao Banco do Brasil (BB), a interrupção do atendimento ao público, pelo risco de deslizamento de talude e ruptura de estruturas acima do lote desaterrado pelo empresário Manoel Henrique Andrade, na avenida Daniel Jardim de Grisolia.

Segundo moradores vizinhos, o serviço de desaterro foi realizado pelo próprio empresário, geralmente à noite, fugindo da fiscalização de Obras da Prefeitura, que nada viu, deixando de vistoriar o serviço, como era o seu dever para com o público. “Esse empresário ficava aqui à noite escavando e retirando terra com o seu ‘brinquedinho’, que certamente ele não teve na infância”, conta uma moradora vizinha.

Pelo risco que o desaterro representa para as agências bancárias e, pelo menos para duas residências acima, que também foram interditadas, a recomendação da Defesa Civil é para que o atendimento na CEF, assim como no BB, só retorne após a realização de obras de contenção no lote.

Isso deve incluir, possivelmente, a construção de um muro atirantado, por conta e ônus do empresário que acha que tudo pode ser feito na cidade a seu bel prazer e interesse.

Laudo técnico

Corte de talude sem critério técnico, e executado de forma irresponsável, provoca a interdição de agências bancárias em Itabira (Foto: Claudio Oliveira/BX Topografia e Drone)

A recomendação da Defesa Civil à CEF teve por base laudo técnico realizado sob encomenda do BB, que atestou a instabilidade do imóvel, ocasionado justamente pelo desaterro irresponsável e criminoso no lote abaixo. As movimentações de terra no terreno particular foram interditadas pela Defesa Civil no dia 4 de janeiro e, desde então, estão paralisadas.

O laudo técnico da empresa BRG Engenharia, após analisar as condições no terreno abaixo da agência, constatou a “grave situação encontrada, com a ocorrência de sinistro provocado pelo excesso de chuvas no local, onde os danos foram potencialmente elevados devida à ação temerária e irresponsável em obra em execução nos limites confrontantes com a edificação do Banco do Brasil na cidade de Itabira.”

“Recomendamos por segurança dos usuários e do meio que seja temporariamente impedido trânsito e ou a permanência de pessoas na edificação, até que se tenha convicção da inexistência de rompimento e deslizamento do solo ou, então, que se executem obras de reforço capazes de assegurar a estabilidade de taludes”, é o que frisa o laudo técnico encaminhado pela gerência do BB ao Compdec.

O risco, aponta o laudo, é que ocorra o deslocamento do solo de apoio das fundações da edificação. Por isso, o monitoramento deve ser continuado, até verificar se não ocorreram “movimentações, deformações, aumento de trincas e fissuras, ou mesmo o surgimento de novas manifestações patológicas”.

Por fim, o laudo recomenda ainda que se mantenha “todo material que colapsou da forma em que se encontra até que seja concluído os estudos e determinadas as soluções a serem adotadas”.

Isso porque “não há como garantir a estabilidade (da edificação do BB), caso seja removido o material que está mobilizado sem a verificação da estabilidade do entorno, pois pode estar contribuindo para a sua manutenção”.

Ou seja, somente após as chuvas de março fechando o verão é que as obras de contenção serão realizadas no lote da avenida Daniel Jardim de Grisolia pelo tresloucado empresário. E se a estabilidade da agência do BB está em risco, assim também está a CEF, que fica abaixo.

Agência local do Banco do Brasil permanece interditada por tempo indeterminado

Atendimento

Para minimizar os transtornos aos usuários das duas agências, que estão tendo também prejuízos financeiros e que certamente serão cobrados judicialmente, a Prefeitura de Itabira disponibilizou à agência do BB espaço da Casa da Cidadania Margarida Silva Costa, na praça Acrísio de Alvarenga.

Deve também disponibilizar espaço público à CEF para atender aos clientes, tendo sido oferecidas opções de imóveis, que estão sendo analisadas pela gerência do banco.

Na pandemia da Covid-19, isso já ocorreu. Foi quando a Prefeitura cedeu à agência bancária a quadra do ginásio poliesportivo Maestro Silvério Faustino. Isso para que o atendimento ocorresse sem aglomerações, com o distanciamento que a situação requeria.

Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, “todas as medidas cabíveis já estão sendo adotadas para resguardar o município de eventuais prejuízos, responsabilizar culpados e garantir a segurança estrutural naquela região tão logo haja condições favoráveis para as intervenções necessárias”. Ou seja, só depois das chuvas.

Beco do Caixão

Obra com desaterro no Beco do Caixão também preocupa e pode colocar em risco os tirantes do muro de contenção que fica abaixo

Embora a Defesa Civil tenha vistoriado, atestando que não há risco de deslizamento, é também motivo de preocupação outra obra no centro histórico de Itabira – e que está sendo realizada também com desaterro em período chuvoso, no Beco do Caixão.

Para a sua execução, foram removidas antigas residências, assim como grande volume de terra, chegando-se até o limite da rua Tiradentes. Restaram apenas as fachadas de dois imóveis que pertenceram ao ex-prefeito Luiz Menezes.

É que além de colocar em risco a estabilidade da rua Tiradentes, o desaterro sendo realizado nesse período chuvoso pode também desestabilizar o muro atirantado que segura o Beco do Caixão, construído no início da década de 1980 pela administração do ex-prefeito Jairo Magalhães Alves (1978-82).

Muro atirantado foi construído no início da década de 1980 para assegurar a estabilidade do Beco do Caixão

“A Defesa Civil vai continuar acompanhando as operações no local”, informa a assessoria de imprensa da Prefeitura. Mas só isso não basta.

Segundo um engenheiro civil ouvido pela reportagem na condição do anonimato, é preciso também fazer sondagens para verificar até que ponto a infiltração de água da chuva, com a remoção de solo, não comprometeu a estabilidade dos tirantes do muro, que avançam sob o terreno.

“São esses tirantes que asseguram a estabilidade do muro”, explica o engenheiro com larga experiência em obras – e que se preocupa também com o adensamento populacional no centro histórico de Itabira.

“Com tantas áreas para expansão urbana, empresários ainda insistem em construir no centro histórico da cidade”, ele critica e lamenta.

Leia mais aqui:

Corte de talude em lote da avenida Daniel Grisolia é classificado como irresponsável e leva à interdição da agência do Banco do Brasil

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2 Comentários

  1. Nesta cidade tudo é festa, somente festa e nada mais do que festa!
    Um corte de barranco deste no Centro da cidade, o pessoal da Prefeitura, SAAE e Itaurb passando ali a toda hora e ninguém vê a coisa?
    Já sei, é tudo festa…

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