Governo dos Estados Unidos endossa críticas ao golpismo de Bolsonaro e de seus apoiadores civis e militares com ameaça de sanções econômicas
Fotos: Reprodução/Veja Presidência da República e Jim Watson/AFP
Se o presidente Jair Bolsonaro (PL) um dia imaginou que poderia contar com o apoio dos Estados Unidos, contumaz financiador e fiador de golpes militares na América Latina, para assegurar a sua permanência no poder mesmo não se reelegendo nas urnas, ele pode cair do cavalo – quer dizer, da moto em uma de suas patéticas motociatas em plena campanha eleitoral antecipada.
É que, segundo revelou o jornalista Thomas Traumann na revista Veja, nessa quinta-feira (9), o Departamento de Estado norte-americano endossou o alerta do ex-diplomata Scott Hamilton, que teme uma ruptura institucional no Brasil, caso o presidente concretize a sua articulação já em curso para dar um autogolpe (ainda no poder), caso perca a eleição de outubro, o que pode ocorrer ainda no primeiro turno.
O alerta do ex-diplomata norte-americano foi publico em 29 de abril no jornal O Globo. No artigo, Hamilton pede, enfaticamente, que o governo Joe Biden avise ao presidente que qualquer tentativa de golpe não terá o seu endosso. E caso isso aconteça, que a resposta seja diplomática e também por meio de sanções comerciais ao Brasil.
A mesma advertência, chamando a atenção para articulação do golpe bolsonarista, foi feita pela revista Reuters, de grande prestígio no mercado financeiro internacional. Em publicação de 5 de maio, revelou que em encontro no passado, o diretor da CIA, o serviço secreto norte-americano, Willian Burns, havia pedido aos ministros generais Augusto Heleno e Luiz Ramos que parecem de colocar em dúvida, assim como tem feito enfaticamente o presidente, a lisura e a transparência das urnas eletrônicas e o próprio sistema eleitoral brasileiro.
Segundo observou a revista Veja, Bolsonaro ignorou o pedido. Tanto que participou da manifestação pró-golpe, em 7 de setembro, que pediu intervenção no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas se não repercutiu no governo brasileiro, o artigo de Hamilton teve forte impacto nos Estados Unidos. Cópias do artigo foram distribuídas por diplomatas norte-americanos a executivos de multinacionais com negócios no Brasil.
Segundo o jornalista da Veja, ele ouviu de um desses executivos que teria compreendido o gesto do governo de Biden como um apoio explícito aos alertas do ex-diretor da CIA. Isso por entender que uma contestação de Bolsonaro ao resultado das eleições, à semelhança do que fez Donald Trump em 2020, “poderia tornar o Brasil numa nova Rússia, com os investimentos fugindo às pressas para evitar sofrerem sanções”.
O jornalista lembra ainda que, a advertência do governo norte-americano acontece, ironicamente, quando a relação dos dois governos vive o seu melhor momento. “Apesar das bravatas de Bolsonaro, o Brasil tem votado na maioria das vezes com os EUA e a Ucrânia e contra a Rússia no conselho de Segurança da ONU.”
Ainda de acordo com a reportagem, o ex-diplomata disse em entrevista à National Public Radio que por duas vezes alertou o então embaixador norte-americano em Brasília, Todd Chapman, para que tomasse uma atitude diante das ameaças golpistas de Bolsonaro. Em vão.
Mas a resposta veio agora: eventual golpe (se vier com as eleições perdidas já não mais será autogolpe) não será tolerado pelo governo norte-americano. E o Brasil sofrerá as consequências com sanções econômicas.