Iepha reconhece luthier de Itabira como patrimônio cultural de MG: a arte de Cássio Martins Cruz

Fotos: Acervo do artista

Reconhecimento oficial valoriza a tradição da luteria em Minas e fortalece a identidade cultural de Itabira

Por Catarina Maria Souza Cruz*

Em Itabira, Minas Gerais, a tradição da luteria ganha destaque por meio da trajetória de José Martins Cruz, o saudoso “Zé Cruz”, e de seu filho, Luiz Cássio Martins Cruz. O reconhecimento concedido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) ao luthier Cássio Martins reforça a importância desse ofício para a identidade cultural da cidade.

O título de patrimônio cultural foi atribuído em 2020, na categoria dos “Fazedores de Viola de Minas Gerais”, consagrando o trabalho de Cássio como parte vital da cultura mineira. A iniciativa valoriza não apenas a música caipira, mas também a transmissão intergeracional de saberes artesanais, garantindo visibilidade institucional e incentivos à preservação.

Reconhecimento: declaração de patrimônio cultural

Esse reconhecimento se insere em um contexto mais amplo de apoio à cultura local, fortalecendo o papel da luteria como expressão artística e histórica. Em Itabira, terra natal de Carlos Drummond de Andrade, o ofício tradicional da construção de instrumentos musicais dialoga com a memória literária do poeta, ampliando o potencial da cidade como destino de turismo cultural.

Ao unir música, poesia e patrimônio, Itabira oferece aos visitantes uma experiência singular, conectando a arte popular da viola ao universo poético drummondiano. Essa convergência valoriza as raízes culturais do município e reforça sua vocação artística.

Violas e violões fabricados em Itabira

Herança cultural

Zé Cruz nasceu em 3 de outubro de 1927, na Fazenda Barbosa, zona rural de Itabira, e faleceu em 7 de agosto de 2021. Deixou um legado de cidadão íntegro e honrado, reconhecido como artista itabirano.

Iniciou-se na profissão como marceneiro e artesão, criando móveis e altares. Na década de 1970, começou a fabricar guitarras e contrabaixos sob encomenda “de uns cabeludos do bairro Pará”, como dizia com humor, em sua marcenaria.

O luthier Cássio Martins com Chitãozinho e Xororó

Foi nos anos 1980 que passou a se dedicar à luteria, produzindo violas e violões que conquistaram fama regional. Aos 90 anos, retomou o ofício “mais por diversão do que por lucro”, com a maestria de quem moldou a madeira por uma vida inteira.

Seu filho, Cássio Martins Cruz, atua como luthier desde 1983, destacando-se na produção de violões, violas, guitarras e baixolões.

Exposições

Participação nos festivais de inverno de Itabira

Participou dos Festivais de Inverno de Itabira, sendo que uma das edições, um de seus violões foi levado por Hermeto Paschoal. E, também, participou do Festival Literário de Viola Caipira, durante a 3ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira), em outubro de 2023.

Cássio levou seu trabalho a exposições em Mariana/MG, à feira internacional de artesanato no Expominas, e a diversos eventos culturais e acadêmicos. Em muitos deles, além de expor seus instrumentos, apresentou o ofício da luteria a estudantes de música, compartilhando saberes e experiências.

Patrimônio compartilhado

O luthier Cássio Martins com Bruna da Viola, em Ipoema

O reconhecimento de Cássio Martins Cruz pelo Iepha-MG insere-se em uma rede de valorização do patrimônio imaterial mineiro, conectando tradição familiar, políticas públicas e investimento cultural institucional.

Essa valorização mostra como o legado dos luthiers se fortalece dentro das políticas de preservação, fazendo da luteria de Itabira mais que uma arte local: um patrimônio compartilhado.

*Catarina Maria Souza Cruz é historiadora, professora aposentada.

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3 Comentários

  1. Carlos e Catarina. Boa tarde. Compartilho da alegria de vocês em ter Cássio Martins Cruz reconhecido pelo IEPHA como LUTHIER – Patrimônio Cultural de MG. Seu pai, Carlos, José Cruz foi o grande incentivador e idealizador do ofício. Parabéns, sucesso. É muito importante para nossa cidade ter um artista reconhecido pelo IEPHA.

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