Ficção Americana, um filme jazz

Foto:Divulgação/
MGM 

Daniel Cruz Fonseca*

Assisti ao filme Ficção Americana e posso dizer que é o mais gostoso deste Oscar.

A história gira em torno de um professor universitário de literatura americana que é também escritor de livros e anda frustrado com a maneira que o mercado editorial enxerga pessoas negras dentro de um mesmo espectro de obras.

E assim toma uma decisão de escrever algo repleto de clichés como crítica. Porém, a coisa não sai como ele espera e isso gera situações diferentes.

O filme é conduzido como uma música de jazz. Enquanto algo acontece no plano principal em um tom e ritmo engraçado, temos um drama familiar e individual em subtramas que ditam outro som.

A estética mais simples, e sem muitos jogos de câmera, contrastam com um roteiro cheio de inversões. E, assim, o desconforto fica confortável.

É um feelgood movie, ou seja, você se sente bem ao assistir e muito provavelmente terminará com vontade de recomendar a alguém.

Mas, também é um filme com cena de puro sarcasmo e desconforto, infestado de críticas ao racismo estrutural que finge ouvir vozes negras. Justamente esses dois lados que tornam o filme especial.

Portanto, a escolha da trilha sonora não poderia ser melhor: jazz. E o nome do personagem principal é uma clara referência. O diretor sabe o que está fazendo.

A discussão principal é bastante interessante inclusive. Esperamos que autores negros falem sobre temas de negros, discriminação, guetos, escravidão.

Mas, a experiência de ser negro com certeza não é limitada a isso ou ao que brancos como eu pensam que é.

Então, as obras de autores negros deveriam ser acolhidas dentro da sua imensa variedade e não só desses clichês citados.

Até pode se dizer que o Oscar indicar esse filme é uma autocritica, já que é uma premiação conhecida por indicar filmes negros somente dentro de um determinado perfil.

Outro tema interessante do filme está nas relações pessoais, como imitamos nossos pais, como excluímos pessoas do nosso convívio as empurrando para longe por termos medo de nos mostrarmos sem máscaras.

Enfim, aproveite que o filme está disponível no streaming (Primevideo) e assista. Vale a pena.

*Daniel Cruz Fonseca é advogado, mestre em Direito nas relações econômicas e sociais, crítico de arte e cinéfilo, escritor e poeta, autor dos livros “Nuvens Reais” e “Alma Riscada”.

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