Ex-policial revela em livro como a Polícia Militar é “treinada” para matar

Livro-testemunho de ex-policial expõe crise moral nas PMs

Fotos: Divulgação

Lançamento desvenda como oficiais de alto escalão operam esquemas de corrupção, lucram com redes de subornos e perpetuam a imoralidade dentre os novatos por meio do abuso de poder

A morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, na quarta-feira (20), em São Paulo, reacendeu o debate sobre a violência policial no Brasil. Dados apontam que, em 2024, a Polícia Militar de São Paulo já matou mais de 474 pessoas, incluindo mais de 30 adolescentes.

Esses números alarmantes revelam um padrão de truculência que atravessa décadas e reflete a estrutura violenta das corporações policiais, muitas vezes treinadas para atuar com extrema repressão.

No livro Oficiais do Crime – Como funciona a corrupção estrutural e sistêmica na elite da PM do Rio, escrito pelo Sargento Silva em coautoria com o jornalista investigativo Sérgio Ramalho, as raízes dessa violência são exploradas em profundidade, expondo como práticas abusivas são moldadas desde a formação dos policiais e reforçadas por redes de corrupção dentro das corporações.

Testemunho real de um ex-policial que detalha o que viu e ouviu durante os anos a serviço da Polícia Militar, o livro Oficiais do Crime, lançamento da Matrix Editora, reúne revelações sobre os esquemas corruptos conduzidos por oficiais de altas patentes e que desmoralizam uma instituição vital para a segurança pública brasileira.

Em coautoria com o jornalista investigativo Sérgio Ramalho, ganhador dos prêmios Vladimir Herzog e Esso, o Sargento Silva apresenta uma profunda imersão nas entranhas da PM. A partir das ilegalidades cometidas no Rio de Janeiro, eles ilustram o que acontece em corporações de todo o país.

Silva, que opta pelo anonimato por questões de segurança, traz à tona denúncias e relatos vivenciados por ele e por colegas de farda. Para garantir a proteção de todos os envolvidos, o livro traz alterados nomes, datas e locais.

Ainda assim, os episódios narrados na obra são verídicos e expõem um cenário alarmante de corrupção institucionalizada.

Capa do livro Oficiais do Crime

Exemplos devastadores

O título faz alusão aos oficiais de alta patente que são o maior exemplo de desrespeito às leis. Vários deles, mesmo condenados pela justiça, continuam a receber seus salários, quando não são promovidos.

Existem diversos casos nacionalmente conhecidos e amplamente divulgados pela mídia dos que cometeram os mais diversos crimes, muitos deles gravíssimos, e que até hoje não tiveram seus processos de exclusão instaurados ou concluídos.

Do outro, lado, os praças (policiais de baixo escalão), são sumariamente colocados para fora da corporação ao menor deslize.

O livro apresenta exemplos devastadores dos abusos cometidos e mostra como a “doutrinação para o mal” começa logo na formação dos policiais, com a criação de um ambiente de extrema rigidez e obediência cega.

Desde os primeiros dias na academia, os alunos são submetidos a extenuantes sessões de exercícios físicos, como flexões e abdominais, usadas frequentemente como forma de punição para qualquer falha percebida.

“Praças trabalham doze, catorze horas em pé, muitas vezes sem alimentação, água ou qualquer pausa para descanso. Já os cavalos e cachorros da corporação só podem trabalhar até seis horas por dia e são alimentados de quatro em quatro horas”, diz um dos trechos da obra.

Os autores expõem uma rede de subornos dentro da própria formação, em que cadetes são obrigados a pagar quantias em dinheiro ou oferecer presentes caros para conseguir folgas ou dispensas.

Ao longo das páginas, fica evidente como esse ciclo infinito de coação molda os futuros oficiais, já imersos em um sistema que valoriza a lealdade aos superiores e a manutenção de privilégios, acima da ética e do cumprimento das leis.

Dentre as atividades ilegais apontadas estão o envolvimento de oficiais de alta patente com a exploração de máquinas caça-níqueis, a distribuição clandestina de serviços de internet e TV por assinatura e a garantia de segurança de figuras criminosas.

Há também descrições de práticas misóginas e de abuso de poder, como a imposição para que policiais mulheres participem de orgias organizadas como “ritos de iniciação”.

O livro mergulha nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que, segundo Silva, tornaram-se verdadeiros territórios de corrupção. A Coordenadoria de Polícia Ostensiva é apresentada como um batalhão a serviço do crime organizado, enquanto o corporativismo entre os oficiais corruptos é destacado como a raiz de muitos problemas no órgão.

O título evidencia o contraste gritante entre a excelente condição de vida dos marginais protegidos por esses esquemas e as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos policiais honestos.

Oficiais do Crime é um alerta contundente para a sociedade. Ao romper o silêncio, o Sargento Silva joga luz sobre a degradação moral em setores que deveriam zelar pela ordem.

Uma leitura que reforça a necessidade do constante debate sobre a ética na segurança pública, questiona o papel fundamental de uma instituição bicentenária e enfatiza a urgência de uma reforma completa na estrutura da Polícia Militar.

Ficha técnica  

Livro: Oficiais do Crime – Como funciona a corrupção estrutural e sistêmica na elite da PM do Rio

Autoria: Sargento Silva e Sérgio Ramalho

Editora: Matrix Editora

ISBN: 978-65-5616-506-6

Páginas: 208

Preço: R$ 52,00

Onde encontrar: Matrix Editora, Amazon e livrarias físicas

Sobre os autores

Sérgio Ramalho

Sérgio Ramalho – Jornalista especializado em reportagens investigativas, Administração Pública, Direitos Humanos e Segurança Pública.

Em 25 anos de carreira, recebeu os prêmios Vladimir Herzog, Esso, Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Latino americano de Periodismo de Investigación (IPYS), Tim Lopes, Barbosa Lima Sobrinho (Embratel).

É colaborador do programa Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Sargento Silva – Ex-policial que trabalhou como policial militar no Rio de Janeiro e, por questão de segurança, optou pelo anonimato.

Sobre a Matrix Editora

Apostar em novos talentos, formatos e leitores. Essa é a marca da Matrix Editora, desde a sua fundação em 1999. A Matrix é hoje uma das mais respeitadas editoras do país com 1.050 títulos publicados e oito novos lançamentos todos os meses.

A editora se especializou em livros de não-ficção, como biografias e livros-reportagem, além de obras de negócios, motivacionais e livros infantis. Os títulos editados pela Matrix são distribuídos para livrarias de todo o Brasil e, também, são comercializados no site http://www.matrixeditora.com.br.

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