Gestor do parque do Cipó vê mais riscos de incêndios florestais pela ação de fazendeiros e sitiantes do que pelo descuido de turistas

Incêndio florestal, provocado por fogos de artíficio, consumiu 240 hectares de florestas e pastagens no povoado da Serra dos Alves, em outubro de 2017 (Foto: Lucas Fonseca/IEF)

Prefeitura de Itabira abre aceiros nos arredores do povoado, no entorno das unidades de conservação e planeja formar brigadistas para atuação em todo o município

Embora com atraso, já que a estiagem está próxima do fim, com expectativa de chuvas para outubro/novembro, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente mobilizou uma força-tarefa para abrir aceiros nas divisas das unidades de conservação de Itabira, com serviços realizados no povoado da Serra dos Alves, na proteção também do Parque Natural Municipal Alto do Rio Tanque.

A força-tarefa é resultado da reunião virtual realizada em 17 de setembro com gestores do Parque Estadual do Limoeiro e do Parque Nacional do Cipó, que fazem divisa com Serra dos Alves, que também teve representantes dos debates que sucederam.

Nos arredores do povoado foram abertos 2 mil metros quadrados de aceiros, incluindo o entorno do parque Alto do Rio Tanque – e também nas margens das trilhas que levam às cachoeiras Dois Córregos (mal apelidada de Coca-Cola) e do Mirante.

Aceiros também foram abertos no entorno do Parque Natural Municipal do Intelecto. Já para a proteção do Parque Natural Municipal Ribeirão São José e da Reserva Biológica da Mata do Bispo não foi preciso abrir aceiros, uma vez que isso é feito pela Cenibra, empresa de reflorestamento.

“Os aceiros servem de estrutura auxiliar para eventuais combates a incêndios florestais”, explica o secretário municipal de Meio Ambiente, Denes Lott.

Mas nem sempre essa abertura de faixa contínua é suficiente para conter uma grande queimada, como se viu recentemente na fazenda São Lourenço, no Posto Agropecuário.

Força-tarefa da Prefeitura abriu aceiros no povoado da Serra dos Alves e também no Parque Municipal Alto do Rio Tanque (Fotos: Divulgação/Ascom/PMI)

Incêndio florestal

Na reunião virtual foram debatidas as vulnerabilidades e o risco de ocorrer um grande incêndio florestal na vizinhança do povoado da Serra dos Alves, a exemplo do que aconteceu entre 12 e 14 de outubro de 2017, quando se pensava que o pior já tinha passado.

Portanto, mesmo que as medidas de prevenção, como a construção de aceiros, devem ocorrer já no fim das chuvas e no início da estiagem, o trabalho da força-tarefa abrindo faixas de aceiros pode prevenir e impedir que a história se repita como tragédia.

Em 2017, o incêndio florestal que assustou Serra dos Alves foi provocado, segundo foi constatado, por fogos de artifício que caíram no mato seco durante uma celebração religiosa em homenagem à Nossa Senhora Aparecida.  O fogo se alastrou rapidamente, atingindo mais de 240 hectares.

Só foi debelado três dias depois com apoio dos brigadistas do parque do Limoeiro, além de voluntários da própria comunidade e da força tarefa do Instituto Estadual de Florestas (IEF), estabelecida em Curvelo.

Participaram do combate também equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma vez que o incêndio atingiu terras adquiridas pela mineradora Vale – e que já deveriam ter sido incorporadas à porção oriental do Parque Nacional do Cipó.

“No terceiro dia do incêndio, conseguimos apoio do helicóptero do IEF, que estava combatendo outro incêndio no parque estadual Serra do Papagaio, no sul de Minas”, contou à reportagem deste site o gerente do parque do Limoeiro, Alex Amaral.

Leia mais aqui: incendio florestal na serra dos alves foi provocado por fogos de artificios

Abertura de aceiro a caminho da cachoeira Dois Córregos, na Serra dos Alves

Riscos recorrentes

Com o tempo já se esquentando, a preocupação é também com a movimentação de turistas.

O morador e empresário Carlos “Cabeça” Andrade, que preside o Instituto Bromélia, da Serra dos Alves, mostrou-se preocupado com os acampamentos em feriados prolongados na cachoeira Alta Vista, em Senhora do Carmo – e também no canyon dos Marques, na Serra dos Alves.

É que ao fazer churrasco e acender fogueira, uma brasa mal apagada ou uma faísca que se espalha pelo mato seco pode provocar incêndio florestal de grande proporção. Carlos “Cabeça” pede que seja proibido acampar e acender fogueiras à beira de rios e cachoeiras em todo o município de Itabira.

Mas para isso, lembrou o gestor Edward Elias, do ICMBio, é preciso ter uma legislação municipal que coíba acampar e acender fogueiras nessas localidades. “Jaboticatubas tem decreto municipal proibindo o uso de fogo em áreas próximas de cachoeiras e rios. Isso ajuda muito na atuação da Polícia Ambiental”, recomendou.

Elias acentuou, porém, que a grande ameaça não está nos turistas, mas nos próprios moradores que ainda conservam a cultura da coivara, que consiste em fazer queimadas no fim da estiagem para preparar terreno para cultivo com a chegada das chuvas.

“No (parque do) Cipó não temos ocorrências de incêndios provocados por turistas. A totalidade é provocada por agricultores e criadores de gado que põem fogo na pastagem de forma intencional e que muitas vezes foge do controle”, afirmou Edward Elias,

Brigadistas

Segundo Denes Lott, o município de Itabira está desaparelhado e não tem efetivos treinados em número suficiente para combater incêndio florestal de grande proporção.

“Os bombeiros militares contam com apenas 24 efetivos para atender toda a região”, disse ele que, juntamente com a Defesa Civil e a Itaurb planejam treinar brigadistas, inclusive com voluntários na cidade e nos povoados.

Foi o que fizeram as prefeituras de Santana do Riacho e Nova União, municípios vizinhos de Itabira.

“O ICMBio pode dar treinamento a esses brigadistas. Recentemente fizemos essa capacitação também com funcionários da prefeitura de Morro do Pilar”, contou Edward Elias.

Para isso, as prefeituras entram com aportes de equipamentos e local para guardar o material de combate a incêndios florestais e queimadas.  “Com a formação de brigadistas é possível criar uma rede de proteção entre municípios vizinhos.”

Outra proposta é para que sejam desenvolvidas campanhas permanentes junto aos moradores dos povoados, sítios e fazendas sobre a importância de preservar as unidades conservação e a biodiversidade da região.

“É preciso alertar os moradores para que façam também aceiros próximos de suas residências para a salvaguarda da vida das pessoas e de animais domésticos”, recomendou.

 

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