Irmãos Albernaz, trezentos anos de Itabira
Mauro Andrade Moura
Cônego Raimundo Trindade, o primeiro genealogista a tratar das famílias que colonizaram o território do Quadrilátero Ferrífero e depois ampliado ao que conhecemos como o estado de Minas Gerais, cita em sua obra que a descoberta do ouro em Itabira ocorreu em 1705 com a vinda do Padre Manoel do Rosário e João Teixeira Ramos, que construíram uma pequena capela na data mencionada.
Era uma ermida e hoje é a igrejinha do Rosário dos Pretos de Itabira, único bem tombado na cidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN). Sobre a ampliação e reforma da igrejinha do Rosário leia aqui.
Dessa primeira chegada de colonizadores só temos essa pequena informação do nosso sempre lembrado e querido cônego Trindade.
Já em 1720, consta a vinda da bandeira capitaneada pelos irmãos Francisco e Salvador de Farias Albernaz, oriundos de Taubaté – SP, tendo vindo com eles algumas famílias presentes ainda em Itabira e região.
Entretanto, ainda não foram encontrados outros registros a respeito dessa expedição, lista dos participantes e seu trajeto. Obviamente que vieram pelo Caminho Velho até entroncarem com o Caminho Novo do Ouro, aberto por Garcia Rodrigues Paes Leme, filho do Governador das Esmeraldas.
Por esse trajeto seguiram até Morro do Pilar, retornaram para algum trecho de Itambé do Mato Dentro e dali visualizaram o Pico de Itabira (conhecido atualmente como Pico do Cauê).
A família que deixou maior descendência e marcação da presença neste território era formada por Elias Corrêa de Alvarenga e sua mulher Mécias Lemes de Andrade, acompanhados dos filhos Margarida Correia Lemes; Andreza Correia de Alvarenga e José Correa de Alvarenga.
Margarida Correia Lemes casou-se com João Francisco de Bastos, oriundo de Cabeceira de Bastos, Norte de Portugal. Deste casal descendem os Andrades e os Lages que conhecemos atualmente em Itabira.
Andreza Correia de Alvarenga casou-se com o bandeirante Salvador Faria de Albernaz e foram residir em Santa Rita Durão. Albernaz teve um triste fim ao ser preso pela santa inquisição católica.
E José Correa de Alvarenga que casou-se com Anastácia de Souza.
Interessante notar que na eleição de 15 de novembro deste ano tivemos três descendentes de Elias Corrêa de Alvarenga e Mécias Lemes de Andrade disputando o cargo de prefeito de Itabira, tendo vencido o mais novo deles: Marco Antônio Lage (PSB).
Os outros candidatos foram o atual prefeito Ronaldo Lage Magalhães (PTB) e Alexandre “Banana” Martins da Costa (PT). Uma coincidência histórica no ano do tricentenário da chegada dos irmãos Albernaz a Itabira, quando ocorreu a colonização efetiva dessa histórica cidade com a chegada das primeiras famílias.
O ocaso do acaso ficou como uma comemoração dessa chegança familiar de trezentos anos atrás por via indireta, nessas eleições que marcaram o tricentenário da vinda dos irmãos Albernaz para estas paragens matodentrenses.
Até nos idos de 1980, ou próximo, existia a avenida Irmãos Albernaz, em memória dos bandeirantes, que caíram no mero esquecimento. Essa avenida teve o nome trocado por um político de pouca envergadura de meados do século XX. E hoje se chama avenida João Soares da Silva.
Triste constatação do descaso com e memória histórica da cidade. O povo e a administração local tratam a sua memória com desdém, sendo que no mínimo uma das salas do empobrecido Museu de Itabira deveria ter o nome de “Irmãos Albernaz”.
Isso sem contar que que nada foi feito para registrar esse grande acontecimento, que neste ano completou 300 anos, na ainda mal contada história de Itabira do Mato Dentro.
Excelente, Mauro!
Grato pela leitura.
Parabéns ao Mauro Moura pela excelente reportagem sobre essa importante parte da história de Itabira, negligenciada por nossos políticos. A avenida que liga o Centro da cidade ao bairro Campestre se chamava, outrora, Irmãos Albernaz, quando o então prefeito Wilson do Carmo Soares retirou essa denominação e prestigiou o seu pai, que, ao que eu saiba, nada fez por Itabira para merecer tamanha honraria, a não ser ter nascido aqui, como eu e outros simples 120 mil habitantes dessa cidade. Acrescento ainda que nossos políticos se negam reconhecer a importância de outros tantos itabiranos que tiveram destaque na sociedade local, a exemplo de Ninico Amâncio, autor da música do nosso hino e Vitalina de São José, autora da letra, mesmo que haja controvérsias em relação a ele ter sido plagiado da letra do hino da cidade de Conceição do Mato Dentro. Outros exemplos que tiveram destaque nacional e não são lembrados; Duduca de Moraes e o Barão de Drumond, ambos nascidos em Santa Maria de Itabira quando esta era um distrito de Itabira, portanto, itabiranos como nós, assim como o são os moradores de Ipoema e Senhora do Carmo. Fica o registro!
Muito bem, Alírio.
Infelizmente, a memória aqui é sempre curta e só buscam pelo mais recente.
Dizem ser uma cidade de grande cultura, entretanto, esquecem-se do básico, do cuidado com a manutenção dos arquivos e da história local em si.
Grato pela leitura e comentário,
Mauro
Retificando: o Barão de Drummond é nascido na atual Nova Era, que também foi distrito de Itabira quando se chamava São José da Lagoa.
Maravilhoso resgate da nossa história!!
É fundamental que existam pessoas para fazer essa costura dos fatos. É assim que a gente entende e toca melhor a vida e a cultura na qual nós inserimos. Muito obrigada, Mauro.
Muito bem, Márcia.
Gostava que o nosso herói do Sertão, Jerónimo, seu pai ainda estivesse por cá a nos brindar com suas crónicas.
Creio que ele gostaria de saber dessa história que nos leva aos nossos antepassados.
Grato pela leitura e comentário,
Mauro
Adorei a matéria….. Deixo mais um protesto sobre o descaso com a historia da nossa querida Itabira… Não só para nomes de ruas e salas mas também para um acervo para pesquisa de importancia local, estadual e federal….