Europa compulsiva cumpre seu calendário eleitoral

Veladimir Romano*

Últimas semanas de setembro agitadas pelas atividades eleitorais, ocuparam a Rússia escolhendo nova presidência [mais uma vez Vladimir Putin, reeleito] ocupando três dias a vida dos votantes.

Depois teve a Alemanha decidindo nova liderança após o comando carismático e pragmático da chanceler Angela Merkel ao longo de 16 anos à frente de governos estáveis passando por provas decisivas, corajosas como igualmente comprometedoras, resistiram ao desgaste.

Igualmente Portugal acordou no domingo eleitoral correndo atrás de decisões locais na seleção de novas assembleias municipais.

O espetáculo político foi demais reagindo a entrada do outono com dias solarengos e castanhas assadas aromatizando a calçada. Porém, nem isso animou os votantes continuamente afastados da festa democrática subindo em flecha.

O que se observou foi uma assustadora abstenção, falsificando o ato eleitoral: quase 50% se fazem esquecidos por várias razões merecendo estudo acurado e atenção dedicada mas que a covardia, desleixo e falso desprezo de uns quantos responsáveis não querem debater onde se inclui a imprensa escrita e audiovisual.

Enquanto na Alemanha tudo ficou equilibrado e nada se repetirá, partidos terão agora em causa nacional de organizarem suas forças em torno do interesse unitário e não individual, certamente tendo pela frente uma coligação dos social-democratas e verdes.

Deve ter apoio também da esquerda radical onde 47 partidos debateram uma Alemanha voltada ao futuro mais interessada nos desfavorecidos, imigração, meio ambiente, criação de emprego e solidariedade para com a dívida europeia.

Com votação distribuída em leque, com 14% dos eleitores com idades entre 18/30 anos, ficou mais perto a política reformista de se concretizar.

A promessa é de reformas com distribuição mais justa aos que ganham menos, abrindo possibilidades de também participar em crescimento econômico e maior solidariedade de parceria com restantes membros da União. É sem dúvida possiblidade de melhoramento das relações [necessárias] com a Rússia.

Por outro lado, Portugal, no seu cantinho atlântico, viu a liderança do Partido Socialista cair na prefeitura e o sonho possível de novo candidato a governante de ponta [Fernando Medina], desfeito pelas forças unidas da direita conservadora [Carlos Moedas, ex-comissário europeu, novo prefeito prometendo transportes públicos de Lisboa “gratuitos”].

Não é sem razão que os portugueses são bem conhecidos na Europa como o “povo suicida”. Das reformas urbanas com muito melodrama pelo meio, os votantes se cansaram para agora escolher a pior ideia de sempre…

votar ao contrário onde nem os independentes vão ter algum dia oportunidade de mostrar capacidades administrativas ao nível autárquico. Aqui, nesta zona, impera a lei do caranguejo: ora anda um passo à frente, em outras, prefere aplicar seus passos dobrando a parada, mas andando para trás.

De 20 partidos concorrendo para prefeituras, assembleias e juntas, com pouca faísca e tudo quase na mesma não sendo casos aqui ou ali de menor conta num país do faz de conta sem desejo qualquer de verdadeiro sentido evolutivo, determinação, certeza, correção da justiça social.

No país, problemas sérios continuam afetando a vida de milhões de pessoas mas levando a classe dirigente tudo numa boa dose semântica, aumentando níveis de fantasia política. De ver como o Chega avança em áreas pouco comuns a partidos desta natureza neofascista, comparando com a recente votação alemã onde o AfD neonazi caiu novamente desde as últimas eleições federais.

Em Portugal, seguindo perfil dos tempos do Estado Novo quando a ditadura fixou a nação bicéfala: Lisboa e Porto e “o resto é paisagem”.
Estando há quase 50 anos do 25 de Abril, novo panorama bicéfalo organizado pelo sistema democrático está em curso.  O restante continua certamente sendo “paisagem”.

Depois das eleições, mudando ou não seus órgãos e lideranças, problemas como habitação, escola, ambiente, estacionamentos [veículos ocupando a via pública], taxas, impostos, integração e, particularmente uma pesada máquina burocrática ineficaz, continuará até aos próximos capítulos numa democracia muito medíocre que pouco ou nada quer aprender com outros parceiros, estes sim, olhando sempre ao futuro cumprindo com seus programas.

Talvez a diferença seja essa quando em Portugal vinculado fica relevante desinteresse dos eleitores sempre agitando fasquias altas de abstenção. Mas na Alemanha, com votações sempre ultrapassando a casa dos 80% a participação é expressiva.

No caso de Portugal, a abstenção diz muito do não se quer debater na nação dos lusitanos… Esperamos pelos próximos capítulos até ao acontecimento da legislativa parlamentar.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano

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1 Comentário

  1. Essas eleições autárquicas foram uma tragédia para a esquerda portuguesa.
    Fica aquela mocinha do BE dos discursos infindos que não leva a lugar algum.
    E o camarada Jerónimo de Sousa, como já disse antes, deveria pedir licença e sair do cenário político por conta do seu discurso pré-histórico.

    Nessas eleições, sinceramente, a esquerda portuguesa só perdeu!

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